Gerdau (GGBR4): ‘Enxurrada’ de aço chinês no Brasil afeta venda interna e exportações, gerando cautela com dividendos

Siderúrgica faz severas críticas à importação, afirma que setor vive ‘tragédia’ e espera medidas urgentes do governo

Augusto Diniz

Publicidade

Mais uma vez, a reclamação contra as importações de aço asiático pautou o desempenho trimestral da siderúrgica brasileira Gerdau (GGBR4). Durante teleconferência com analistas, a companhia atribui o desaquecimento do nível de atividade dos mercados à inflação global, às altas taxas de juros, os conflitos geopolíticos, à fragilidade na economia e, principalmente, a entrada excessiva de aço importado, principalmente da China, no mercado brasileiro.

Segundo comentou Gustavo Werneck, CEO da Gerdau (GGBR4), o movimento de importação de aços longos e planos segue ocorrendo neste quarto trimestre e exige “medidas de correção urgente” por parte do governo federal. O executivo disse que entre janeiro a setembro, a importação de aço avançou 57,9% em relação igual período de 2022, e a taxa de penetração chegou a 23%, segundo o Instituto Aço Brasil.

“A competição com aço asiático é injusta”, afirmou o CEO a analistas, uma vez que os preços praticados são inferiores ao custo de produção. “Nesse contexto, sendo que metade desse volume tem origem da China, que exporta com práticas desleais, se torna urgente a elevação temporária das tarifas de importação em 25% por parte do governo federal no curto prazo”, disse, acrescentando que protecionismo desse tipo já foi feito na Europa, Estados Unidos e México.

Ebook Gratuito

Como analisar ações

Cadastre-se e receba um ebook que explica o que todo investidor precisa saber para fazer suas próprias análises

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Após da divulgação dos resultados, as ações da Gerdau recuam, cerca de 1,2%, cotadas a R$ 22,84. A empresa reportou lucro de R$ 1,6 bilhão no 3º trimestre, queda de 47%, mas o desempenho ficou acima do previsto. Além disso, junto com a Metalúrgica Gerdau (GOAU4), anunciou dividendos de R$ 1,78 bilhão.

Gerdau espera que China não pare exportações

“A gente vinha com uma expetativa dos últimos meses que conseguiria encontrar oportunidades de continuar exportando a partir de nossa operação do Brasil, e que teríamos uma penetração do aço importado da Ásia, especialmente, da China, menor do que de fato aconteceu”, explicou.

“Mas nós estivemos nas últimas semanas visitando a China e nós saímos bastante convencidos que esse patamar atual de exportação vai continuar acontecendo”, complementou.

Continua depois da publicidade

“A China está procurando geografias e países que não implantaram medidas de contenção desse aço que chega subsidiado, de forma predatória e desleal”, destacou a analistas.

Redução de produção e demissões

Por conta do contexto adverso, Gustavo Werneck disse que a empresa decidiu retirar capacidade e reduzir custo fixo, “para navegar em um cenário” em que acredita que vá “perdurar nos próximos meses”.

“A grande mudança que pode acontecer, além da redução de custo fixo e retirada de capacidade, é essa colocação de medidas do governo federal que possam criar condições mais isonômicas para a gente competir com esse aço chinês. Isso é uma tragédia para toda indústria do aço no Brasil”, ressaltou.

Continua depois da publicidade

A Gerdau informa que já diminuiu capacidade de produção de unidades no Ceará e Rio Grande do Sul, além de fazer desligamento de 700 colaboradores.

Vendas ao exterior também difíceis

Enquanto isso, a companhia vê o mercado exportador como fechado. “Cerca de 22% da nossa capacidade instalada no Brasil tradicionalmente é vocacionada para exportação. Mas com essa inundação de aço chinês no mundo, a gente não encontra hoje oportunidades de exportar com margens que sejam atrativas para nós”, reclamou.

Diligência com distribuição de dividendos

Nesse 3T23, a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) aprovou a distribuição de R$ 960 milhões em dividendos, e a Gerdau, proventos no valor de R$ 822,2 milhões. Mas o momento requer cautela, de acordo com Rafael Japur, CFO da companhia.

Publicidade

“Quando a gente tem momento como hoje, em que a operação no Brasil está performando aquém do que vinha performando nos trimestres anteriores, com uma enxurrada de material importado e, ao mesmo tempo, a principal carteira que temos de capex são no Brasil – R$ 11,9 bilhões no total, com parcela importante na operação Brasil –, a gente começa a depender de trazer dinheiro de outras subsidiárias para fazer essa distribuição de dividendos, que nem sempre são oportunas como uma série de razões tributárias e financeiras”, explicou.

Japur argumentou que o ano não acabou e há ainda espaço para reavaliar a distribuição de dividendos nos próximos trimestres.

“Mas hoje, levando em consideração a perspectiva do mercado no Brasil, com enxurrado de material importado, batendo 23% de penetração agora no mês de setembro, sem uma tendência aparente de redução desse patamar de penetração e, ao mesmo tempo, uma carteira importante de projetos e com uma incerteza muito grande pela frente na economia brasileira, no consumo aparente com material doméstico, isso faz a gente ser um pouco mais cauteloso com relação à distribuição (de dividendos) e recursos em reais a partir do Brasil”, finalizou o CFO.