Gerdau (GGBR4) mostra preocupação com setor, vê demissões no Brasil e corte de produção nos EUA: o que esperar para ações?

Após "inundação" de aço chinês no Brasil, greve das montadores americanas acende mais um sinal de alerta quanto às ações da companhia

Vitor Azevedo

Publicidade

Os últimos dias vêm sendo marcados por uma bateria de manchetes negativas para a Gerdau (GGBR4). Greve de montadoras nos Estados Unidos, possíveis demissões no Brasil e falas do atual presidente do seu conselho foram algumas das notícias que minguaram os ânimos de investidores com a empresa, que de favorita do setor no último trimestre passou a ser uma incógnita.

No ano, até agora, as ações preferenciais da companhia acumulam uma queda de mais de 13%. No último mês, apesar de a China ter dado alguns sinais de que pode estar se recuperando, fora de que irá estimular sua economia, os papéis caíram 3%.

Já há algum tempo, os executivos das siderúrgicas nacionais mostram incômodo com o fato de o aço chinês estar entrando no Brasil – durante as teleconferências de resultados do segundo trimestre, as reclamações sobre a falta de tributação foram uma constante.

Continua depois da publicidade

Com a China, segunda maior economia do mundo cambaleando, bem como o seu setor imobiliário, as fabricantes de aço do gigante asiático passaram a exportar suas produções, que seriam subsidiadas. Com isso, companhias como Gerdau, Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3) estariam encontrando dificuldades em se manter competitivas no mercado brasileiro.

“Quanto à China, a gente até começou a ver alguns estímulos. Contudo, precisamos de um tempo para ver se isso realmente vai conseguir ajudar a economia do país. Acho que nesse primeiro momento, esses estímulos anunciados vão muito mais na linha de conseguir segurar o crescimento do PIB em pelo menos 5% do que realmente impulsionar um crescimento mais forte”, fala Fabiano Vaz, sócio e analista da Nord Research.

China no cerne das questões

Se a economia por lá não voltar a engatar, é provável que o país continue exportando sua produção de aço. A China possui atualmente cerca de 57% de participação no mercado global de siderurgia.

Continua depois da publicidade

“Este cenário na região é decorrente de uma menor demanda na construção civil chinesa. O país asiático focou boa parte da sua economia neste setor e, atualmente, há uma desaceleração no ritmo de compra de residências por parte da população, bem como problemas financeiros nos balanços das principais construtoras daquele país”, explica a Levante no seu morning call desta quinta-feira (28).

Parte do setor metalúrgico esperava ainda que a produção de aço chinesa iria cair em 2023 por conta da economia mais fraca e de olho nas restrições de produção, uma vez que no ano passado, algumas regiões do país fecharam siderúrgicas, de olho nos níveis de poluição. Isso, contudo, não deve mais acontecer em 2023.

“Ao contrário do que o mercado esperava, a siderurgia chinesa deve crescer cerca de 2% este ano e atingir uma produção de um bilhão e 80 milhões de toneladas de aço”, diz o time da Levante.

Publicidade

A produção de aço chinesa aumentando, além de impactar negativamente os preços do aço, ainda traz problemas para as margens das companhias – uma vez que o minério, principal matéria prima utilizada pelas siderúrgicas, continua em patamares elevados.

“Em um cenário cujas siderúrgicas chinesas não tem desacelerado como o mercado esperava, a Vale (VALE3) deve ter mais um trimestre de forte geração de caixa”, fala a Levante. “Em contrapartida, as siderúrgicas brasileiras enfrentam um cenário de maior dificuldade com a chegada de um volume maior de produtos importados”.

Todo esse contexto leva a reclamações das brasileiras sobre a tributação das importações. Recentemente, foi aprovada a volta da carga tributária padrão para importação de produtos siderúrgicos, que ficará entre 9% até 14,4% a partir de primeiro de outubro de 2023. As alíquotas de importação estão reduzidas desde o ano passado. Os executivos das companhias locais, contudo, querem mais – algo próximo a 25%, segundo o Instituto Aço Brasil.

Continua depois da publicidade

Gerdau impactada por fatores internos e dúvidas nos EUA

Fora a questão chinesa, há ainda dúvidas quanto aos  fatores brasileiros e também quanto à economia americana.

No segundo trimestre, a Gerdau era a favorita de muitos dos especialistas por conta de sua maior exposição aos Estados Unidos. Hoje, no entanto, essa maior exposição se tornou motivo para maior cautela.

“Quanto à demanda doméstica, acho que o ciclo de queda de juros pode até ajudar, mas hoje a gente já tem bastante dúvida em relação a até onde essas baixas irão, porque a gente tem um fiscal com bastante incerteza”, fala Fabiano Vaz.

Publicidade

“Já nos Estados Unidos, que representam cerca de 50% do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês], a gente ainda tem algumas incertezas de como vai ser o ciclo de política monetária por lá e o quanto ele vai impactar na economia. Com tudo isso, acabamos por ficar um pouco desconfortável com as ações da Gerdau”, completa o analista.

Para o especialista da Nord, mesmo a Gerdau negociando hoje a múltiplos baratos (cinco vezes o preço sobre lucro e três vezes o Ebitda), é muito difícil afirmar como a empresa se saíra nos próximos trimestres. “É provável que as ações continuem caindo”, diz.

Agora, por fim, a greve das montadoras americanas coloca mais névoa sobre a metalúrgica no curto e médio prazo. Gustavo Werneck, diretor-executivo da Gerdau, afirmou à Bloomberg que a companhia irá cortar sua produção de aço nos EUA por conta da paralisação. O CEO da Gerdau afirmou que uma disputa prolongada terá, sem dúvida, um impacto em cascata na procura por aço especial utilizado na fabricação de componentes automotivos, o que afetará as atividades da empresa.

Atualmente, segundo compilação da Refinitiv, as ações preferenciais da Gerdau têm 12 recomendações de compra e quatro neutras, com preço-alvo médio em R$ 32,65 – upside de 33,5% frente ao fechamento da véspera.