Guedes quer liberar R$ 63 bi com FGTS e PIS/Pasep: quais são os efeitos na economia e na bolsa?

Economistas não acreditam que medida teria grande impacto na atividade, mas varejo pode apresentar melhora; construtoras, por sua vez, podem sofrer

Lara Rizério

(Marcos Corrêa/PR)

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SÃO PAULO – Não foi exatamente uma novidade, mas pode ter surpreendido pelo timing. Paulo Guedes, afirmou que, nos próximos dias, o Ministério da Economia deve anunciar a permissão para que os trabalhadores saquem até 35% dos recursos de suas contas ativas (dos contratos de trabalho atuais) do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A expectativa do governo é que a medida injete até R$ 42 bilhões na economia.

Com a liberação dos recursos do FGTS, haverá também mais uma rodada de saques do PIS/Pasep. Ele prevê que R$ 21 bilhões ficarão disponíveis, mas só R$ 2 bilhões devem ser efetivamente retirados pelos trabalhadores.

Em maio, Guedes havia afirmado que pretendia liberar dinheiro da conta ativa do FGTS, mas condicionando às reformas. Porém, as medidas devem sair antes do término da votação da Previdência no Congresso, uma vez que o governo vê cada vez mais a necessidade de anunciar o pacotão de medidas em meio ao ambiente econômico ainda fraco. 

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Assim, o plano busca reanimar a economia, via consumo, ainda este ano. A projeção oficial do governo é de crescimento do PIB de 0,81% enquanto que, o relatório Focus revisou para baixo as previsões para a economia pela 20ª vez seguida a perspectiva para a atividade deste ano, também para alta de 0,81%. 

Porém, conforme apontou o próprio Guedes na declaração feita em maio, sem outras medidas, apenas a liberação do FGTS geraria um efeito de “voo de galinha”.

“Esse anúncio pode dar algum alento momentâneo ao consumo no curto prazo, mas não são medidas dessa natureza que vão levar a crescimento robusto e sustentável a médio e longo prazo”, aponta Alberto Ramos, economista para a América Latina do Goldman Sachs.  

Conforme avalia Ramos, esse tipo de crescimento requer aumento dos indicadores de confiança e reformas que tornem a economia mais flexível e competitiva e produtiva. 

Roberto Secemski, economista para o Brasil do Barclays, também mostra ceticismo com os efeitos da economia em um prazo mais longo. 

“A liberação do FGTS tem efeito positivo no consumo no curto prazo, como vimos em 2017 quando o Presidente Michel Temer liberou uma quantia similar a esta que esta sendo discutida agora no FGTS [de R$ 44 bilhões]”, avalia Secemski.

O economista lembra que o consumo das famílias cresceu 1,1% em média entre o segundo e o terceiro trimestre de 2017 (na comparação com trimestre imediatamente anterior), desacelerando para 0,3% em média desde então.

Assim, se a medida for de fato confirmada, pode ser observada alguma melhora no indicador durante o segundo semestre, o que já está considerado na projeção do Barclays para a projeção de crescimento do PIB este ano, atualmente em 1%. 

Porém, vale destacar a avaliação de que a liberação dos saques, se concretizada,  será feita num contexto melhor que em 2017, conforme opinião de Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).

Segundo Terra, os saques do FGTS devem dar tração à economia, já que o pacote de reformas cria um ambiente favorável. Assim, com reformas aprovadas que aumentam a confiança na economia, uma injeção de recursos poderia gerar um ciclo virtuoso com efeitos mais prolongados na atividade.  

Efeitos nos setores

Se, a princípio, ainda há dúvidas sobre o impacto das medidas na economia, os efeitos sobre alguns setores da bolsa são mais facilmente percebidos. 

Os papéis de varejistas costumam reagir com desempenho positivo a esses anúncios em meio às perspectivas de que o consumo se reaqueça (como destacado acima). 

Assim, entre as empresas beneficiadas, estão Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3), Lojas Renner (LREN3), Lojas Americanas (LAME4), Via Varejo (VVAR3), Cia. Hering (HGTX3), Guararapes (GUAR3), entre outras do setor. 

Por outro lado, para as construtoras, o impacto é visto como negativo, principalmente para empresas voltadas para os segmentos de baixa e média rendas. 

Afora a demissão sem justa causa, aposentadoria e outros fatores empregatícios, o FGTS hoje só é liberado para compra da casa própria no valor de até R$ 1,5 milhão (novo teto estabelecido em janeiro de 2019). Isso cria um interesse pela compra de imóveis como forma de otimizar esse patrimônio, já que a rentabilidade do FGTS é baixíssima – muitas vezes, abaixo da inflação. Com a possibilidade de saque para qualquer fim, cria-se o temor de que as vendas de imóveis esfriem. Veja mais sobre o assunto clicando aqui. 

Analistas que acompanham o setor também apontam que qualquer medida que limite a liquidez desse financiamento prejudica a disponibilidade de crédito para o MCMV, limitando seu crescimento. E o programa de habitação para baixa renda vem sendo o grande pilar de sustentação da Construção Civil nos anos de crise: nos três últimos anos, 44% dos lançamentos de moradias em São Paulo foram destinadas a essa categoria.

Assim, companhias como MRV (MRVE3), Tenda (TEND3) e Direcional (DIRR3) seriam mais impactadas. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.