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Ibovespa chega a cair mais de 2% com “efeito Credit Suisse”, mas fecha com perdas de 0,25%: o que atenuou a queda do índice?

Medo de contágio no sistema financeiro aumenta aversão ao risco, mas expectativa por atuação dos bancos centrais e novo arcabouço fiscal atenuam queda

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 0,25% nesta quarta-feira (15), aos 102.675 pontos, uma leve baixa em um dia marcado pela aversão ao risco no mundo por conta dos temores em relação à crise do Credit Suisse. Na mínima do dia, o índice chegou a cair 2,17%, a 100.692 pontos.

“Sabemos que a aversão ao risco continua muito forte. Se antes tínhamos o temor de um contágio devido ao que aconteceu no  Silicon Valley Bank, agora temor o temor de um contágio em virtude do Credit Suisse. É um grande banco com dificuldades em suas operações”, comenta Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.

O banco suíço, já há algum tempo, vem enfrentando adversidades em suas atividades. Hoje, a crise foi desencadeada pela afirmação do Saudi National Bank, maior investidor do CS, que afirmou que não fará mais aportes para auxiliar a instituição financeira.

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A possibilidade da falência de um grande banco do mundo aumenta a aversão ao risco. O VIX, considerado o índice do medo, subiu 9,23%, aos 25.91 pontos.

No final do dia, o Banco Nacional Suíço anunciou, porém, que irá fornecer liquidez ao Credit Suisse caso seja necessário. Foi, em parte por isso, que os índices no Brasil e no mundo tiveram suas quedas amenizadas.

Após chegar a cair 2,15%, o Dow Jones fechou recuando 0,87%. O S&P 500 chegou a recuar 1,90%, mas fechou com baixa de 0,70%. O Nasdaq, que caiu mais de 1%, fechou com alta de 0,05%.

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“Paira, no mercado, uma desconfiança em relação às instituições financeiras globais”, debate Madruga. “A gente teve ainda diversos movimentos bastante representativos no mercado. Os títulos do tesouro americano caíram, por exemplo. As crises nos dão indícios de que o Federal Reserve pode subir a taxa de juros em 25 pontos-base na sua próxima reunião e parar por ai”.

Com a alta dos juros dificultando a vida dos bancos, e com as novidades neste noticiário ganhando força, cresce entre investidores a tese de que a autoridade monetária americana será mais branda em suas próximas decisões – evitando que a crise se fortaleça e também impedindo um aumento do risco sistêmico.

“Os dados divulgados hoje de inflação ao produtor (IPP) e Vendas no Varejo nos Estados Unidos demonstram que o aperto monetário parece começar a fazer efeito e pode oferecer uma pressão menor ao Fed em meio a toda turbulência”, afirma Leandro De Checchi, analista de Investimentos da Clear.

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O Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos caiu 0,1% em fevereiro em dados dessazonalizados, ante uma alta ajustada de 0,3% em janeiro e um consenso de alta de 0,3%. As vendas das varejistas no mesmo país e no mesmo mês recuaram 0,4% na base mensal, ante consenso de queda de 0,3%.

Os treasuries yields para dois anos, com tudo isso, perderam 30,6 pontos-base, a 3,919%, e os para dez anos perderam 15,9 pontos, a 3,477%.

O dólar ganhou força mundialmente, com investidores procurando uma moeda segura em meio às tensões. O DXY, que mede a força da moeda americana frente a pares de países desenvolvidos, subiu 1,06%, aos 104.69 pontos. Frente ao real, a alta foi de 0,70%, com a divisa dos EUA negociada a R$ 5,294 na compra e na venda no fechamento.

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“Por aqui, o Ibovespa iniciou o dia em forte queda, puxado principalmente por ações de empresas ligadas a commodities, mas recuperou-se durante o pregão com as altas do setor financeiro e Eletrobras. A curva de juros segue volátil, mas recua com a perspectiva de alívio na inflação global e expectativa com a divulgação de uma nova âncora fiscal”, explica o especialista da Clear.

Os DIs para 2024 perderam 13 pontos-base, a 12,94%, e os para 2025, 20 pontos, a 12,04%. As taxas dos contratos para 2027 recuaram 10,5 pontos, a 12,50%, e as dos contratos para 2029, oito pontos, a 12,95%. Os DIs para 2031 foram a 13,15%, com menos oito pontos.

Entre as maiores altas do Ibovespa, com ísso, ficaram companhias ligadas ao mercado interno e mais alavancadas. As ações ordinárias da Méliuz (CASH3), que também divulgou seu resultado do quarto trimestre na véspera, subiram 14,44%, as da MRV (MRVE3), 7,19%, e as da Natura (NTCO3), 6,63%,

Quem segurou a queda do índice brasileiro foram, principalmente, as companhias exportadoras de commodities. As ações ordinárias da CSN (CSNA3) perderam 6,12%, as preferenciais da Gerdau (GGBR4), 4,66% e as ordinárias da 3R Petroleum (RRRP3), 3,58%.

O temor com a economia global, em meio à crise no sistema financeiro, se somou com uma produção industrial chinesa mais fraca do que o esperado em fevereiro, com alta de 2,4% ante consenso de 2,6%, e a dados do estoque de combustíveis nos Estados Unidos maiores do que o esperado.

O barril de petróleo Brent fechou em queda de 3,71%, a US$ 74,58, após ter recuado 6% durante o pregão.

Além da melhora no cenário global no final do dia, o Ibovespa também surfou nas expectativas quanto ao novo arcabouço fiscal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou que ainda não viu o projeto, mas mencionou que ele deve ser apresentado antes de sua viagem para a China, que acontece no final do mês.

“Há dois temas bem engatilhados para dar um ânimo na Bolsa brasileira. O primeiro é o novo conjunto de regras fiscais, que se for bem acordado entre os ministros é algo positivo, para não ficar só no papel, ser bem percebido pelo mercado e dar a visão de que será atingido. O outro é a reforma tributária, que acho que está mais transparente e está sendo bem recebido pelo mercado”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.