Dólar supera R$ 4,28 e renova máxima histórica – mas analistas ainda não veem intervenção do BC

Para Morgan, o BC está dando sinais de que está confortável com o câmbio nos patamares atuais; volatilidade será chave para definir próximos passos

Lara Rizério

(Shutterstock)

Publicidade

SÃO PAULO – Por mais um dia, o dólar renovou máxima histórica, superando os R$ 4,28 nesta sexta-feira (31), repercutindo o mais novo fator de aversão ao risco do mercado: o coronavírus. Os possíveis impactos na economia global para a doença, que foi classificada como emergência global na quinta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), seguem assustando o mercado, que busca por ativos menos arriscados e sai dos emergentes.

Este foi um dos motivos para a forte valorização de 6,8% da moeda americana frente o real no ano. Tal desempenho aumentou as especulações sobre se o Banco Central atuaria mais fortemente para conter a moeda, a exemplo do final de novembro de 2019. Na ocasião, o BC fez leilão de dólar em duas ocasiões apenas no dia 26, com a justificativa de que o real estava disfuncional e descolado de outras moedas. As intervenções se seguiram e, no dia 28, houve leilão à vista de US$ 1 bilhão, que ajudou a impulsionar a cotação do real em mais de 1% nas negociações intradiárias.

No momento, contudo, não espera-se que o Banco Central atue de forma contundente no mercado de câmbio, conforme análise da equipe de estratégia do Morgan Stanley, destacando os sinais de que a autoridade monetária está confortável com o dólar nos níveis atuais.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Entre um dos motivos para a não-intervenção no momento, estão as “proxies” de estresse para o mercado brasileiro, que seguem a níveis baixos, uma vez que o País possui altas reservas e o CDS (uma espécie de seguro-calote) de 10 anos está por volta dos 170 pontos, a níveis baixos em relação à média histórica. O CDS funciona como uma das principais medições de riscos entre as economias. Quanto mais alto é o CDS, portanto, mais arriscado o país é considerado pelos investidores.

Além disso, as expectativas de inflação continuam em declínio: para 2020, a projeção para o IPCA – segundo a última pesquisa Focus – é de alta de 3,47%, ante uma meta de 4% para esse ano. “Com base nos comentários recentes de integrantes do BC, avaliamos que eles estão bem confortáveis com os níveis atuais do dólar, principalmente com a visão de que o pass-through (transmissão do câmbio para os preços) não preocupa e os níveis das reservas estão no patamar considerado ideal”, afirmam.

Nesta semana, em evento promovido pelo Credit Suisse em São Paulo, Roberto Campos Neto, presidente do BC, afirmou que a autoridade monetária avalia constantemente se a alta do dólar influencia as demais variáveis de risco, seja retardando as decisões de investimento ou contaminando as perspectivas de inflação – e nenhum dos casos ocorreu com a alta recente da moeda.

Continua depois da publicidade

Campos Neto destacou que a alta do dólar não tem relação com o risco Brasil ou outros indicadores da economia – e sim como efeito da curva de juros, ou seja, de projeções dos agentes de mercado para o comportamento dos juros no futuro. Ele apontou que a pressão do dólar nos últimos meses ocorreu pela demanda de empresas brasileiras que aproveitaram a baixa dos juros no Brasil para pré-pagar dívidas em moeda estrangeira.

Em novembro, os bancos estavam justamente lutando com a ausência de dólares no mercado devido a pagamentos de dívida, que estavam sendo trocados pela moeda local. Atualmente, contudo, esse movimento não é mais tão forte.

Os estrategistas do Morgan apontam ainda que, ao contrário de novembro, quando o mercado tinha um importante posicionamento vendido em real, os indicadores atuais não mostram esse posicionamento, que sugeriria uma participação maior de especuladores no comportamento da moeda brasileira.

Continua depois da publicidade

Nesse sentido, o banco americano avalia que o dólar provavelmente testará novas máximas, com a probabilidade de intervenção só aumentando se a volatilidade do câmbio registrar níveis parecidos com o de novembro de 2019. Neste sentido, com o BC mantendo a sua retórica “dovish” (branda) e com a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte mais uma vez os juros na reunião da próxima semana, para 4,25% ao ano, os estrategistas não avaliam que o real deva registrar um movimento de recuperação em breve.

Contudo, para Brendan McKenna, estrategista de moeda da Wells Fargo & Co., em Nova York, o BC irá intervir em algum momento, mas podem esperar mais um pouco antes de atuar no mercado, destacou ele para a Bloomberg.

Alejandro Cuadrado, estrategista do Banco Bilbao, também apontou à Bloomberg que provavelmente a autoridade monetária não defenderá um nível para o dólar, justamente por conta do cenário macroeconômico atual. “Eles não virão com uma grande intervenção para inverter isso, porque o ajuste é global ”, afirmou.

Publicidade

Seja sócio das melhores empresas da Bolsa: abra uma conta na Clear com taxa ZERO para corretagem de ações

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.