Fed eleva taxa de juros em 0,75 ponto percentual, maior aumento desde 1994; projeções para inflação sobem

Aceleração no avanço dos juros ganhou força após inflação ao consumidor acima do esperado de maio

Equipe InfoMoney

Publicidade

O Federal Reserve anunciou a sua decisão de política monetária na tarde desta quarta-feira (15) com a elevação dos juros em 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 1,5% a 1,75%, como passou a ser majoritariamente esperado pelo mercado desde que os dados de inflação ao consumidor de maio surpreenderam o mercado na sexta-feira passada. Este foi o primeiro aumento dessa magnitude – e também o maior – desde 1994.

A votação para o aumento de juros contou com dez votos a favor e apenas um contra. Esther George, presidente do Fed de Kansas City, discordou da maioria ao votar a favor de um aumento de meio ponto percentual.

Segundo os integrantes do comitê de política monetária, os ganhos de salários foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. Já a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços, apontou o comitê.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o atingimento dos objetivos”, apontou o comunicado, reforçando que está fortemente comprometido em devolver a inflação ao seu objetivo de 2%.

Autoridades do BC americano indicaram uma trajetória mais rápida de aumentos nos custos de empréstimos à frente, alinhando mais de perto a política monetária com uma mudança rápida nesta semana nas visões do mercado financeiro sobre o que será necessário para controlar as pressões de preços.

Leia mais:

Continua depois da publicidade

Os integrantes do Fomc ainda destacaram que os desafios e objetivos da economia continuam as mesmas das últimas reuniões

“A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A invasão e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global. Além disso, os bloqueios relacionados à pandemia na China provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos”, explica, ao assegurar que está “altamente atento aos riscos inflacionários”.

O Fed também divulgou projeções atualizadas de todos os 18 membros para o crescimento econômico, inflação, desemprego e taxas de juros para os próximos anos. Os integrantes da autoridade monetária agora preveem, na mediana, a taxa de juros encerrando 2022 a 3,4%, versus uma projeção de 1,9% em março. Todos os 18 participantes da reunião esperam que o Fed aumente as taxas para pelo menos 3% este ano.

Para o fim de 2023, a visão é de juros a 3,8% (2,8% anteriormente). Já para 2024, em 3,4% (2,8%); os juros a longo prazo tiveram um leve aumento de 2,4% para 2,5%.

As projeções para a atividade econômica foram revistas para baixo: a mediana para crescimento do PIB em 2022 passou de 2,8% em março para 1,7% agora em junho; para 2023, foi cortada de 2,2% para 1,7% e, para 2024, de 2% para 1,9%. Para o longo prazo, a projeção foi mantida para um avanço da atividade de 1,8%.

Já a mediana para a taxa de desemprego para 2022 passou de 3,5% em março para 3,7% em junho; para 2023, projeção foi revisada de 3,5% para 3,9%. A inflação ao consumidor (medida pelo PCE) ficou com projeção de mediana de alta de 5,2% (anterior de 4,3%) em 2022, 2,6% em 2023 (anterior de 2,7%) e 2,2% em 2024 (anterior de 2,3%), com 2,0% no longo prazo, dentro da meta estabelecida pelo Fed.

Redução do balanço 

O comitê sinalizou ainda que continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas, conforme já descrito nos planos para reduzir o tamanho do balanço do Federal Reserve que foram emitidos em maio.

Segundo o que foi decidido, o Fed vai “conduzir operações de acordo de recompra reversa a uma taxa de oferta de 1,55% e com um limite por contraparte de US$ 160 bilhões por dia; o limite por contraparte pode ser aumentado temporariamente a critério do presidente (Powell)”.

Mudanças abruptas nas projeções 

Operadores e economistas começaram a semana esperando um aumento de 0,5 ponto, como as autoridades do Fed tinham sinalizado durante semanas que seria provável para as próximas reuniões (a atual e a de julho), com uma redução no ritmo possível em setembro.

As expectativas mudaram abruptamente na tarde de segunda após um artigo no Wall Street Journal, seguido de notícias similares de outros meios, sugerir que os integrantes do Fed estavam alarmados com o agravamento da inflação e consideravam um movimento maior. “O artigo é uma dica da liderança do Fed de que uma alta de 75 pontos-base está chegando na reunião de junho do Fomc, na próxima quarta”, apontaram os economistas do Goldman Sachs no início desta semana, ao alterar suas projeções de uma alta de 0,5 ponto para de 0,75 ponto nesta reunião.

Um movimento maior agora torna menos provável que o Fed tenha que fazer mais à frente, mas também aumenta a probabilidade de uma recessão já no próximo ano.

Falas de Jerome Powell

Em coletiva após a reunião do Fomc, Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que o cenário atual é de inflação exageradamente alta e de mercado de trabalho muito apertado. “Estamos trabalhando duramente para trazer a inflação para baixa e usaremos todas as ferramentas que precisarmos e recursos que temos para isso”, disse.

“Demanda e consumo continuam forte mas, do outro lado, investimentos minguaram”, complementou. O presidente do Federal Reserve vê, no entanto, que o aperto das condições monetárias, com novas altas de juros e redução de balanço, devem conter a demanda.

Segundo o presidente do Fed, disrupções na cadeia global de produção são mais severas e estão durando mais do que o esperado – com destaque para os impactos dos fechamentos da China – o que são riscos para a inflação.

Powell apontou que o Fomc deve elevar as taxas em 0,50 ponto percentual ou 0,75 ponto percentual em julho, mas “afirmou que espera que altas de 0,75 ponto não sejam comuns”. Ele ainda destacou que o “Federal Reserve está comprometido em oferecer para mercada clareza sobre decisões”. Segundo o presidente da instituição financeira, as atuais condições econômicas cobram que o banco central americano comunique melhor suas visões para o mercado.

Para o presidente do Fed, a taxa de juros americana entre 3,5% e 4% em 2023 seria apropriada para colocar inflação sob controle. O presidente do Federal Reserve, após isso, espera que a taxa retorne a algo entre 2% e 2,5%. “Se dados vierem melhor, não aumentaremos mais, se vierem pior, seremos mais duros”, afirmou.

O foco agora será balancear a demanda e o mercado de trabalho, utilizando suas ferramentas monetárias para isso – mas incertezas quanto à guerra na Ucrânia e restrições na China vem dificultando o trabalho, apontou.

Powell afirma que ainda não tem total ciência de quão restritivo o Fed terá de ser. “Onde a taxa de juros irá parar, por enquanto, é a grande questão”, comentou.

O chairman do Fed apontou ainda que o avanço das commodities pode impedir “pouso ameno” da inflação. Apesar das incertezas, a instituição monetária americana espera que inflação caia com menores salários e com impacto de alta dos juros no mercado imobiliário e que a inflação chegue a 2% até 2024.

Análises

O dia foi de alta das bolsas pelo mundo e queda do dólar, com o Fed mais agressivo sendo bem recebido pelo mercado, como um sinal positivo do foco central na inflação.

“O Fed acertou em cheio. Reconhecendo que aumentar mais agora significa menos depois, o Fed demonstrou sua determinação em domar a inflação sem prejudicar o emprego”, disse Ronald Temple, chefe de ações dos EUA na Lazard Asset Management, à CNBC.

“Enquanto alguns defendiam um aumento ainda mais acentuado, o Fed entendeu que o aumento de juros já leva os EUA a um território desconhecido com riscos significativos para o crescimento. A alta de hoje enviou exatamente a mensagem certa aos mercados”, acrescentou.

Antes mesmo das declarações de Powell, o Morgan Stanley fez suas considerações sobre a decisão do Fomc, avaliando que vê um caminho para uma taxa de juros por volta dos 4% ao fim de 2022.

O banco americano destacou que o aumento da taxa em 0,75 ponto veio em linha com as expectativas do mercado, que rapidamente se ajustou após especulações no início da semana de que o Comitê estava considerando ativamente um aumento maior dos juros nesta reunião.

“Vemos agora um caminho mais acentuado para altas de taxas este ano, para um pico em torno de 4% ao final de 2022. A questão-chave agora é com que rapidez os integrantes do Fed irão parar de subir as taxas e se prepararão para cortes caso vejam uma desaceleração material [das condições econômicas]”, avalia o banco.

As projeções do Fed revelaram previsões mais altas para a inflação, mas pouca mudança no núcleo da inflação. Já a grande queda no núcleo da inflação em 2023 ainda ressalta que os integrantes do Fomc veem o aumento como temporário, aponta o Morgan. A taxa de desemprego deverá aumentar este ano, ao contrário de aumentar apenas em 2024 conforme projetado em março, e o crescimento do PIB agora é substancialmente menor e, em particular, abaixo da estimativa de PIB potencial do Comitê.

“Os integrantes do Fed viram as mudanças de previsão como sendo consistentes com um salto de 1,5 ponto percentual na mediana para a taxa de juro ao final de 2022, para 3,4%, e para uma taxa de 3,8% no final de 2023. Em março, dois participantes viam cortes nas taxas em 2024 para começar a trazê-las de volta ao neutro. Em junho, quase todos os participantes agora veem a necessidade de normalizar a política em 2024”, aponta o Morgan.

“Dada a magnitude e a velocidade com que as condições financeiras mudaram, é improvável que o presidente Powell seja tão complacente, mas a atividade econômica continua forte o suficiente para que as pressões inflacionárias subjacentes continuem sendo a preocupação dominante”, destacaram os analistas. As declarações do Morgan foram feitas antes da coletiva de Powell.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, apontou que a decisão em si não impactou, mas avaliou que as grandes surpresas ficaram para as projeções. “O mercado não imaginava que fosse passar muito dos 3% [a taxa final de juros]. Estava em 2%, mais ou menos a taxa final para este ano, e imaginava-se que ia subir algo no máximo em 3%, a projeção agora está 3,5% praticamente, 3,4% para ser preciso”.

Para Cruz, o Fed com foco na inflação não está se incomodando com a atividade caindo e com a possível recessão técnica ao longo deste ano. “Portanto, creio que a gente vai acompanhar ao longo do ano um Fed mais hawkish [postura mais dura com relação à inflação] e isso pode estimular o BC brasileiro a adotar posturas mais hawkish também”.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, destacou a sinalização da autoridade para o forte comprometimento com o combate inflacionário, ao passo que as projeções materiais apontaram para a mediana da Fed Funds Rate em 2022 entre 3,25% e 3,50%”.

A realidade inflacionária e os termos utilizados pela autoridade no comunicado levam o analista a acreditar que a taxa básica deverá ser elevada por mais uma vez em 0,75 ponto, de olho na meta do Fed de inflação em 2%. “Entretanto, apesar do discurso, as projeções apontam para o núcleo do PCE em 2,7% em 2023 e em 2,3% em 2024, mesmo ao considerar um PIB que não consegue superar os 2%, o que significa que a retórica difere da ação”, diz.

Os modelos da Ativa sugerem que a taxa deverá ser conduzida até 3,75%-4,00% ainda esse ano, com o Fed subindo juro em 75 pontos-base na próxima reunião, 50 pontos-base nas duas reuniões seguintes e 25 pontos-base nas duas últimas reuniões do ano.

Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, o tom hawkish do comunicado foi reforçado pela fala de Powell durante coletiva. Isso porque ele deixou em aberto a possibilidade de mais uma alta de mesma magnitude (de 0,75 ponto) para a reunião subsequente.

Já em relação à atividade, o discurso continuou reforçando uma economia ainda aquecida. “Olhando para as projeções divulgadas do pela autoridade monetária vemos uma perspectiva pior de atividade, desemprego e inflação. No discurso, entretanto, fica claro que o foco agora é conter a alta dos preços, apesar da piora nas expectativas para o mercado de trabalho, a segunda variável de interesse do Fed”, avalia Mercadante.

(com Reuters)

Procurando uma boa oportunidade de compra? Estrategista da XP revela 6 ações baratas para comprar hoje.