AZUL4: analista explica se ação está pronta para decolar

O gestor convidado desta semana no Stock Pills foi Flavio Kac, gestor que está desde 2006 na Polo Capital

Matheus Soares

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“Se o seu foco é longo prazo, jamais invista em ações de companhias aéreas – principalmente no Brasil”. Não sei quantas vezes já ouvi essa frase de “value investors” mais experientes durante minha vivência no mercado financeiro. Por muito tempo carreguei esse dogma comigo, mas mudei de opinião nos últimos meses. E a empresa citada no “Stock Pills” desta semana é hoje a nossa preferência no setor: a Azul.

O gestor convidado desta semana no Stock Pills foi Flavio Kac, gestor que está desde 2006 na Polo Capital, gestora carioca com 17 anos de história e R$ 3 bilhões de ativos sob gestão. A Polo não é uma “value investor” tradicional: a estratégia deles é baseada em investimentos relativos, por isso as posições não costumam ficar muito tempo intactas dentro do fundo. Azul já era acompanhada por eles antes mesmo da primeira tentativa de IPO em 2013 e hoje representa 5% da carteira do fundo.

Antes de falar da Azul, deixa eu explicar bem rapidamente por que o mercado tinha (ou ainda tem) preconceito com o setor aéreo. Essas empresas possuem receitas em reais (vendas de passagem para brasileiros) mas boa parte do custo operacional é combustível, que não só é cotado em dólares (o que já provoca um descasamento entre receita x despesas) como também depende da variação do preço do petróleo – ou seja: temos duas variáveis que fogem do controle das aéreas e que afeta o custo delas.

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Não é preciso ir tão longe para perceber estas dificuldades. Nos anos 2000, três das maiores companhias aéreas do Brasil declararam falência: Varig, Vasp e TransBrasil. As áereas que já foram grandes no passado hoje já não existem mais ou se fundiram para não quebrar, enquanto as grandes empresas de hoje nem existiam 20 anos atrás. O próprio Warren Buffet (se você não sabe quem ele é, pare de ler agora o texto e vá ouvir o episódio 4 do Stock Pickers) durante longo tempo afirmou que investir em aéreas era o pior tipo de negócio, pois elas precisam de muito capital para financiar o crescimento mas possuem margens bem apertadas – gastam muito dinheiro para ganhar pouco, ou às vezes nem ter lucro.

Então por que investir agora numa cia aérea? A mudança de cenário da economia brasileira ajuda a explicar parte dessa mudança de opinião: expectativa de juros mais baixos e retomada da economia devem guiar melhores resultados operacionais das companhias aéreas, ao passo que esse novo cenário de “O Brasil deu certo” pode atrair estrangeiros para cá e derrubar a cotação do dólar – ou seja: receitas maiores + custos menores = margens mais gordas.

Mas não é só de “call macro” que o otimismo do mercado é sustentado: a Azul tem algumas peculiaridades que têm agradado gestores de recursos e também a nós, analistas de investimentos – temos a ação AZUL4 na Carteira Rico Premium desde o início de julho (não conhece nossa carteira? Clique aqui e veja as vantagens de ser assinante).

O que a Azul tem que as outras não tem?

A Azul aterrissou na bolsa em 11 de abril de 2017 e de lá para cá viu seu valor de mercado mais do que dobrar – a ação foi precificada no IPO em R$ 21,00 e recentemente bateu R$ 45,00, chegando a R$ 15,6 bilhões de valor de mercado. Ela decolou na bolsa (desculpa, não pude evitar #TrocadilhosDaBovespa).

Nasceu para fazer voos regionais e se concentrou em Viracopos – se pegarmos o raio de 100 km do aeroporto, a população é maior que a do Chile – dado o potencial de pessoas que estão na região. Tendo crescido em rotas que nem a Gol nem a Latam tinham interesse, hoje é a única operadora em 72% das suas rotas. Essa baixa concorrência em suas operações é uma vantagem competitiva importante dado que sua habilidade em repassar custos para as tarifas é maior.

Outra característica importante é o perfil de seus aviões. Diferentemente das suas concorrentes, ela opera 3 diferentes tipos de aeronaves: Embraer, ATR e mais recentemente A320Neo. Assim, ela consegue não só maior flexibilidade de alocação em suas rotas, mas também maior benefício de redução de custos. Com todas essas frentes, “eles têm conseguido mostrar uma geração de caixa bem razoável e imprime lucros em um setor que é difícil mostrar lucro e que ela tem conseguido mostrar isso com consistência” disse Kac no Stock Pills.

A quebra da Avianca inclusive acelerou a entrada da Azul em Congonhas, aeroporto que ela tinha pouca penetração e um dos mais importantes do Brasil, anunciando que vai entrar na ponte aérea Rio-SP, movimento bem positivo para a aérea. Agora na ponte aérea ela vai poder oferecer o melhor produto da ponte: “avião bom, televisão interativa, produto diferenciado e vai passar a aparecer para clientes corporativos que não usavam ela como opção. É uma das rotas mais rentáveis do Brasil, e a gente acha que com isso a Azul consegue acelerar o crescimento de lucros que ela pode mostrar no futuro” completou Kac.

A cereja do bolo?

Por fim, tem um outro detalhe que talvez pouquíssimas pessoas do mercado coloquem na conta, pois não é tão trivial chegar nessa informação – a Azul tem uma participação que poderia chegar a 47% da companha aérea portuguesa TAP, o que no caso de um IPO, poderia destravar um valor escondido de dentro da Azul.

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Matheus Soares

Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+