Fannie Mae e Freddie Mac: o mercado busca os novos candidatos à ajuda

Anthony B. Sanders, professor de Finanças e especialista nas empresas, pede sensatez para não causar pânico

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Aconteceu com o IndyMac nos EUA e com o Northern Rock na Inglaterra. Declarações duras acerca da situação financeira das instituições trouxeram pânico aos investidores e consumidores, derretendo o valor dos seus ativos em poucos dias.

Corretas ou não, tais afirmações têm grande impacto na decisão de parte importante dos investidores, especialmente durante períodos de incerteza nos mercados. Hoje, tanto o IndyMac quanto o Northern Rock estão sob controle do Estado.

Palavras duras

Em entrevista à InfoMoney sobre as empresas Fannie Mae e Freddie Mac, o professor de Finanças e setor Imobiliário da W.P. Carey School of Business, Anthony B. Sanders, expressa a sua preocupação com o efeito manada.

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“É verdade que as empresas precisam refinanciar US$ 225 bilhões de débito até o final de setembro. Porém, quanto mais pessoas como Warren Buffet aterrorizarem o mercado de capitais será mais difícil para as duas se refinanciarem”, disse Sanders.

O professor, cujo currículo profissional mostra passagem pela diretoria do Deutsche Bank, pede calma aos investidores e afirma que as duas instituições, por enquanto, estão sólidas.

InfoMoney – É possível avaliar que a Fannie Mae e a Freddie Mac estão insolventes?

Anthony B. Sanders – Não. Elas não passam por uma insolvência. Os mercados de ações tendem a reagir exageradamente a rumores tanto sobre a situação da Fannie Mae e Freddie Mac quanto a outros papéis. Modelos sugerem que, para que ambas necessitem ajuda financeira governamental, a queda dos preços dos imóveis nos EUA teria que se estender por mais 20%.

Há uma grande preocupação sistêmica em relação às instituições financeiras e o setor em geral. Existem dúvidas quanto aos bancos de investimentos e também quanto a bancos de varejo como o Wachovia. Vimos o que aconteceu com o IndyMac recentemente e também com os pequenos bancos norte-americanos.

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O fator de medo sistêmico está prejudicando bastante as ações do setor financeiro. Não chamaria isto de histeria, mas há muita preocupação.

Recentemente o Banco Central da Coréia do Sul afirmou que não vê problema na recuperação de títulos emitidos por Fannie Mae e Freddie Mac. Nas palavras do BC “não há chance” de que o governo norte-americano compre os títulos com um possível desconto adicional. O Sr. concorda com esta avaliação?

Este cenário pode ocorrer caso a insolvência aconteça, mas como foi afirmado por Ben Bernanke [Presidente do Federal Reserve] e Henry Paulson [Secretário do Tesouro norte-americano] recentemente, há linhas de crédito disponíveis caso as empresas necessitem de capital adicional para continuar em operação.

O fato de que os títulos da Fannie Mae e da Freddie Mac têm sido vendidos com desconto reflete nada mais do que a vida no mercado de títulos. Todo título tem o seu risco. Mas concordo com o BC da Coréia, não há risco de que o governo adote qualquer nova medida fora do mercado de capitais tradicional.

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O que Paulson e Bernanke têm afirmado é que será provida a liquidez necessária para que as duas continuem a funcionar. As últimas notícias fazem referência a forte queda das ações, o que é conseqüência dos rumores de que as duas podem se tornar estatais no modelo da Ginnie Mae. Mas não acredito que isto possa ocorrer.

O mercado imobiliário, apesar de prejudicado, começa a mostrar melhora em algumas regiões como a Califórnia, partes do Arizona e da Flórida. Começamos a ver os preços se estabilizarem. Desta forma, ambas seguem sadias. Porém, caso os preços dos imóveis percam mais 20% do seu valor então podemos enxergar problemas de solvência. Estamos vivendo um período de muito nervosismo em torno do setor financeiro.

De que forma poderia ser realizada uma ajuda do Tesouro norte-americano?

Fannie e Freddie: notícias negativas
Desde o início do ano as ações da Freddie Mac (FRE) perderam 88,35%, encerrando a última sessão cotadas a US$ 3,97. Os papéis da Fannie Mae (FNM) seguem o mesmo caminho. Desde 2 de janeiro o recuo chega a 85,94%. Agora são negociadas a US$ 5,62.
Entre o emaranhado de expectativas ruins, a agência de classificação de riscos Moody´s rebaixou na sexta-feira (22) o rating de Fannie e Freddie, ao classificar que o manejo das empresas para contornar a situação adversa está se esgotando. Leia Mais

Neste momento não há dinheiro sendo colocado pelo governo federal. Ambas estão atuando independentemente. Com os preços das ações despencando, há menos valor nas companhias e é claro que Paulson está preocupado com isso. Mas neste ponto não há qualquer razão para demasiado desconforto.

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Porém, lembro novamente que os preços dos imóveis nos EUA ainda precisam cair bastante para que algum problema realmente ocorra. O que pode acontecer é alguma liquidez sendo injetada por meio de ações do governo na compra direta de participação nas duas e há uma variedade de mecanismos que possam viabilizar isso.

Acredito que o mercado está em busca da próxima empresa que será resgatada, assim como a Indy Mac pela FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation). Mas a Fannie Mae e a Freddie Mac não possuem papéis como os CDOs (Collateralized debt obligations) dos ABS (Asset-Backed Security) subprime, cujos preços caíram dramaticamente e que têm prejudicado os grandes bancos. Portanto, quando falamos sobre possíveis candidatos a uma ajuda, a Fannie Mae e a Freddie Mac estão no final da lista.

O investidor bilionário Warren Buffet afirmou na última semana que “o jogou acabou” para ambas. O Sr. concorda?

Temos um evento similar ao do senador Charles Schumer alertando os investidores de que a IndyMac estaria em sérios problemas, levando a uma corrida ao banco e destruindo a sua base de ativos. Similarmente, pessoas desde William Poole (ex-presidente do Fed de St. Louis) até Warren Buffet têm tocado os tambores do “final da Fannie Mae e da Freddie Mac”, o que só leva a uma erosão da confiança do investidor e uma corrida às ações de ambas.

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É verdade que as empresas precisam refinanciar US$ 225 bilhões de débito até o final de setembro. Porém, quanto mais pessoas como Warren Buffet aterrorizarem o mercado de capitais será mais difícil para as duas refinanciarem.

Warren Buffet (o Oráculo de Omaha) recentemente previu que o final da crise do setor imobiliário estava próximo. Ainda assim ele diz que a Fannie Mae e a Freddie Mac estão fritas. Para o bem da economia, eu gostaria que integrantes do governo, ex-integrantes e grandes investidores parassem de realizar prognósticos terríveis sobre importantes players da economia do país, especialmente dado que os investidores (os que escutam a eles) agem com base nas suas previsões.