Guedes defende privatização da Eletrobras via capitalização e atribui à pandemia atrasos na venda de estatais

Ministro disse que a pandemia atrasou a pauta de privatizações e defendeu a venda da Eletrobras via capitalização

Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – Paulo Guedes, ministro da Economia, disse na tarde desta segunda-feira (5) que a Eletrobras (ELET3;ELET6) e os Correios foram colocados na “esteira das privatizações” pela equipe econômica e pelo governo Bolsonaro. Ele também defendeu a privatização da estatal de energia elétrica via capitalização. Os comentários foram feitos durante participação na série Super Lives – 1 ano de pandemia, promovida pelo InfoMoney em parceria com a XP.

O ministro abordou as discussões sobre o modelo de privatização que pode ser adotado pela Eletrobras, afirmando que existe “barulho” e existe “informação” em relação ao assunto.

O governo vem defendendo a privatização da Eletrobras via capitalização, modelo segundo o qual a empresa emite novas ações e a participação do controlador (governo) é diluída a um percentual inferior a 50%. Assim, a empresa deixa de ter um controlador definido. Esse modelo, que é o previsto pela Medida Provisória (MP) que trata da privatização da Eletrobras, poderia agilizar o processo de privatização da estatal, segundo técnicos da equipe econômica.

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Porém, na semana retrasada, fontes afirmaram ao jornal O Globo que o relator da MP da Eletrobras, o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), tem feito uma série de reuniões com gestores, investidores e integrantes da equipe econômica para defender um modelo alternativo de privatização da estatal elétrica. Sua ideia seria fatiar a Eletrobras e vender suas subsidiárias separadamente ou vendê-la por completo para um só comprador. A notícia foi mal recebida pelo mercado e analistas criticaram a tentativa do relator, afirmando que esse outro modelo atrasaria o processo de privatização da empresa e poderia gerar uma nova concentração de ações nas mãos de um novo controlador, prejudicando os acionistas minoritários.

“Tem o barulho e tem a informação. A informação é que nós colocamos isso na esteira da privatização, duas grandes privatizações [Eletrobras e Correios]. O barulho é o seguinte: qual vai ser o modelo? Tem gente defendendo que a Eletrobras seja decomposta e nós temos argumentos para demonstrar que o ideal é fazer do jeito que está acontecendo, fazer a capitalização, como a gente está chamando. Temos que usar às vezes esses termos [como capitalização], mas na verdade é para ela [Eletrobras] poder investir, retomar os investimentos”, afirmou Guedes no evento do InfoMoney e da XP.

Questionado sobre o andamento da agenda de privatizações, o ministro da Economia atribuiu o atraso no cronograma de venda das estatais à pandemia. “Isso [a agenda de privatização] vai ser uma conversa política nossa aqui, porque o nosso programa [econômico] previa realmente acelerar privatizações, reduzir o endividamento público, fazer as reformas Administrativa, Tributária, tudo isso. A pandemia atrasou várias dimensões do nosso programa e hoje nós estamos debatendo justamente o Orçamento. Tudo isso ainda está envolvido nessa terrível pandemia”, disse Guedes durante a live.

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No evento,  ministro também minimizou o impasse gerado em torno da aprovação do Orçamento de 2021 e negou haver brigas entre o governo e parlamentares, definindo a atual situação como um “problema de coordenação”. Veja a matéria completa sobre a entrevista do ministro.

Privatização mais próxima ou distante?

Ainda que os rumores sobre a mudança no modelo de capitalização da Eletrobras pretendida pelo relator da MP apontem para mais atrasos, recentemente a privatização da empresa entrou no Plano Nacional de Desestatização (PND) do governo. Além disso, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), sinalizaram há duas semanas, em live do jornal Valor Econômico, ser favoráveis à proposta de capitalização da Eletrobras, defendendo o modelo e afirmando que ele deveria avançar em breve na Câmara.

Na entrevista desta segunda-feira, Guedes comentou a inclusão da Eletrobras no PND e as sinalizações dos políticos, que fazem parte da base do governo. “Correios e Eletrobras foi justamente um movimento que a base do governo fez, admitindo colocar isso [as privatizações] no PND para mostrar que ela [a base] está alinhada com a meta de privatizações.”

Logo após as manifestações dos presidentes do Congresso e a inclusão no Plano de Desestatização, Kaíque Vasconscellos, sócio da Helius Capital, que acompanha ações do setor elétrico há 15 anos, disse em entrevista ao programa Radar InfoMoney que a privatização estava mais perto de acontecer do que em qualquer outro momento em que o assunto foi discutido – lembrando que a ideia de privatizar a empresa começou a ser debatida em 2017, ainda no governo Temer. Porém, na ocasião ele já havia alertado que o cenário para a empresa ainda era incerto, assim como o cenário político de forma geral.

Como a privatização de empresas sofre, historicamente, resistência de parlamentares do Centrão, que se beneficiam da indicação de cargos nas estatais, fato é que o tema é espinhoso. E o destravamento dessa pauta pode se tornar ainda mais complexo com o enfraquecimento do governo Bolsonaro e o fortalecimento do Centrão, que tem ditado o rumo das pautas econômicas, conforme destacam analistas políticos e econômicos.

A despeito das sinalizações recentes a favor da agenda de privatização, analistas lembram ainda que o presidente do Senado sempre teve uma resistência particular à privatização da Eletrobras porque Furnas, uma das subsidiárias mais importantes da estatal, fica em Minas Gerais, reduto eleitoral de Pacheco. Assim, políticos mineiros aliados ao presidente do Senado podem pressioná-lo para evitar que a empresa não seja repassada à iniciativa privada.

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Priscila Yazbek

Editora de Finanças do InfoMoney.