Ibovespa Futuro cai 1% e dólar encosta nos R$ 3,92 com recado da Câmara ao governo e temores com economia global

SÃO PAULO – Após o movimento de recuperação da véspera com ajuste e alívio no exterior, o Ibovespa Futuro abre a sessão desta quarta-feira em baixa, com o mercado voltando a repercutir os temores com a Reforma da Previdência no Brasil e de desaceleração da economia global que abala as bolsas mundiais. Com isso, o […]

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após o movimento de recuperação da véspera com ajuste e alívio no exterior, o Ibovespa Futuro abre a sessão desta quarta-feira em baixa, com o mercado voltando a repercutir os temores com a Reforma da Previdência no Brasil e de desaceleração da economia global que abala as bolsas mundiais. Com isso, o contrato futuro do Ibovespa com vencimento em abril registrava queda às 9h08 (horário de Brasília) de 1,09%, a 94.115 pontos, enquanto o dólar comercial avança 1,34%, a R$ 3,9184 na venda. Já o dólar futuro avança 0,92%, a R$ 3,913. 

O noticiário sobre Reforma volta a preocupar após a Câmara, em votação relâmpago, impor derrota ao governo de Jair Bolsonaro, aprovando com mais de 400 votos emenda que diminui a margem de manobra do governo com o orçamento. A votação repercutiu como um recado da Câmara ao governo sobre a postura de não negociar com partidos. 

Já no exterior, se ontem as principais bolsas mundiais registraram uma sessão de alívio, o pregão desta quarta é de queda com os investidores preocupados com os sinais de enfraquecimento da economia global após a inversão da curva de juros dos Treasuries e novos indicadores decepcionantes. No primeiro bimestre, o lucro de grandes empresas industriais da China sofreu queda anual de 14,1%, bem maior do que a redução de 1,9% vista em dezembro. 

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Vale destacar que, amanhã, funcionários de alto escalão dos governos da China e dos Estados Unidos iniciam uma nova rodada de discussões comerciais em Pequim. Na semana que vem, o diálogo sino-americano vai se transferir para Washington. 

Investidores também se mantêm cautelosos desde que, na última sexta-feira (22), o rendimento da T-bill de 3 meses superou o da T-note de 10 anos, invertendo parte da curva de juros dos Treasuries e sinalizando maior probabilidade de recessão nos EUA. Recentes dados fracos de manufatura de economias desenvolvidas também alimentaram preocupações.

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PEC do Orçamento e preocupação com Previdência

As preocupações com a Reforma da Previdência são renovadas após a Câmara dos Deputados, em votação relâmpago, impor uma derrota ao governo Jair Bolsonaro ao aprovar a PEC do Orçamento Impositivo. Tanto no primeiro quanto no segundo turno, houve placar expressivo. Na primeira votação foram 448 votos a favor, e 453 na segunda.

O Orçamento Impositivo significa que o governo terá de executar obrigatoriamente as despesas aprovadas pelo Legislativo. Atualmente, como o Orçamento é apenas autorizativo, a equipe econômica tem liberdade para redefinir algumas despesas. A proposta, porém, também obriga o governo a aplicar 1% da receita corrente líquida em emendas coletivas.

A medida amplia poder do Congresso e reduz o do governo na administração do orçamento é vista como um revés para o governo Bolsonaro, que enfrenta embate com presidente da Câmara e outros parlamentares, inclusive da base aliada.

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Antes da votação, Rodrigo Maia disse que medida não era retaliação. “Acho que é o poder legislativo reafirmando as suas atribuições, e uma atribuição mais importante do legislativo é o orçamento”, disse o presidente da Câmara dos Deputados.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, este foi um recado ao governo, em reação à postura de Bolsonaro de não negociar com partidos. 

Cronograma da Previdência na CCJ

Em meio ao impasse sobre a Reforma, o projeto da Previdência será votadaoa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara até 17 de abril, disse na noite desta terça-feira (26) o presidente da comissão, deputado Felipe Francischini (PSL-PR). Acompanhado de deputados e líderes do partido, ele reuniu-se por uma hora e meia com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, para definir o posicionamento da legenda.

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O presidente da CCJ disse que o relator da reforma da Previdência na comissão deve sair ainda esta semana. Ele não indicou se o deputado será do PSL, apenas disse que está trabalhando com diversos nomes. “Estamos construindo o relator em conjunto com o ministro Paulo Guedes e sua equipe, o ministro [da Casa Civil] Onyx [Lorenzoni] e com nossas lideranças do Governo na Casa. Acredito que terei boa notícia ainda esta semana. Estamos vendo o timing do relator. Estamos estudando alguns nomes”, disse.

Francischini justificou a decisão de Paulo Guedes de não comparecer à comissão enquanto não houver um relator escolhido para análise do projeto na CCJ. “O que o ministro entende é que é importante que haja um relator designado até a ida dele à comissão até para que ele esclareça algumas dúvidas do relator. Acho que é um ponto com bastante discernimento, e estamos avaliando essa questão”, disse.

Sobre a reivindicação de líderes de 13 partidos para a exclusão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e da aposentadoria rural do texto em troca do apoio à reforma, a líder do Governo no Congresso Nacional, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), disse ter considerado a notícia positiva.

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Segundo a deputada, diversos pontos podem ser retirados da proposta, desde que a economia final em dez anos fique em R$ 1 trilhão. A proposta foi enviada ao Congresso com economia prevista de que R$ 1,17 trilhão em dez anos, incluindo a reforma da Previdência dos militares. “Não podemos abrir mão do R$ 1 trilhão. Essa é a espinha dorsal. A gente não pode ter uma Previdência corcunda. Ela tem de ser ereta”.

Agenda econômica

O Tesouro Nacional divulga o Relatório Mensal da Dívida Pública às 10h. Às 10h30, Luis Felipe Vital, coordenador-geral de operações da dívida pública, comenta os resultados. As divulgações do dia ainda incluem dados de confiança do consumidor e crédito.

Já os EUA divulgam às 9h30 a balança comercial de janeiro e às 11:30 os estoques de petróleo até 22 de março.

Noticiário corporativo

A Câmara dos Deputados concluiu a votação de projeto que permite controle de aéreas por estrangeiros e proposta vai ao Senado. O argumento do governo é que a ampliação do capital estrangeiro no setor aéreo permitirá o aumento da competição, a desconcentração do mercado doméstico e o aumento da quantidade de cidades e rotas atendidas.

Em destaque na agenda de resultados, a Guararapes, controladora da rede varejista Riachuelo, registrou um lucro líquido de R$ 1,012 bilhão no quarto trimestre do ano passado, representando uma expansão de 3,1 vezes ante o lucro líquido de R$ 327 milhões registrado no mesmo período de 2017. No acumulado do ano, o lucro líquido somou R$ 1,235 bilhão, cifra 116,7% superior à registrada em 2017. A empresa informou que, retirando os efeitos não recorrentes, o lucro líquido teria crescido 58,9% no quarto trimestre em comparação ao mesmo intervalo de 2017, totalizando R$ 274,5 milhões.

Já a Oi, em recuperação judicial, registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 3,359 bilhões no quarto trimestre de 2018, montante 65,7% maior do que no mesmo período de 2017, quando as perdas foram de R$ 2,027 bilhões. O resultado líquido permaneceu no vermelho devido à queda no faturamento e ao impairment (baixa contábil) de ativos.

A Vale divulga resultados do quarto trimestre após fechamento dos mercados depois de informar, na véspera, aumento de 8,2% na base anual na produção de minério de ferro do trimestre e de 0,7% nas vendas. 

(Com Agência Estado, Agência Brasil e Bloomberg)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.