Ibovespa bate mínima com Wall Street e dólar dispara 1%

Dia é de cautela para os mercados, que seguem de olho nos dados decepcionantes da China e ainda repercutem números dos EUA que saíram na sexta

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ibovespa intensificou as perdas da sessão desta segunda-feira (9) no começo da tarde, acompanhando a trajetória dos mercados internacionais e em continuidade com o movimento de correção dos fortes ganhos de uma semana atrás. Às 14h21 (horário de Brasília), o benchmark da Bolsa brasileira recuava 1,46%, a 46.232 pontos, próximo de seu menor patamar do intraday, com apenas 1 de suas 64 ações com ganhos superiores a 1%. Do lado negativo, contribuem para o dia negativo os papéis das blue chips Petrobras (PETR3; PETR4), Cielo (CIEL3), Bradesco (BBDC3; BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4). Acompanhando o cenário de maior aversão a riscos, o dólar comercial disparava 0,91%, cotado a R$ 3,7969 na venda.

Conforme visto nos pregões anteriores, o movimento do Ibovespa ganhou mais definição com a abertura das bolsas americanas. Por lá, os três principais índices acionários desenhavam trajetória de queda, acompanhando o noticiário negativo no exterior e também depois de dados superiores às expectativas sobre o nível de emprego no país – o que tende a elevar a pressão sobre uma alta de juros do Federal Reserve ainda em dezembro deste ano. Dow Jones, Nasdaq e S&P, no mesmo horário, apresentavam recuo no mesmo nível, superior a 1,2%. Vale lembrar que altas nos juros costumam gerar efeitos negativos ao mercado acionário, já que tornam a renda fixa mais atraente para os investidores.

“Estamos com spread de 2h30 lá fora”, afirmou Bruno Madruga, assessor de investimentos da Monte Bravo. Na última sexta-feira (6), o balanço de apurações da BM&FBovespa referente a outubro mostrou que a participação de investidores estrangeiros nas operações subiu de 52,32% para 55,13%, reforçando a influência do humor internacional sobre o desempenho das ações no mercado brasileiro. “Quando as bolsas abrem lá fora é que temos uma definição melhor de como vai ser o dia por aqui”. Para ele, a tendência desses dias é de queda, mas a médio e longo prazo, o Ibovespa ainda não definiu uma trajetória altista ou baixista. “O andar ainda é lateral”, observou Madruga.

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O economista-chefe da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, aponta ainda que esta é uma semana com bem menos indicadores relevantes que a semana passada, quando tivemos números americanos que mexeram bastante com o mercado e que, hoje, a piora se relaciona muito com o mercado externo. “Do lado doméstico, temos poucas notícias que faça o Ibovespa deixar esse movimento lateral, mantendo-se na zona atual”, somando-se ainda ao noticiário corporativo e o clima político, que ainda segue de tensão. “Não há boas notícias que justifiquem mudança de patamar”, afirma Brugger.

Nesta sessão, o clima é de temor também por conta de dados abaixo do que o mercado esperava na China – maior parceiro comercial do Brasil. Os dados do comércio do gigante asiático desapontaram os analistas por ampla margem em outubro, reforçando as opiniões de que a segunda maior economia mundial terá que fazer mais para estimular a demanda doméstica dada a fraqueza dos mercados internacionais. As exportações do mês passado caíram 6,9% comparado com o mesmo período em 2015, em queda pelo quarto mês, enquanto as importações escorregaram 18,8%, deixando o país com um superávit comercial recorde de US$ 61,64 bilhões, afirmou a Administração Geral das Alfândegas neste domingo.

Ainda sobre a China, o gigante asiático está fazendo da taxa de 6,5% um piso ou nível mínimo para o crescimento econômico anual entre 2016 e 2020, afirmou nesta segunda-feira uma autoridade sênior do país, acrescentando que o número será uma base para determinar a meta para o período. Apesar de os dados pressionarem o grosso das ações brasileiras para baixo, eles abriram margens para expectativas de que novos estímulos aconteçam no gigante asiático, o que, em tese, poderia impulsionar os papéis das siderúrgicas.

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Para analistas do Credit Suisse, os números indicam que o governo chinês está diante de uma situação em que deve ficar com poucas opções, além de anunciar novos programas de estímulos, principalmente os que buscam fortalecer a demanda doméstica. Liderando os ganhos do dia, a CSN (CSNA3) apresenta ganhos superiores a 1%. Contrariando o movimento, Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4) viraram para queda. Enquanto isso a Vale (VALE3; VALE5) também caía após a forte desvalorização de seus papéis na sessão anterior em meio ao acidente na Samarco.

Previsões ruins para a economia
Voltando ao noticiário nacional, destaque para o Focus. A previsão de retração do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 foi de 3,05% para 3,10%. Para 2016, os economistas cortaram a projeção do crescimento do PIB de -1,51% para queda de 1,90%. De acordo com o documento divulgado hoje pelo BC, a mediana das previsões do mercado financeiro para o IPCA de 2015 subiu de 9,91%, para 9,99%, bem acima do teto da meta estabelecida pela autoridade monetária de 6,5% ao ano. Já para 2016, a previsão subiu de 6,29% para 6,47%.

Em linha com o Focus, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) alertou para a desaceleração dos países emergentes e o enfraquecimento do comércio global devem reduzir o crescimento da economia mundial para cerca de 2,9% este ano, taxa que está bem abaixo da média histórica. 

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Em relação a outras grandes economias emergentes, a OCDE projeta que Brasil e Rússia vão se manter em recessão no próximo ano e somente voltarão a crescer em 2017. “A recessão (no Brasil) deve continuar em 2016, devido ao ajuste fiscal necessário, ao aperto da política monetária para conter a inflação e à falta de confiança relacionada a incertezas políticas”, avaliou a OCDE. “Uma lenta recuperação deverá ocorrer em 2017, uma vez que a confiança nas políticas macroeconômicas melhorar.”

Vale destacar a notícia do jornal Valor Econômico de hoje, disputas entre os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) já estão entravando negociações com o Congresso. Assim, além da base com pouco apoio, que custou derrotas nas últimas semanas, disputa entre Jaques Wagner e Ricardo Berzoini gera ainda mais dificuldades. Isso porque Wagner foi escolha de Lula e é uma das alternativas do PT para a sucessão em 2018. Enquanto isso, Berzoini já reclama aos mais próximos que se sente desprestigiado. Há uma compartimentação da coordenação e da articulação política que é vista como problemática, já que a orientação do governo deve ser única em relação aos conteúdos.

Destaques da Bolsa
Usiminas (USIM5, R$ 2,79, +0,72%) e Gerdau (GGBR4, R$ 5,66, +0%) diminuiram fortemente os ganhos nesta segunda-feira, após dias de fortes quedas. No caso da Vale, os papéis da companhia voltam a cair após recuperação no início da sessão, após afundarem quase 6% na sexta-feira passada após desastre na mineradora Samarco, joint venture entre Vale e BHP. CSN diminuiu os ganhos e sobe 2,40%. 

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Dados fracos na China divulgados durante o final de semana abrem expectativas por mais estímulos no país. Dados de exportações chinesas caíram 6,9% na comparação anual em outubro (contra expectativa do mercado de queda de 3,2%), enquanto as importações recuaram 18,8% (frente ao consenso de queda de 15,2%).

Mais informações em breve

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.