Ibovespa fecha em queda acompanhando Wall Street com notícia de imposto de Biden; dólar tem mínima desde fevereiro

Mercado sofre com a perda de ânimo nos EUA depois das informações sobre como o presidente pretende financiar seus programas de estímulo

Ricardo Bomfim

Ações em queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (22) seguindo o desempenho negativo do exterior após informações de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vai propor um imposto sobre ganho de capital para os mais ricos. Com a notícia, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram todos entre 0,9% e 1%.

Segundo relatos da Bloomberg, o presidente americano vai propor praticamente dobrar a taxação sobre ganhos de capital para os mais ricos para 39,6%. Combinado com uma sobretaxa existente sobre a renda de investimentos, segundo a agência de notícias, os impostos federais para os investidores podem chegar a 43,4%.

Biden deve divulgar a proposta na próxima semana como parte dos aumentos de impostos para financiar os gastos sociais no seu “Plano de Famílias Americanas”, disse a Bloomberg.

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De acordo com a equipe de análise da XP Política, o projeto deve enfrentar resistência entre republicanos e democratas moderados. “Destacamos que a resistência a aumentos a indivíduos são maiores entre parlamentares do que aumentos a empresas, tema que gera ainda muito debate nas discussões sobre o pacote de infraestrutura”, escrevem os analistas.

Por aqui, os investidores mais cedo repercutiam o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima. Os players do mercado já estavam de olho no evento com uma preocupação por parte de executivos nacionais por conta da repercussão estrangeira da política ambiental da atual gestão.

Bolsonaro afirmou que o Brasil “está na vanguarda no combate à mudança do clima” e fez promessas como zerar o desmatamento ilegal até 2030 e antecipar de 2060 para 2050 a neutralidade de carbono.

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No discurso, ele também prometeu o “fortalecimento de órgãos ambientais”, a partir da aplicação do dobro de recursos destinados a ações de fiscalização, mas disse que o desafio também passa por melhorar a vida dos mais de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia – “região mais rica do país em recursos naturais, mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano”.

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Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a questão agora é acompanhar as atitudes do governo além das falas de hoje. “Era esperado um discurso conciliatório, o problema é sabermos os atos concretos para esse objetivo. O que for feito este ano seria essencial, mas quando se mantém a mesma estrutura na cúpula ambiental fica difícil acreditar que haverá alguma mudança”, avalia.

Segundo ele, o que foi dito ficou como já era esperado, mas faltou uma melhor sinalização de ações concretas a serem feitas. Alguns jornais apontaram que assessores do presidente americano Joe Biden viram de forma positiva a fala de Bolsonaro, mas que a Casa Branca esperava mais, como um cronograma mais específico para o combate aos desmates.

Outro destaque da política é que Bolsonaro sancionou na quarta a lei que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 e permite a abertura de crédito extraordinário para bancar programas de socorro a empresas privadas, e que retira da meta fiscal gastos emergenciais com saúde.

Esses gastos ficam de fora do cálculo do teto de gastos, uma mudança contábil que contribui para reduzir as chances de que o governo seja acusado de crime de responsabilidade fiscal. Isso abre espaço para que o Orçamento de 2021 acomode gastos com emendas parlamentares, e para que o presidente o sancione, já que o prazo para isso se encerra hoje.

Com isso, o Ibovespa teve queda de 0,58%, a 119.371 pontos com volume financeiro negociado de R$ 29,86 bilhões. Na máxima do dia a Bolsa chegou a bater 120.994 pontos.

Vale lembrar que na quarta-feira (21), dia em que a B3 esteve fechada por conta do feriado de Tiradentes, o principal índice de ADRs (na prática, as ações de empresas de fora dos EUA negociadas em Nova York) do Brasil, o Dow Jones Brazil Titans 20 ADR, fechou com ganhos, ainda que modestos, acompanhando o movimento de Wall Street. O índice subiu 0,44%, a 18.649,93 pontos. Enquanto isso, o ETF EWZ iShares MSCI Brazil Capped, que replica o Ibovespa em dólar, fechou com alta de 0,23%, a 35,10 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial caiu 1,73% a R$ 5,454 na compra e a R$ 5,455 na venda. Foi o menor patamar de fechamento da moeda desde 24 de fevereiro, quando a divisa dos EUA encerrou o pregão cotada em R$ 5,421. Já o dólar futuro com vencimento em maio registra baixa de 2,15% a R$ 5,449 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu sete pontos-base a 4,62%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de 18 pontos-base a 6,20%, o DI para janeiro de 2025 recuou 25 pontos-base a 7,75% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de 25 pontos-base a 8,40%.

Voltando ao exterior, as bolsas caíram nos EUA apesar do país ter um forte ritmo de vacinação, e a gestão do presidente democrata Joe Biden vir promovendo um ambicioso plano de gastos, com a aprovação de um pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão e o plano de implementar um pacote de investimentos em infraestrutura de US$ 2,25 trilhões.

Entre os indicadores, o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caiu para sua mínima desde 14 de março de 2020, antes do início da crise da pandemia, ficando em 547 mil, segundo o Departamento do Trabalho do país. O resultado ficou bem abaixo dos 617 mil pedidos esperado pela média dos analistas consultados pela Refinitiv.

O total de pedidos da semana anterior foi revisado para cima, de 576 mil a 586 mil. Já o número de pedidos continuados teve queda de 34 mil na semana encerrada em 10 de abril, a 3,674 milhões.

Enquanto isso, na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu não alterar a taxa de juros da região e ainda manteve seu programa de compra de ativos como está. O ritmo de aquisições será, ao longo de todo o trimestre, “significativamente mais elevado” do que nos primeiros meses do ano, ressaltou a autoridade europeia.

“Na reunião de hoje, o Conselho do Banco Central Europeu decidiu reconfirmar a orientação muito acomodatícia da sua política monetária“, anunciou a instituição em comunicado.

As bolsas asiáticas fecharam a quinta-feira com desempenho forte. O índice Nikkei subiu 2,38%, recuperando-se parcialmente de dois dias consecutivos de perdas. O índice Topix subiu 1,82%. O índice Kospi, subiu 0,18%. O componente Shenzhen subiu 0,412%, o índice Hang Seng, de Hong Kong, subiu 0,5%.

Por outro lado, o Shanghai composto caiu 0,23%. Os mercados acionários da China se enfraqueceram nesta quinta-feira, uma vez que as tensões com os EUA prejudicaram o sentimento. Um comitê do Senado dos EUA  deu seu apoio a um projeto de lei que pressiona Pequim em questões de direitos humanos e competição econômica, e outros parlamentares introduziram uma medida que busca bilhões para pesquisa em tecnologia.

O movimento majoritariamente positivo ocorre apesar de a Índia ter registrado na quinta 310 mil novas infecções por Covid, o seu pior número até o momento. Mesmo assim, o índice Nifty 50 subiu 0,32% e o BSE Sensex subiu 0,24%.

Covid no Brasil

Na quarta (21), a média móvel de mortes por Covid em 7 dias no Brasil ficou em 2.787, queda de 1% em comparação com o patamar de 14 dias antes. Em apenas 24 h foram registradas 3.157 mortes pela doença.

As informações são do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h, o avanço da pandemia em 24 h.

A média móvel de novos casos em sete dias foi de 63.507, estável em relação ao patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 71.231 casos.

27.523.231 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a Covid no Brasil, o equivalente a 13% da população. A segunda dose foi aplicada em 10.947.310 pessoas, ou 5,17% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.

Um levantamento realizado pelo jornal Folha de S. Paulo indica que 14 capitais e o Distrito Federal têm mais de 90% dos leitos públicos de UTI com pacientes de Covid. Na semana passada, eram 17.

O jornal O Estado de S. Paulo reporta que houve em 2020 275.587 óbitos a mais do que o previsto. Destes, 220.469 foram vítimas da Covid. Mas outros 55.117 morreram por outras doenças. Os dados são do estudo “Excesso de Óbitos no Brasil”, da organização em saúde Vital Strategies, apresentado no painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

De acordo com a reportagem, o isolamento social pode ter dificultado o atendimento de pacientes crônicos e a realização de exames e diagnósticos precoces de doenças graves. Assim, o cancelamento ou adiamento de procedimentos médicos pode ter contribuído para essas mortes acima do previsto.

Por falta de doses de imunizantes, o ministro da Saúde, cardiologista Marcelo Queiroga, revisou o calendário de vacinação contra a Covid, e adiou o fim de imunização do grupo prioritário de maio para setembro.

Orçamento e Cúpula do Clima

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou na quarta lei aprovada na segunda pelo Congresso que permite a abertura de crédito extraordinário para bancar programas de socorro a empresas privadas, e que retira da meta fiscal gastos emergenciais com saúde.

Esses gastos ficam de fora do cálculo do teto de gastos, uma mudança contábil que contribui para reduzir as chances de que o governo seja acusado de crime de responsabilidade fiscal.

Isso abre espaço para que o Orçamento acomode gastos com emendas parlamentares, e para que o presidente o sancione. O prazo para a sanção expira nesta quinta-feira.

Aprovado pelo Congresso Nacional, o Orçamento de 2021 expôs um impasse entre o Congresso, a ala política e a equipe econômica do governo. Isso porque ele foi aprovado com uma reestimativa de R$ 26,5 bilhões para baixo das despesas obrigatórias do governo e uma elevação dos recursos direcionados a emendas parlamentares e a áreas como defesa e segurança pública.

Segundo o Tesouro, da forma como está o Orçamento cria o risco de “paralisação das atividades essenciais do Estado”, o que faz com que seja chamado de fictício, obrigando o governo a articular mudanças.

Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, a ministra Flávia Arruda, à frente da Secretaria de Governo há cerca de duas semanas, operou para evitar que o presidente Bolsonaro cedesse às pressões do ministro da Economia Paulo Guedes, e vetasse trecho do Orçamento que tratava do aumento de emendas parlamentares. Isso pioraria sua relação com o Poder Legislativo.

Arruda fora presidente da Comissão Mista de Orçamento, e fez contraponto a Guedes demonstrando que ele havia acompanhado as negociações e concordado com os compromissos estabelecidos.

Além disso, o presidente Jair Bolsonaro participa nesta quinta da Cúpula de Líderes sobre o Clima, comandada pelo presidente americano Joe Biden. O encontro é um esforço da diplomacia do governo Biden de se colocar como protagonista no debate climático.

De acordo com o jornal Valor, o presidente deve anunciar o compromisso de seu governo de antecipar a meta de redução do desmatamento ilegal no Brasil, e prometer aumento de recursos para órgãos de fiscalização ambiental.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sinalizou na quarta em reunião virtual com empresários que o governo pode antecipar para 2022 a meta de redução do desmatamento ilegal. Em carta enviada na semana passada, o governo Bolsonaro havia afirmado que se comprometia a zerar o desmatamento até 2030.

Há uma crescente preocupação de executivos brasileiros com a repercussão estrangeira da política ambiental da gestão de Jair Bolsonaro, o que pode afastar investidores e compradores do país.

Segundo reportagem de capa do jornal O Estado de S. Paulo, na Cúpula dos Líderes o Brasil deve pedir US$ 1 bilhão para o combate ao desmatamento. Mas tem, há dois anos, R$ 2,9 bilhões parados no Fundo Amazônia, doados por Noruega e Alemanha. Desde o início do mandato de Bolsonaro, nenhum novo programa de proteção da floresta foi financiado pelo fundo. Salles afirma que o fundo está paralisado a pedido da Noruega.

O Centro de Tecnologia Canavieira informou na quarta-feira que pediu a interrupção formal do pedido de registro para oferta inicial de ações ordinárias, devido à piora do mercado.

“A companhia informa que a realização do IPO segue nos seus planos e informará ao mercado sobre quaisquer desenvolvimentos relacionados ao tema”, afirmou a CTC em nota. A companhia do agronegócio havia pedido registro para IPO em outubro passado, afirmando que buscaria recursos para investir em projetos de sementes sintéticas, em seleção genômica e em novos negócios, incluindo bioinformática.

Radar corporativo

A Oi, atualmente em recuperação judicial, propôs aos acionistas duas reorganizações em sua estrutura societária necessárias para levar adiante o plano de recuperação. A empresa quer autorização para incorporar a Telemar, que atualmente detém licenças para telefonia fixa e serviços multimídia junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e para cindir e incorporar uma parte da Brasil Telecom Comunicação Multimídia (BTCM).

Segundo a Oi, os movimentos são necessários para tocar o plano de recuperação judicial da tele. Após um aditamento feito no ano passado, o plano prevê a divisão da Oi com a venda de parte de seus ativos, e que a empresa ficará como sócia na InfraCo, unidade de fibra ótica. Parte das demais verticais, como a Oi Móvel, já foi vendida.

Já a Petrobras comunicou na terça-feira (20) à noite os termos da transação feita com a União em relação às compensações que serão pagas à estatal referentes aos contratos de partilha do pré-sal nos campos de Atapu e Sépia. Essa compensação refere-se aos investimentos feitos pela estatal para a exploração nos dois campos.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
CIEL3 6.0274 3.87
USIM5 5.26565 22.19
CSNA3 4.41492 48.72
GOLL4 3.82538 23.07
GGBR4 3.7806 33.49

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
LREN3 -5.99078 40.8
NTCO3 -3.71725 47.4
SUZB3 -3.63812 69.66
HAPV3 -3.53403 14.74
MULT3 -3.46845 23.1

A Helbor registrou vendas líquidas R$ 321,7 milhões no primeiro trimestre do ano, segundo prévia operacional divulgada na terça-feira (20) à noite. Esse valor representa uma queda de 8,4% na comparação com igual período de 2020.

Já a J&F Investimentos anunciou que Aguinaldo Gomes Ramos Filho é o novo diretor-presidente da holding que controla o frigorífico JBS e a Eldorado Brasil Celulose, entre outros negócios. O executivo substitui José Antônio Batista Costa, que estava no cargo desde fevereiro de 2017.

Ainda em destaque, a Hapvida precificou na terça-feira oferta de ações com esforços restritos a R$ 15 por papel, de acordo com fato relevante da companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em operação que movimentou R$ 2,7 bilhões. O preço representa um desconto de 1,8% em relação ao fechamento da ação na véspera, de R$ 15,28.

Já a Alupar, que atua nos segmentos de transmissão e geração de energia elétrica, precificou oferta secundária de units com esforços restritos a R$ 25,50 cada. O fundo de investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) vendeu sua participação de 12% na companhia e levantou R$ 896,7 milhões na operação.

As Lojas Americanas  anunciaram a compra de 70% das ações do Grupo Uni.co, dono das marcas Puket, Imaginarium, MinD e Lovebrands. A aquisição foi feita por meio da subsidiária IF Capital e prevê a compra da fatia restante da companhia 30% em um prazo de três anos. O valor da operação não foi revelado.

Com a aquisição, o objetivo das Lojas Americanas é aumentar a presença em segmentos de maior frequência de compras, como moda, acessórios, presentes e design.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.