B3SA3: B3 discute criação de horário estendido de negociação e ingresso no mercado de recebíveis imobiliários

CEO descartou atuação da Bolsa com apostas esportivas e destacou diferenças na frente de criptoativos

Camille Bocanegra

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Horário estendido, portabilidade de investimentos e busca por facilidades para investidor estrangeiro e brasileiro não residente. Estas são algumas das iniciativas que a B3 (B3SA3) estuda implementar no ano que vem. Os temas foram endereçados, nesta terça-feira (12), durante o B3 Day.

“Consideramos a criação de horário estendido”, afirma Juca Andrade, vice-presidente de produtos e clientes da B3. O assunto foi adiantado pelo InfoMoney, em setembro, durante participação dos executivos da Bolsa na Expert XP 2023. Na ocasião, se falou ainda sobre a implementação de opções com vencimento semanal.

Hoje, novas pautas foram apresentadas pela companhia, dentro da visão para 2024. “Esse ano, trazemos aqui um reforço da estratégia da B3, que permanece na dedicação dos mercados de capitais no Brasil”, afirmou Gilson Finkelsztain, CEO da B3.

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Para o CEO, claramente há muita oportunidade de crescimento nos mercados locais e essa deve continuar sendo a aposta da companhia, somada a novas iniciativas, como ingresso no mercado de recebíveis.

No evento, outro ponto destacado foi a melhoria da atratividade do mercado brasileiro tanto para investidores estrangeiros quanto para o brasileiro não residente, facilitando o ingresso.

“Estamos tentando abrir canal para acesso de forma mais simples para o estrangeiro e brasileiro não residente”, afirmou Andrade.

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Entre as perspectivas para 2024, o CEO destacou que o considerado “rigor regulatório” hoje presente no Brasil deve continuar e se provou correto, ao longo dos anos.

Finkelsztain considera que o que foi construído no Brasil, em termos de regulamentação, “é muito sólido, também por conta da tecnicidade dos reguladores”. A tendência, segundo o executivo, é que esse rigor ainda aumente nos próximos anos.

“Cada vez mais, os reguladores lá fora têm demonstrado desconforto com algumas das atitudes que tomaram nos últimos anos”, afirmou CEO da B3.

Outra tendência do mercado seria a maior presença do buy side no mercado, observado nos últimos anos e sedimentado atualmente, no entendimento do executivo.

“Há um maior protagonismo de clientes do buy side mundo afora”, disse o CEO da B3, que considera que o negócio do buy side deverá crescer ainda mais nos próximos tempos, com novas classes e segmentos.

Criptoativos e frentes digitais

“São negócios desregulados na maioria das vezes e agora estão com alguma proximidade com a regulação”, afirmou Finkelsztain, em relação aos criptoativos. “É um negócio completamente diferente do nosso.”

“Tentaram se apropriar da palavra ‘bolsa’ para ganharem legitimidade”, comentou o executivo, sobre o mercado de criptoativos e sobre a necessidade de inovação pela competição entre ativos.

A estratégia da B3 para ativos digitais se baseia em três soluções. A primeira é a linha de fornecimento de produtos regulados e atrelados à ativos digitais, como ETFs, chamada Digitas Hub. A segunda parte da estratégia é a disponibilização de serviços nativos de ativos digitais, a Plataforma Digitas. E, uma terceira forma de atuação, está na observação de como a tecnologia afeta negociações e demais aspectos por meio da Digitas Check.

O objetivo da companhia, com o fornecimento, é tanto oferecer serviços de infraestrutura quanto reduzir “fricções” no mercado de ativos digitais, de acordo com a apresentação.

Crescimento de receita e novas iniciativas

Metade do crescimento de receita nos últimos 5 anos veio de novas iniciativas e produtos, afirmou CEO da B3. Entre os principais drivers de crescimento de receita, o executivo destacou os juros, financial deepening e inflação como fatores externos.

Já os pontos internos que levaram ao crescimento foram os novos produtos, tecnologia, atendimento e tarifação.

“O modelo diversificado de negócio reflete em resultados consistentes, com ações impulsionando a receita em cenários de juros mais baixos e a diversificação a suavizando em momentos desfavoráveis do ciclo”, destacou Gilson Finkelsztain.

“Deixamos para trás um fantasma de que as Bolsas estivessem em risco mundo afora através da tecnologia, por exemplo”, comentou, reforçando que as discussões regulatórias devem continuar apesar de já haver um arcabouço regulatório robusto no Brasil

O CEO da companhia reforçou que iniciativas como negociação de fundos imobiliários, minicontratos de índices, novas empresas listadas e BDRs contribuíram para o CAGR de 14% entre 2018 e 2023. “Fizemos diversas novas iniciativas para chegar ao crescimento de 14% no negócio de ações”, afirmou.

Nas novas frentes, as alavancas para a companhia são setor de veículos, imobiliário + crédito e cobrança e seguros. As frentes apresentam novas iniciativas para o ano que vem. A B3 também se inseriu no mercado de consórcio e visa estruturar operações na área.

A B3 deve lançar no próximo ano uma plataforma de registro de recebíveis imobiliários voltada para facilitar o acesso a crédito para incorporadoras ao servir como lastro para financiamentos.

“Estamos realizando a entrada no mercado secundário, com a nossa plataforma para estruturar todo o recebível e será tido como lastro para o empresário”, comentou Marcos Vanderlei. A plataforma já está em piloto.

Guidance

Com foco em disciplina na gestão de despesa, o guidance apresentado pela companhia trouxe ligeiro aumento nas expectativas de despesas ajustadas, saindo do intervalo 2.065-2.235 visto em 2023 para 2.140-2.320. Os investimentos apresentam queda, assim como as expectativas para alavancagem financeira, de 2,3x para até 2,0x.

Entre as despesas, há dois fatores que fizeram indicar o intervalo. O primeiro é que a base de comparação distinta, pela entrada da Neurotech, e o crescimento ligado à inflação. O CFO chamou atenção para o guidance de distribuição de lucro líquido, que se apresenta com redução no percentual.

Milanez reforçou que, em quantidade de termos nominais deve permanecer a mesma, mas, em razão de redução da depreciação e amortização, o percentual apresenta queda.

“A B3 mantém a estratégia de distribuir todo o caixa excedente para seus acionistas, alternando os mecanismos de distribuição de acordo com o cenário”, apresentou o diretor.

Milanez destacou que R$ 26 bilhões foram distribuídos desde 2018, entre dividendos, JCP e recompras. Com o movimento, cerca de 9% do capital foi recomprado nos últimos 5 anos.

Sem apostas esportivas

Outro tema abordado e que gera polêmicas foi o das apostas esportivas.

“Apostas esportivas estão muito mais para um business de cassino que de infraestrutura de mercado de capitais”, afirmou Gilson Finkelsztain.

O CEO comentou que os números são surpreendentes mas, hoje, se apresentam como negócios muito diferentes. “Temos clareza que o nosso negócio de infraestrutura para mercado de capitais e que as apostas esportivas são um item de entretenimento e cassino que não conversa com a nossa estratégia”.

O executivo citou que um dos focos da B3 para o próximo ano é o desenvolvimento mais amplo de sua área de dados, com lançamentos de novos produtos e ênfase em segmentos em que a empresa já tem atuado como imobiliário e veículos.

Um dos desenvolvimentos é a entrada em vigor de uma plataforma de registro de recebíveis imobiliários que pode ser usada para embasar financiamentos a incorporadoras, especialmente pequenas e médias.

(com Reuters)