Em situação melhor do que pares, Brasil ganha espaço em carteiras de investimentos globais

Valuation descontado, ciclo de alta de juros antecipado e maior exposição a commodities e financeiro são diferenciais, aponta equipe de estratégia da XP

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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O Brasil vem ganhando espaço na carteira de investidores globais em 2022 – no acumulado do ano até o fim de agosto, houve um fluxo positivo de R$ 70,3 bilhões para a B3. Para especialistas, em grande parte, o país está se beneficiando da falta de alternativas de bons investimentos mundo afora.

“Temos dito, de maneira jocosa, que o Brasil está se tornando o ‘TINA’ dos mercados emergentes”, dizem os analistas da XP Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, em referência à abreviação de ‘There is no alternative’ (não há outra alternativa, na tradução livre). “Isso por conta da forte performance dos ativos brasileiros em 2022, mesmo considerando o desempenho muito fraco dos ativos no mundo desenvolvido e em outros grandes emergentes”.

Os especialistas lembram que, neste ano, o Ibovespa subiu quase 6% em reais e 15% em dólares, enquanto as Bolsas globais caem, em média, de 15% a 25%.

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“É óbvio que dizer que não há uma outra alternativa no mundo em relação ao Brasil é um grande exagero. Afinal, o mercado brasileiro ainda é bem pequeno no contexto global. As ações brasileiras, por exemplo, representam apenas 0,7% do valor de mercado das ações globais. Mas o Brasil hoje tem um cenário mais favorável do que muitos grandes mercados emergentes e desenvolvidos”, explicam.

Para eles, enquanto a visão para ativos brasileiros segue construtiva, há uma cautela com os mercados globais.

Lá fora, boa parte das bolsas é negociada a múltiplos acima, ou ao menos próximos, da sua média histórica, a despeito dos recentes recuos.

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O índice americano, S&P 500, por exemplo, está negociando em um preço sobre lucros projetados (P/L) para os próximos doze meses de 16,7 vezes, em linha com a média dos últimos dez anos. O índice MSCI All Country World, que mede as ações globais, por sua vez, está sendo negociado a 14,7, com sua média histórica sendo 14,4. Já a Bolsa brasileira negocia a um múltiplo de 6,3, sendo que sua média histórica é de 11,7.

Além do valuation, a Bolsa brasileira, para a XP, pode se beneficiar da sua grande exposição aos setores de commodities e financeiro – mais procurados em períodos de inflação e de juros mais altos.

Brasil traz menos incertezas do que pares

Por fim, os analistas afirmam que a movimentação do Banco Central brasileiro, que saiu na frente na alta dos juros, traz mais segurança para quem busca investir no país.

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“O fato do Brasil ter saído na frente em relação ao aumento das taxas de juros – a Selic hoje se encontra em 13,75% e os juros reais futuros (IPCA+) estão em 5,80% – faz com que o Brasil passe a atrair fluxo de investidores para o mercado de renda fixa e também para a Bolsa, pois a chance de uma forte depreciação da moeda diminui com juros elevados”, complementam Ferreira, Li e Nossig. “As altas taxas de juros ajudam a fortalecer o real em relação ao dólar”.

Fora as questões de preço e monetárias, há também os fatores como a crise energética na Europa e os riscos geopolíticos, que ameaçam o crescimento global – enquanto o Brasil apresenta certa segurança de crescimento.

“Os riscos geopolíticos ainda não se dissiparam, e continuam, principalmente, nas relações entre Europa e EUA com a Rússia, e a relação dos EUA com a China, em especial relacionado à Taiwan”, debatem os analistas.

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Já na China, “motor da economia global”, há o temor de desaceleração do crescimento – enquanto o governo chinês tem uma meta de crescimento econômico de 5,5% para 2022, muitos economistas já esperam um crescimento abaixo de 3% esse ano. “A política de zero-Covid é responsável por boa parte dessa desaceleração, mas os ajustes no setor imobiliário Chinês também preocupam”, contextualizam.

A probabilidade de uma recessão econômica no futuro segue subindo. Enquanto há poucos meses atrás ela estava entre 30% e 35% de chance nos próximos 12 meses, agora o consenso do mercado, segundo a Bloomberg, já mostra 50% de chance de uma recessão nos EUA no próximo ano e 55% na Europa.

Tudo isso, em um cenário de aperto monetário e alta dos preços – com o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) sem sinalizar nenhum final do ciclo de alta das taxas de juros.

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“Acreditamos que os ativos brasileiros possam seguir em uma tendência de redução de risco e valorização nos próximos meses, mesmo com as eleições estando próximas. Além disso, temos visto uma volatilidade menor no mercado nesse período eleitoral em comparação com eleições passadas”, finalizam os especialistas.

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