El-Erian acredita que “surpresas” do Fed diminuem a sua credibilidade

Mercados vivem em uma montanha-russa desde maio, quando Ben Bernanke anunciou que poderia começar a retirar o QE3 ainda neste ano

Carolina Gasparini

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SÃO PAULO – Entre as duas surpresas feitas pelo Federal Reserve neste ano – a possibilidade de iniciar a retirada do programa de estímulo monetário ainda neste ano em maio e a não diminuição do mesmo programa em setembro – os mercados viveram uma montanha-russa, enquanto as tentativas de estimular o crescimento econômico e a criação de empregos nos EUA falharam, segundo o CEO da Pimco (Pacific Investment Management Company), Mohamed El-Erian.

Para El-Erian, os movimentos são perplexos uma vez que o Fed não costuma surpreender os mercados, uma vez que surpresas costumam aumentar as incertezas e diminuir a credibilidade de uma instituição fundamental para o bem-estar econômico da nação. Mas recentemente o Banco Central tem surpreendido os mercados com frequência, causando momentos de pânico. El-Erian cita os movimentos bruscos vistos no desempenho do índice norte-americano Dow Jones no período entre maio e agosto.

O Fed pode estar preocupado com as crescentes batalhas no Congresso para aumentar o teto da dívida, o que pode comprometer a performance da economia do país, segundo El-Erian, que comentou ainda que nessas ocasiões, o Federal Reserve prefere esperar para reagir do que dar o primeiro passo.

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Impactos e comunicação
O CEO também destacou que nem mesmo o Fed sabe qual pode ser o impacto a longo prazo de sua política experimental. Segundo ele, o Banco Central está às cegas sobre a evolução do que Bernanke chamou de “benefícios, custos e riscos” do programa não-usual de afrouxamento.

Por outro lado, o CEO destaca que pelo menos Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, aumentou a transparência das ações do Banco Central, sendo considerado o presidente mais comunicativo da história do Fed, divulgando mais comunicados e projeções do que nunca. A nomeação de Janet Yellen para o cargo também parece ser a favor de tal transparência, disse El-Erian.

Emergentes sofreram
A declaração feita por Ben Bernanke em maio, de que o Fed poderia iniciar a retirada gradual do QE3 ainda neste ano não afetou somente os índices e títulos públicos norte-americanos. Os mercados emergentes também sofreram com a notícia, apresentando dificuldade em manter o ritmo de crescimento e suas moedas valorizadas.

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Considerando esse cenário e sabendo que pode ocorrer um erro econômico ao retirar o estímulo, os membros do Fed parecem preferir o excesso de afrouxamento monetário do que uma retirada prematura. E caso Janet Yellen seja nomeada, essa tendência deve continuar.

Benefícios para grandes empresas
Segundo El-Erian, as multinacionais continuam com forte caixa e suas dívidas são beneficiadas tremendamente pela política do Fed, o que constitui uma boa notícia. Mas a má notícia é que essas empresas preferem guardar esse dinheiro ou pagar altos dividendos, ao invés de investir em novas plantas, equipamentos ou postos de trabalho. O mesmo é visto em bancos.

El-Erian comenta ainda que o governo norte-americano possui ferramentas melhores do que o Fed para lidar com a economia local e o mercado de trabalho, mas mantém-se inativo. Ele comenta que por necessidade ou escolha, os americanos estão preferindo a estabilidade e a inanição nos mercados, o que dificulta os investimentos que os EUA precisam para restaurar sua economia, como forte crescimento, criação de postos de trabalho e melhorias na qualidade de vida.