Hypera (HYPE3): por que a ação saltou na sessão, apesar do balanço ainda pressionado

Analistas veem números acima do esperado, ainda que com diversas fontes de pressão

Camille Bocanegra

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A Hypera (HYPE3) apresentou seu balanço do primeiro trimestre de 2024 na noite da sexta-feira (26). Os dados vieram acima das expectativas de analistas e foram bem recebidos pelo mercado. Na tarde desta segunda, os papéis da companhia dispararam, com valorização de 5,36%, a R$ 30,08 no fechamento do pregão.

O JPMorgan entendeu os números como melhores que o esperado, com lucro por ação em R$ 0,60, com crescimento de 14% na comparação anual. O avanço foi impulsionado por eficiências de despesas, especialmente relacionadas a despesas de marketing, folha de pagamento e consultoria. As tendências de recuperação de vendas se apresentam como um dos pontos positivos para o banco estrangeiro, com aumento de 7% na comparação ano a ano.

Os segmentos de cuidados de pele e produtos de prescrição foram diretamente responsáveis pelo avanço e compensaram os números tímidos observados para produtos gripais e respiratórios. O fluxo de caixa também apresentou avanço e, ao contrário da visão da XP, o JPMorgan considera que a companhia apresenta melhor dinâmica no capital de giro. O Bradesco BBI também viu os números como ligeiramente acima das projeções, com crescimento de vendas ao consumidor final acima do esperado.

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Porém, há quem vejo os números com ressalvas. A XP considerou os números como mistos, principalmente por entender que o capital de giro segue pressionado. Os destaques positivos foram as melhorias no lucro líquido e na geração de caixa.

Para o Itaú BBA, os dados apresentados podem ser considerados como mistos. Dentre os pontos positivos, estão o crescimento orgânico do sell-out de 7% (ainda que o mercado tenha apresentado crescimento de 9% na linha). O detrator do número foi a categoria de medicamentos contra gripe, respiratório, dor e febre, que teve expansão de apenas 2%. Assim, a margem bruta seguiu pressionada, ainda que compensada pelo rígido controle de despesas gerais e administrativas. A recomendação do banco para o nome é de compra, com preço alvo em R$ 42 para fim de 2024.

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O Morgan Stanley leu os números como negativos, considerando o desempenho inferior ao mercado farmacêutico. O banco atribui a queda à dependência de produtos relacionados à gripe e destacou também o aumento de recebíveis como eventual pressão para vendas futuras.

“Dito isso, o desempenho dos produtos contra a gripe ainda pode melhorar à medida que nos aproximamos do inverno, apoiando a Hypera a reduzir a diferença nas vendas apesar da base de comparação anual ser desafiadora. As margens brutas (-2,9 pontos percentuais na comparação anual) foram afetadas pela pausa anual na maior planta da empresa (Anápolis), com potencial de recuperação nos próximos trimestres”, considera o Morgan.

Visão da teleconferência

O fluxo de caixa teve crescimento de quase 60% em relação ao primeiro trimestre de 2023, chegando ao maior patamar para um primeiro trimestre da Hypera. Além disso, a companhia segue apostando em pesquisas e inovação.

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“O índice de inovação de fato está em 30% e a nossa tendência é manter nesses patamares. Continuamos investindo em inovação, em especial na parte que é capitalizada”, comenta Oliveira.

“Não temos planos de fazer nenhuma redução nas equipes nem fazer nenhuma mudança nas amostrar grátis neste ano”, afirma o CEO, comentando despesas extraordinárias apresentadas no balanço do primeiro trimestre de 2024. A queda de dias a pagar vem da estratégia da companhia de redução de estoques em especial de matéria prima.

“O mercado tem crescido bem em linha com o que estávamos imaginando”, comenta Breno. Sobre o mercado de tratamentos agudos (sem uso contínuo), o CEO comentou que é difícil dar previsões sem dados de como será a dinâmica de temperaturas. O executivo comentou, no entanto, que a base de comparação é um pouco mais fácil considerando as temperaturas elevadas do inverno do ano passado (mais quente dos últimos 60 anos).

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Em relação aos genéricos, o efeito de acumulação dos estoques (pelas altas temperaturas) tornou a competição um pouco mais agressiva, mas o CEO não acredita que essa dinâmica se manterá. “Boa parte dos players que estão aumentando sua capacidade focam muito no mercado de prescrição, a briga é mais no marketing, na mídia, junto aos médicos do que em preços”, diz Oliveira.

O executivo ressaltou que preocupações com a Reforma Tributária ainda são prematuras. Ainda que a administração esteja acompanhando de perto os desdobramentos do anúncio realizado na semana passada, há expectativa de que a proposta seja alterada, considera o executivo.

“Temos conversado com entidades de classe para entender o posicionamento dos demais players. Então, com isso, a gente não espera nenhum grande impacto aqui, pelo menos, em princípio com as análises feitas até agora mas não esperamos nenhum impacto material aqui para a gente. Estamos conversando com nossos assessores externos mas, em principio, não parece ter tido aumento da carga para o setor farmacêutico”, considera o CEO.

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A dengue, por sua vez, impactou ligeiramente os números do primeiro trimestre de forma negativa. “Tivemos impacto na categoria de AAS, ibuprofeno e corticoides”, diz Oliveira. O CEO comentou que a busca por medicamentos equivalentes em caso de dúvida sobre diagnóstico da doença fez com que as três categorias sofressem impacto mas, com a redução dos casos, não há expectativa da mesma repercussão no segundo trimestre.