Energisa (ENGI11): compra no mercado de gás não parece bom negócio – mas pode virar

Avaliação parece elevada e falta visibilidade sobre a capacidade da empresa de influenciar as operações e estratégia

Felipe Moreira

(Agência Petrobras)
(Agência Petrobras)

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A Energisa (ENGI11) anunciou na última sexta-feira (10) a compra de 100% da Infra Gás pelo valor de R$ 890 milhões, que provavelmente deterá 51% de participação na holding Norgás (atual proprietário da Infra Gas, o empresário João Henrique Cordeiro Guerra comprará a Norgas da Compass para depois vendê-lo para a Energisa).

A Norgás detém participações minoritárias em cinco concessões de distribuição de gás nos estados de Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Sergipe, no nordeste do Brasil. 

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O Morgan Stanley comenta que transação está alinhada com a estratégia da Energisa de diversificação de portfólio e aumenta a exposição da empresa ao mercado de gás de alto potencial de crescimento do Brasil através de veículos que poderiam estar sujeitos a uma futura reestruturação corporativa (por exemplo, uma hipotética privatização).

No entanto, segundo cálculos do Morgan, a avaliação parece relativamente elevada, em 11 vezes Ebitda de 2023, bem acima das recentes fusões e aquisições de empresas de gás de 6 vezes. O banco ainda acrescenta que não tem visibilidade sobre a intenção e/ou o calendário dos governadores estaduais para as possíveis privatizações dos ativos, às quais a Energisa poderá ter o direito de primeira recusa.

O Morgan mantém classificação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) com base nas perspectivas de longo prazo da companhia elétrica, apoiadas principalmente por um perfil de risco e recompensa atraente, um desempenho operacional sólido e perspectivas de elevado crescimento. Mas espera uma reação negativa das ações no curto prazo após o anúncio do negócio. No início da sessão, os papéis caíam cerca de 1%.

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O Bradesco BBI, por sua vez, destaca que a iniciativa da Enegisa de firmar uma parceria como acionista minoritária não é intuitivamente positiva à primeira vista. Isso porque fez o banco lembrar imediatamente da decisão da EDP de se tornar minoritária na distribuidora de eletricidade estatal catarinense, Celesc, com base na esperança de que, ao mesmo tempo em que trabalha para melhorar a empresa, saberia mais sobre o assunto de modo que, se e quando a privatização da Celesc ocorresse, a EDP estaria em uma posição vantajosa para garantir o controle (ou sair com uma avaliação melhor, dadas as melhorias realizadas). Tudo isso parecia muito bom no momento, mas o mercado nunca gostou desta estratégia e posteriormente penalizou a EDP.

Por outro lado, o BBI disse ver diferenças claras na decisão da Energisa de comprar a Norgas e, com as informações até agora, pode não parecer um movimento rápido, “mas na verdade parece bastante inteligente”.

Analistas do BBI mantêm a opinião pelas seguintes razões: “(i) o preço pago pode ser facilmente justificado como acretivo, ou pelo menos como uma opção barata para desbloquear potencialmente um valor substancial mais tarde; (ii) o capital total comprometido nesta M&A é pequeno (3,6% do valor de mercado da Energisa); (iii) os ativos de distribuição de gás em questão têm regulamentações altamente benignas e atrativas que protegem contra praticamente qualquer desvantagem (regulação de custo acrescido com margem garantida de 20% sobre opex, WACC (Custo Médio Ponderado de Capital) regulatório de 20%, mais uma margem de segurança de 20% sobre volumes cativos assumidos) e (iv) fazer parte da estrutura acionária confere à Energisa uma vantagem para consolidar o controle se e quando a privatização ocorrer (diferentemente do caso da Celesc e da EDP)”.

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Além disso, na visão do BBI, a “Energisa merece algum crédito”. O banco lembra quando a Energisa comprou as distribuidoras de eletricidade do falido Grupo Rede. Naquela época, o mercado tinha sérias dúvidas sobre quão sólida era essa decisão, mas hoje o mercado pode ver que o crescimento derivado daquela aquisição foi dez vezes maior do que qualquer um poderia esperar. A recomendação do BBI para ENGI11 é neutra, com preço-alvo de R$ 62.