Forte aposta da Ultrapar faz Hidrovias do Brasil saltar: o que muda para as empresas?

A Ultrapar elevou sua presença na companhia para 21,87% em busca de crescimento, enquanto Hidrovias do Brasil pode ver reduzida uma pressão de venda para as ações

Camille Bocanegra

Hidrovias do Brasil (Divulgação)

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A Ultrapar (UGPA3) aumentou sua participação na Hidrovias do Brasil (HBSA3), elevando sua presença na companhia para 21,87%. A operação foi anunciada via fato relevante na noite deste domingo. O comunicado também relatou a intenção da Ultrapar de se tornar “a acionista de referência estratégico e de longo prazo” na Hidrovias.

As ações das companhias reagiam de forma diversa no início do pregão desta segunda-feira, com destaque para a valorização dos papéis da Hidrovias. A companhia encerrou a sessão com alta de 14,89%, a R$ 4,09, e UGPA3 fechou com ligeira alta de 0,04%, cotada a R$ 27,82.
O movimento da Ultrapar foi visto pelo Morgan Stanley como esperado, uma vez que as discussões sobre aquisição já eram conhecidas do mercado. “Não será vista como uma surpresa para os investidores”, pontuou a análise de antes da abertura do mercado. A participação também foi considerada pequena perto do portfólio da Ultrapar. Por isso, apesar do forte desempenho dos papéis nos últimos meses, o Morgan não vê gatilhos claros que impulsionariam revisão das estimativas. Há, ainda, a ressalva de que é possível que o retorno sobre capital investido (ROIC, na sigla em inglês) tenha atingido (ou esteja próximo de alcançar) seu pico. Nesse caso, a proposta de risco-retorno estaria mais inclinada para o lado negativo, de acordo com o banco estrangeiro.

De acordo com o research da XP, o anúncio é positivo para Hidrovias do Brasil pelos termos da proposta. As ações serão compradas com 12% de prêmio, por R$ 3,98 por ação. Além disso, a fatia que será adquirida (a depender da aprovação do CADE e de alteração de “poison pill“) do Pátria abre espaço para que a participação “à venda” da Hidrovias seja reduzida. Em relação às alterações estatutárias, a Ultrapar busca a flexibilização da “poison pill”, que obriga que caso um acionista detenha mais de 20% da companhia, é mandatária a realização de oferta pública de ações. A compradora visa aumentar esse percentual para 40%. Em linhas gerais, a XP considera que o acordo pode permitir que a companhia desbloquear planos de investimento para aumento de capacidade.

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A XP cita ainda que a operação pode significar o fim de uma pressão de venda de longa data. “Por mais que reconheçamos o papel fundamental (e a visão) do Pátria na liderança da fundação da HBSA como um ator importante no relativamente novo Arco Norte, notamos que os investidores encaram a sua atual grande participação como um investimento financeiro a ser vendido eventualmente (como evidenciado por sua recente oferta secundária realizada em julho de 2023). Em contrapartida, a Ultrapar pretende ser acionista de referência estratégica e de longo prazo da Hidrovias, apoiando seu modelo de crescimento, governança e gestão”, avalia.

“Na verdade, a Ultrapar mencionou o ‘apoio ao crescimento’ como um fator-chave tanto em sua carta à Hidrovias quanto em seu Fato Relevante. No entanto, acreditamos que o anúncio valida nossa visão positiva em relação ao cenário atualmente forte de oferta e demanda para a logística de grãos em Mato Grosso (que esperamos beneficiar tanto a Rumo quanto a HBSA)”, considera aindaa corretora.

A visão é partilhada pelo JPMorgan, que resumiu a operação como um modo da distribuidora de combustíveis buscar crescimento. Para a Ultrapar, foi considerado como “um pequeno passo positivo” também por considerar que a movimentação é pequena considerando o tamanho da empresa. Ainda assim, estrategicamente, demonstra a busca por crescimento da UItrapar.

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O Bradesco BBI considerou que o movimento demonstra o aumento de presença da Ultrapar no setor agropecuário brasileiro, onde há muito potencial de crescimento. A análise destaca a possibilidade de sinergias operacionais, com oportunidades de logística reversa no corredor agropecuário do norte do Brasil, com importações de combustível (especialmente diesel) e exportações de grãos. A aquisição é vista como bem precificada e coerente com o balanço da Ultrapar, com R$ 500 milhões facilmente absorvidos pela folha da companhia. Dentre os desafios, o banco destaca a concorrência significativa enfrentada pela Hidrovias. A natureza do negócio, mais dependente de hidrologia, poderia também acrescentar elementos de volatilidade para a Ultrapar (dependência de cheias de rios, por exemplo).

A Levante destacou que a operação ocorre após período de redução de portfólio da Ultrapar, com venda da Oxiteno e Extrafarma. Os movimentos garantem período de boa rentabilidade para a companhia e alavancagem em patamar considerado baixo de 1,1 vezes a relação entre dívida líquida sobre Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). A casa de análise comentou que seguirá acompanhando o acordo, em especial pela busca de sinergias entre negócios. A visão para UGPA3, no entanto, segue como neutra e os papéis são considerados como bem precificados.