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Ibovespa fecha em queda de 1,71% e passa a ter perdas em 2022 com Mercadante no BNDES: por que anúncio assustou tanto o mercado?

Investidores temem, com a indicação, fim dos desinvestimentos, aumento dos gastos e revisão da Lei das Estatais

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 1,71% nesta terça-feira (13), aos 103.539 pontos, e agora acumula queda de 1,22% no ano. O principal índice da Bolsa brasileira recuou e se descolou do que é visto no exterior após o anuncio feito pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de que Aloizio Mercadante irá ocupar a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir do próximo ano. Lula também reforçou sua contrariedade a privatizações.

Além de pesar no Ibovespa (na máxima do dia, o índice chegou a subir 1,3%), a nomeação também fez o dólar virar para alta, fechando o dia com ganho de 0,07% frente ao real, a R$ 5,314 na compra e a R$ 5,315 na venda  – isso apesar de o DXY, que mede a força da moeda americana frente a outras divisas de países desenvolvidos, ter caído 1,07%, aos 104.01 pontos.

Na curva de juros, os DIs para 2024 ganharam oito pontos-base, indo a 13,98%, e os para 2025, 24 pontos, a 13,65%. Os contratos para 2027 foram a 13,33%, com mais 22 pontos.

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O nome do presidente da Fundação Perseu Abramo, segundo especialistas,  foi mal recebido por um série de motivos.

“A nomeação do Mercadante para o BNDES não agradou. Ao meu ver, o mercado esperava pela nomeação de mais nomes alinhados ao mercado financeiro para as pautas econômicas, visando políticas mais liberais”, comenta Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital.

Para Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus, Mercadante é ruim porque se posiciona contra privatizações. O BNDES, nos últimos anos, fez uma série de desinvestimentos, devolvendo parte dos lucros destes ao Governo Federal. Agora, a mensagem que é passada é que o banco estatal voltará a gastar mais, mesmo em um mau momento fiscal.

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“Precisamos de um plano de redução da dívida pública para baratear o custo do financiamento do governo e o que escutamos vai no sentido contrário, de ampliar os gastos e os custos. É por isso que há pessimismo do mercado”, contextualiza Levy.

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, explica que a indicação de Mercadante ao BNDES coloca em xeque outra questão vista com bons olhos pelo mercado: a Lei das Estatais. “A indicação sinaliza que teremos modificações na legislação, uma vez que o Mercadante, com a letra em vigor, não consegue ocupar o cargo”, explica.

A Lei das Estatais proíbe a indicação de pessoas que atuaram em processos decisórios de partidos políticos ou em campanhas eleitorais nos últimos 36 meses ao Conselho de Administração e para a diretoria dessas empresas. Mercadante, por sua vez, foi o coordenador da última campanha presidencial de Lula e, por isso, não poderia ocupar o cargo – apesar de haver controvérsias.

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Com a ameaça de mudanças ou de revogação da lei em questão, outras companhias estatais também sofreram, com crescimento do temor de interferência política. As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3);PETR4) caíram, respectivamente, 1,36% e 2,47%. Os papéis ordinários do Banco do Brasil (BBAS3) ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, com menos 4,89%.

“Na Bolsa brasileira, o destaque entre as quedas ficaram para os bancos, para a Petrobras e para o varejo. Os bancos são os ativos mais líquidos e sofrem com a abertura da curva de juros e com a piora da perspectiva para o mercado interno”, explica Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.

No Estados Unidos, do outro lado, o dia foi de otimismo. O índice Dow Jones avançou 0,30%, o S&P 500, 0,73% e o Nasdaq, 1,01%. Por lá, a curva de juros recuou, com os treasuries yields para dez anos perdendo 10,1 pontos-base, a 3,51%, e os para dois anos, 17,4 pontos-base, a 4,229%.

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“Hoje, por mais um dia, tivemos um dia ruim do Ibovespa, apesar de, nos Estados Unidos, o dia ter sido positivo, com o CPI [inflação ao consumidor] de novembro vindo aquém do esperado”, acrescenta Silva.

Felipe Moura, da Finacap, por fim destaca que o dado mais fraco da inflação nos EUA, com alta de 7,1% no ano frente a consenso de 7,3% tende a tirar uma pressão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que amanhã tem marcada uma decisão sobre a política monetária do país. “Apesar da continuação da alta dos juros ser certa, há uma possibilidade mais forte de o Federal Reserve colocar uma âncora nas expectativas de inflação, que, por enquanto, parece arrefecer”, afirma.