Grendene (GRND3) vê margem apertar, mas lucra R$ 174,2 milhões no 3º trimestre

Dona das marcas Melissa, Ipanema e Rider repassou preços, mas demanda acabou comprometida por inverno mais frio que o habitual

Rikardy Tooge

(Divulgação/Melissa)

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O clima para o setor de consumo não está dos mais favoráveis em 2022. A alta dos juros tornou o acesso ao dinheiro mais difícil e fez disparar a inadimplência da população neste ano. No caso da Grendene (GRND3), o clima que a afetou foi o de temperaturas abaixo do normal para o terceiro trimestre no Sul e Sudeste. Isso impactou a compra de chinelos e sandálias, que é o core da empresa.

“As pessoas não compram chinelo no frio, o que fez nossos revendedores segurarem os pedidos, mas, ainda assim, nossos resultados foram muito satisfatórios”, explica Alceu Albuquerque, diretor de relações com os investidores da Grendene ao InfoMoney.

No terceiro trimestre de 2022, a dona das marcas Melissa, Ipanema e Rider registrou lucro líquido contábil de R$ 174,2 milhões, com queda de 16,3% sobre igual período de 2021. Já o lucro líquido ajustado foi de R$ 198,5 milhões, representando uma alta de 45,5% no mesmo comparativo.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) alcançou R$ 87,7 milhões, com recuo de 37,6%. O número é explicado pala pressão que as margens sofreram no trimestre encerrado em setembro.

A empresa também anunciou a distribuição de R$ 93,1 milhões em dividendos, que serão pagos em 23 de novembro. Isso equivale a R$ 0,103 por papel. Terão direito ao pagamento quem possuir ações da Grendene ao final do pregão do dia 3 de novembro. A partir do dia 4 de novembro, os papéis serão negociados ex-dividendos.

Grendene vê margem apertar

O custo dos produtos vendidos (CPV), indicador importante para o segmento, subiu 13,7% em um ano. De R$ 8,53 milhões para R$ 9,7 milhões. A margem bruta caiu 4,4 pontos percentuais, para 39,8%, e a margem Ebitda foi 8,6 pontos menor, de 20,9% para 12,3%. O volume total de vendas avançou 0,7%, para 44,3 milhões de pares.

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Albuquerque aponta que o custo da matéria-prima vem subindo constantemente desde o início da pandemia. Se, antes da crise, o custo da resina de PVC representava 23% da receita líquida, hoje responde por 30%.

“Nossos outros custos se mantiveram estáveis, mas a matéria-prima e as despesas operacionais [frete e comissões, por exemplo] acabaram subindo e prejudicaram a margem”, justifica.

Por outro lado, o executivo reforça a consistência do caixa da Grendene, de cerca de R$ 1,6 bilhão. Apenas em aplicações financeiras, a empresa apontou uma disparada: de R$ 13 milhões no 3T21 para R$ 122,8 milhões, fruto da taxa de juros mais alta no período.

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Força da Melissa

Alceu Albuquerque destaca também o desempenho da Melissa nos resultados. A marca de sandálias femininas apresentou receita bruta 12,7% maior, com o valor do preço por par subindo 21,6%, indicando que foi possível repassar preços e vender produtos de maior valor agregado.

O sistema de franquias da marca, o Clube Melissa, chegou a 389 lojas no trimestre, com crescimento de 12,3% no faturamento da rede, a um preço médio 13,3% maior.

“A Melissa representa cerca de 25% do faturamento da Grendene – mesmo nível da Ipanema e da nossa linha masculina –, mas é a marca com maior valor percebido, o que garante melhor repasse”, prossegue. No trimestre, a Grendene aponta que R$ 88 milhões de receita bruta foram agregados em função do reajuste de preços.

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Agora, a estratégia é implementar a vertical de franquias para outras marcas além da Melissa, e um teste de validação (MVP, em inglês) está sendo feito com a Rider, de chinelos masculinos.

Otimismo com cautela

A expectativa de Albuquerque para o último terço do ano é positiva, uma vez que esta é a melhor época do ano para a Grendene. Ele acredita que, passada a incerteza eleitoral, a chegada do verão e o boom esperado para o varejo devem alavancar os resultados da empresa.

“Nós estamos otimistas, mas com cautela, ainda enfrentamos inflação e desemprego altos, então a renda não está confortável. Mas este costuma ser nosso melhor trimestre e estamos prontos para ele, sempre preservando nossa premissa de trabalhar com margens altas”, diz o executivo.

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Ações GRND3

No ano, os papéis da Grendene recuam 19%, com a ação valendo R$ 6,86, (alta de 1,62% nesta quinta-feira) o que lhe concede um valuation de R$ 6,2 bilhões e indicador Preço/Lucro de 9,8. Já o Preço/Valor Patrimonial por Ação é de 1,5 .

Alceu Albuquerque aponta que há um forte desconto em relação a sua principal concorrente, a Alpagartas (ALPA4), que possui valor de mercado de R$ 12,5 bilhões, com P/L de 23 e P/VPA de 2,2.

“Nós estamos entregando ano após anos dividendos e resultados mais consistentes, creio que o mercado ainda não precificou isso, mas estamos confiantes”, conclui.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br