Gosta de operar vendido? Investidor com dívida de US$ 400 mil tem uma lição para você

Uma das operações mais buscadas por investidores durante períodos "ruins" na Bolsa pode também ser um grande risco para quem não sabe o que está fazendo

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Para quem não conhece ou acabou de entrar no mercado financeiro, a ideia principal de operar na Bolsa gira em torno basicamente de comprar ações. Porém, há uma operação, muito procurada em tempos de crise principalmente, que visa fazer o investidor lucrar mesmo quando os ativos caem. Para muitos investidores, operar vendido pode ser um ótimo mecanismo para ganhar no mercado mesmo quando o cenário não é nada bom, mas os riscos são gigantescos e um investidor americano se tornou um ótimo exemplo.

Na última semana, a ação de uma companhia farmacêutica chamou bastante atenção ao disparar mais de 800% em apenas um pregão. E com isso, nos fóruns de investidores nos EUA, a história de Joe Campbell ganhou muito destaque, já que ele foi dormir com US$ 37 mil em sua conta na corretora e acordou com uma dívida de cerca de US$ 106 mil. Como isto aconteceu? Ele investiu alto demais ao operar vendido.

Tudo começou quando a KaloBios informou ao mercado, há cerca de duas semanas, que iria reduzir suas operações porque estava ficando sem dinheiro durante o desenvolvimento de duas drogas contra o câncer. Diante disso, o mercado praticamente fugiu das ações da empresa, com um grande risco dela quebrar, e foi neste momento que Campbell viu uma “mina de ouro” na sua frente e decidiu apostar alto na queda destes papéis.

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O problema é que existe o after market. Quando a Bolsa fechou, Campbell viu que as ações estavam com pouca oscilação e decidiu desligar seu home broker e ir para casa. O problema é que minutos depois a companhia anunciou que Martin Shkreli, CEO da Turing Pharmaceuticals, havia atingido uma participação na empresa de mais de 50%, ou seja, ele ahavia assumido a KaloBios, o que iria salvar suas operações.

Diante disso, os papéis dispararam pouco mais de 800% no after market (vale lembrar aqui que em Wall Street há um limite de quanto a ação pode cair, mas não há limites em relação à alta). Com isso, Joe Campbell viu todo seu investimento ir “pelo ralo” e ainda contraiu uma dívida monstruosa, que só aumentou durante o pregão seguinte, já que as ações da KaloBios subiram mais 400%, levando a dívida dele para cerca de US$ 401 mil.

Campbell correu para contar sua história em diversos blogs tentando pedir por ajuda de outros investidores. De fato, algumas pessoas sentiram pena e fizeram doações para ele, mas o que mais se viu foram investidores criticando e fazendo brincadeiras com o que ele havia feito. Tudo isso, porque, apesar de ser uma boa estratégia em tempos ruins, operar vendido é bastante arriscado e é preciso saber o que se está fazendo.

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Como funciona e porque as perdas podem ser maiores
Para operar vendido é tão simples quanto uma operação normal de compra de ações, a diferença é que você “não tem” esta ação ainda. No mercado de ações, pare realizar esta operação você utilizará o BTC (Banco de Títulos e Custódia), onde os investidores que estão comprados em ativos disponibilizam suas ações para aluguel e em troca disto recebem uma porcentagem pelo período que a mesma for utilizada.

Se você deseja operar vendido, basta alugar essas ações, vendê-las e quando for encerrar sua operação, você a recompra e devolve para aquele que alugou ela a você. Porém, um dos maiores problemas é que, diferente de uma operação normal de compra – onde, no máximo, você irá perder tudo que investiu -, neste caso é possível perder “mais do que tudo”, como aconteceu com Joe Campbell.

Por exemplo, se eu tenho um patrimônio de R$ 100.000 em ações e me alavanco, no mercado a termo por exemplo, comprando mais R$ 500.000 em ações, basta uma queda de 20% para que eu perca tudo o que tenho. Porém, se a queda for superior a 20%, eu perco tudo o que tenho e mais o que não tenho.

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Se houver uma queda de 30%, por exemplo, perco R$ 150.000, mas meu patrimônio era só de R$ 100.000. Portanto não tenho mais nada e ainda estou devendo outros R$ 50.000, que me serão cobrados pela corretora. A operação é semelhante a um empréstimo com o banco, mas neste caso, em vez de pegar emprestado dinheiro você terá alugado ações.

É hora ou não é de comprar ações da Petrobras? Veja essa análise especial antes de decidir:

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.