Guedes fala em cortar tarifas de importação de aço e abala siderúrgicas na B3, mas notícia não é tão ruim quanto parece

Itaú BBA destacou conversas com interlocutores de uma redução de 1,2 ponto percentual na tarifa, sem um impacto forte no Ebitda

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A fala de Paulo Guedes, ministro da Economia, durante live do Valor sobre a potencial redução das tarifas de importação de aço abalaram as ações de siderúrgicas na sessão desta quarta-feira (14).

As ações CSNA3 fecharam em baixa de 3,98%, a R$ 45,40, os papéis USIM5 caíram 3,46%, a R$ 19,79, enquanto os ativos GGBR4 tiveram desvalorização de 1,31%, a R$ 30,13 no pregão como reação à fala.

Segundo o ministro, representantes o setor de aço “fizeram um acordo informal conosco [com o governo] para não subir preços até o fim do ano”. Por outro lado, disse o ministro, “eles aceitam uma queda de 10% na tarifa de importação. Nós já tínhamos avisado que faríamos isso”, disse.

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A notícia abalou as ações do setor em meio às indicações de maior concorrência com empresas do exterior e também gerou muitas dúvidas entre os investidores sobre o que há de concreto nas falas do ministro.

Guedes apontou que as medidas teriam sido tomadas em contexto de demanda aquecida por aço diante do ”boom” do setor de construção enquanto a oferta sobre restrições, uma vez que a atividade das siderúrgicas foi contida durante a pandemia, com fornos desligados. O ministro afirmou que as importações têm aumentado e as exportações diminuíram nessa “disputa”, além de apontar que está em contato tanto com representantes da construção civil quanto da cadeia de aço.

Após muitos questionamentos de investidores, o Itaú BBA apontou em nota que analistas do setor conversaram com dois interlocutores com conhecimento no tema. Eles confirmaram o entendimento anterior de que a redução proposta seria de 10%, e não de 10 pontos percentuais. Ou seja, a tarifa de importação seria reduzida em 1,2 ponto percentual, de 12% para 10,8%. Nesse cenário, o impacto sobre as empresas de cobertura do BBA seria limitado.

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Assim, o BBA vê a queda nos preços das ações após o evento como uma oportunidade de compra. O banco possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as ações de Gerdau, CSN e Usiminas, com preço justo respectivo de R$ 45 (potencial de alta de 47% frente o fechamento da véspera), R$ 61 (upside de 29%) e R$ 25 (upside de 22%).

Os analistas fizeram uma análise de sensibilidade que mostram o impacto de uma redução em 1 ponto percentual no preço doméstico para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) esperado para 2022. O impacto para a Gerdau seria de 2,9%, para a CSN de 1,2% e para a Usiminas de 4,2%.

O Credit Suisse também aponta que, de acordo com a fala do ministro, a proposta de redução tarifária ainda precisaria ser sancionada pelo Mercosul e a implementação é desafiadora.

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“A ameaça de redução das tarifas de importação de aço no Brasil tem sido constante desde que o atual governo assumiu em 2019. Portanto, esse corte (se confirmado) não seria uma grande surpresa”, apontam os analistas do banco.

No entanto, avaliam, uma redução nas tarifas de importação de aço tem o potencial de impactar os preços domésticos do aço, uma vez que funcionam com base na paridade de importação. “A paridade de importação hoje está de fato acima dos níveis ‘normalizados’ de 5-10%, já que em nossos números estão em 17% para aços planos e 22% para aços longos. Ao mesmo tempo, vale mencionar que a importação de aço para o Brasil tem sido um desafio significativo neste ano, já que as siderúrgicas no exterior estão lutando para acompanhar a forte recuperação da demanda desde o segundo semestre de 2020 e os prazos de entrega ainda estão acima da média (pode levar cerca de 4 meses para incorporar produtos do exterior)”, avaliam os analistas do Credit.

Além disso, eles ressaltam que a volatilidade dos preços no exterior e os movimentos cambiais têm sido consideráveis, o que reduz a atratividade e, como consequência, a penetração das importações ainda é relativamente baixa, de 14% para planos e 15% para longos – mas está aumentando.

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“Diante de tudo isso, acreditamos que a redução das tarifas de importação de aço agora (especialmente na magnitude proposta de 12% a supostamente 10,8%) não deve provocar um aumento significativo nas importações. Além disso, há desafios para impor essa redução, pois entendemos que ela precisa ser aprovada pelos membros do Mercosul e alguns membros, como a Argentina, parecem não estar a par”, avaliam os analistas.

Se essa redução nas tarifas de importação for bem-sucedida, o efeito mais provável, na opinião do banco suíço, é de que ela reduza a probabilidade de aumentos adicionais no preço do aço no Brasil este ano (o que é a expectativa do Credit desde junho).

Mas, se uma redução nas tarifas de importação de aço desencadear uma redução igual nos preços do aço, os analistas calculam que cada redução de 1% nos preços domésticos do aço impactaria o Ebitda de 2022 da Usiminas em R$ 156 milhões, o da CSN em R$ 185 milhões e o da Gerdau em R$ 243 milhões.

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“No setor, continuamos construtivos com a CSN e a Usiminas, pois ambas negociam com valuations descontados assumindo ganhos ‘normalizados’ em 2022 e gerando rendimentos de fluxo de caixa livre atrativos. O setor ficou sob pressão hoje sobre essas manchetes, pois acreditamos que alguns temiam um corte mais material nas tarifas de 12% para 2%, o que entendemos não ser o caso, então aproveitaríamos esta oportunidade para comprar na baixa, especialmente dados os obstáculos significativos a impor mesmo um corte de 1,2 ponto, de 12% para 10,8%”, avaliam.

A XP avaliou em nota que vê a notícia como negativa para as ações do setor. “Acreditamos que exista espaço para redução do preço do aço no mercado doméstico. Após a queda da tarifa, dado o nível atual do dólar (de cerca de R$ 5,10), esperamos que a paridade de importação fique em torno de 10% para aços longos e planos, considerando um cenário em que preços não aumentam no Brasil até o final de 2021. Mantemos nossa recomendação de compra para a Gerdau e Neutra para Usiminas”, ressaltam os analistas.

Em comentário inicial, o BTG aponta que a questão é o tamanho da redução potencial de tarifas de importação; o banco também tem informações de redução da tarifa em 1,2 ponto.

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“Se isso for confirmado, parece ser melhor do que as manchetes sugerem e resultaria em impactos mínimos para o setor. Claro, essas são manchetes negativas e podem continuar pesando sobre o sentimento. Mas a redução na tarifa de 1,2 ponto percentual não seria uma virada de jogo. Já assumimos no nosso modelo uma moderação de preço de 5% no segundo semestre e de aproximadamente 15% em 2022 – então já somos conservadores”, afirmaram.

Por enquanto, há incerteza sobre o tema. Segundo o Valor, representantes de entidades do setor têm negado acordo. Ao jornal, Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, afirmou: “O ministro Guedes, alegando receio de pressão inflacionária, propôs que não se fizessem novos aumentos, mas respondemos que, por questões de ‘compliance’ e de concorrência e políticas comerciais próprias não poderíamos firmar esse compromisso.” Segundo Lopes, foi assegurado que o cenário de alta das commodities, razão dos reajustes no Brasil e no mundo, mostrava sinais de estabilização. Ele teria ressaltado ainda que a discussão sobre a redução de alíquotas de importação envolve todos os setores, não só o do aço, e que a iniciativa depende do aval dos sócios do Mercosul.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.