Governo entra em campo para mostrar que não está abatido com o “efeito Cunha”

Temer e auxiliares agem para votar o segundo turno da PEC de Gastos na semana que vem para não dar a impressão de que a prisão do ex-presidente da Câmara paralisa Brasília de medo.

José Marcio Mendonça

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O governo Temer e os políticos de um modo geral continuaram “cheios de dedos” para comentar a prisão de Eduardo Cunha. De volta da Índia e do Japão, o presidente, via novo porta-voz, Alexandre Parola, limitou-se a dizer que o encarceramento do ex-presidente da Câmara não afeta a agenda do país e que jamais interferirá na Operação Lava-Jato. O Congresso, mais do que nas quintas-feiras habituais, esteve oco de parlamentares – e especialmente de opiniões sobre o antigo colega e líder.

A realidade, porém, é distinta: o clima no universo político continuou variando entre a apreensão e o puro medo. De um lado, pelo que Cunha pode fazer e delatar, ainda mais depois da notícia que o ex-deputado contratou para reforçar sua defesa um advogado especializado em delação premiada. De outro, porque se teme que o pânico paralise o Congresso e atrase a votação dos projetos da área econômica. O atarantado dos deputados e senadores na quarta-feira assustou. Parecia um bando de fantasminhas com medo do fantasmão que pode se materializar em Curitiba.

Os movimentos do mercado financeiro ontem, especialmente a subida dos juros mesmo após a queda de taxa básica em 0,25% ponto percentual determinada pelo Copom na quarta-feira, pode está sendo visto como um sinal de que os meios econômicos começam a se assustar (e a se proteger) com esse possível atraso nas decisões do Congresso.

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Em algum sentido pode estar aí, inclusive, a explicação para a volta antecipada do presidente Michel Temer de sua viagem ao Exterior. O governo precisa concentrar forças para tentar abafar os efeitos negativos da prisão de Cunha. Agora, mais do que nunca é necessário votar na semana que vem, de preferência tão logo na segunda-feira, 24, como está programado, o segundo turno da PEC do Teto de Gastos e encaminhar o projeto imediatamente para o Senado. E ganhar de novo na Câmara com mais que os 366 votos do primeiro turno.

Temer, inclusive, está convidando os deputados aliados para uma conversa na segunda-feira pela manhã no Palácio do Planalto, numa espécie de “reunião de Trabalho”, para tê-los cedo em Brasília. Como já o fez com sucesso na véspera da votação do primeiro turno com um jantar festivo no Palácio da Alvorada. Na noite de segunda é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quem oferece um jantar para cerca de 400 deputados, com direito a presença de Temer e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

O governo, para mostrar também que a “síndrome Cunha” não vai afetar de forma alguma sua disposição de agir na frente econômica, deve precipitar as reuniões de debate dos termos do projeto de reforma da Previdência, com a convocação dos encontros prometidos – e adiados – com as lideranças sindicais e empresariais. Não será surpresa se a proposta oficial estiver pronta para ser mandada para o Congresso em pouco mais de uma semana.

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A ordem em Brasília é não mostrar abatimento nem sofrer por antecipação com as acusações que se teme Cunha pode lançar sobre peemedebistas e aliados do presidente se resolver destravar sua bomba relógio. Segundo o “Valor Econômico”, o ex-deputado disse a seus advogados que precisa falar e vai falar.

BANCOS NÃO ACEITAM MAIS

PEDIDOS DE REPATRIAÇÃO

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Já basta outra bomba que está armada, esta muito concreta, e que Brasília não poderá ignorar, mesmo que não seja diretamente responsável por ela. Uma radiografia detalhada das finanças dos estados e municípios apresentada pelo Tesouro Nacional, mostrou que o “vermelho” das contas estaduais e municipais é bem pior que o informado. É penúria, é falência mesmo.

Os números oficiais, que já não eram simpáticos, descobriu-se agora estão piores, carregados de maquiagem. A “falsificação” mais grosseira está nas despesas com pessoal, inclusive com aposentadorias e pensões. Só os inativos representaram ema média 24% dos gastos dos governadores com folha de pagamento em 2015. O problema é com os cofres vazios, as contas estão se atrasando perigosamente. Tem muito funcionário pelos estados e municípios ameaçados de não ver o cheiro do 13º salário na hora aprazada.

Não sobrassem tantos pecados, está surgindo outro: os grandes bancos, segundo reportagem de “O Globo” já não estão aceitando mais novos pedidos de repatriação de capitais, embora o prazo legal para o pedido do benefício vá até 31 de outubro. Muitos fecharam suas portas no dia 14, inclusive o estatal Banco do Brasil. Isto pode diminuir a entrada de recursos nos cofres do Tesouro por esta via.

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Outros destaques

dos jornais do dia

– “Tesouro Nacional aponta que o rombo dos estados é o pior que o informado” (Globo)

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– “Aposentadoria faz gastos com pessoal crescer nos estados” (Folha)

– “Indicador do BC confirma agosto fraco na economia” (Folha/Globo)

– “Inflação de serviços resiste e deve atrasar corte dos juros” (Valor)

– “Com teto de gastos, Orçamento de 2017 já exige corte de R$ 14 bilhões” (Estado)

– “Com aprovação de MP, Petrobras ‘ganha’ despesa da R$ 7,5 bi” (Estado)

– “Odebrecht fecha venda de empresa da área ambiental para canadenses” (Folha)

– “Procuradoria indicia 21 por tragédia ambiental de Mariana” (Folha/Globo)

– “Moro defende prisões e vê ameaças a magistratura” (Estado)

– “Patrimônio de Cunha pode ser 53 vezes maior que o declarado” (Globo)

– “Cunha contrata advogado especializado em delações” (Folha)

– “Zavascki nega liminar para anular impeachment” (Folha/Globo)

– “Collor recebeu R$ 29 milhões de propina da BR Distribuidora, diz PGR” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Cratera na justiça” (diz que noção de que a impunidade impera ganha força quando julgamento de tragédias como as do Metrô terminam sem responsabilizar ninguém) – Folha

2. Bernardo Mello Franco – “Hora e a vez dos jabutis” (diz que a clientela de Cunha era maior e mais ampla que o cartel de empreiteiras do petrolão) – Folha

3. Vinícius Torres Freire – “Juros sobem, Cunha cai (diz que um dia depois da decisão do BC reverte a queda dos juros – e o governo quer apagar ‘efeito’ Cunha) – Folha

4. Cláudia Safatle – “Governo confia que PIB reage no fim do ano” (diz que há esperança de um resultado melhor que zero no quarto trimestre) – Valor

5. Editorial – “Retomada do crescimento é adiada, mas está a caminho” (diz que os números sobre comportamento da indústria e salários são voláteis, e não permitem apostas firmes, mas dão alguma confiança no futuro) – Valor

6. Editorial – “Banco Central pagou sem ver” (diz que ao cortar os juros para 14%, mais uma vez o BC paga adiantada em segurança da contrapartida) (Estado)