Dólar sobe 2,5% e bate máxima em um mês com tensão externa e apreensão fiscal no Brasil

Moeda chegou a cair no início da semana, mas voltou a ganhar força a chega a sua terceira alta seguida

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Com a volta da tensão no mercado financeiro, o dólar retomou a trajetória de alta após um breve alívio no começo do mês, quando chegou a perder o nível dos R$ 5. Uma combinação de piora do cenário externo e um clima político e econômico preocupante no Brasil levaram a moeda americana para sua máxima em um mês.

O dólar fechou esta sexta-feira (26) com valorização de 2,58% ante o real, cotado a R$ 5,4642 na compra e R$ 5,4652 na venda, acumulando uma alta de 2,76% nesta semana. Deste terça, quando chegou a cair para R$ 5,15, a moeda já subiu mais de R$ 0,30.

Boa parte deste movimento está relacionado ao aumento da aversão ao risco no mundo todo conforme os casos de Covid-19 voltam a aumentar em diversas regiões que reabriram suas economias. Nos Estados Unidos foram mais de 37 mil casos da doença em um só dia, o maior número já registrado. A maior economia do mundo tem mais de 2,4 milhões de contaminados.

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Com isso, os governadores de alguns estados americanos começaram a reverter os planos de reabrir as atividades após este salto de casos. A cidade de Nova York, contudo, ruma para acionar mais uma etapa de reabertura em 6 de julho, que incluirá aval para refeições dentro de restaurantes, esportes em equipe e serviços de beleza. Do outro lado, a Flórida viu um aumento de casos e o Texas ordenou o fechamento de estabelecimentos.

Mesmo sendo um movimento global, o câmbio no Brasil volta a ter um desempenho pior que os pares emergentes diante, principalmente de um aumento da apreensão sobre a questão fiscal.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que estudará a possibilidade de mudança no teto de gastos. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro disse em transmissão nas redes sociais a extensão do auxílio emergencial além do sinalizado anteriormente, com parcelas de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. Estas questões geram incertezas sobre o cenário fiscal do País e como isso irá pesar para os próximos meses neste cenário de crise.

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Depois das declarações sobre o teto de gastos, Maia voltou a falar sobre o assunto e ressaltou que a discussão só deve ocorrer mesmo após a aprovação das reformas administrativa, tributária e do pacto federativo. Segundo ele, o Orçamento hoje é voltado para despesas passadas, sendo que as reformas são indispensáveis

“É preciso encontrar espaço no orçamento para fazer mais investimentos, mas isso não pode ser feito com criação de mais despesas ou com aumento de carga tributária […] Não é preciso mexer no teto agora”, disse o deputado, destacando que a PEC do orçamento de guerra já resolveu a questão fiscal de 2020.

Estas declarações ajudaram a aliviar um pouco a tensão, fazendo o dólar se distanciar da máxima do dia, apesar de manter os fortes ganhos de mais de 2%.

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Mais um fator que pesou no mercado foi a fala na véspera do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele afirmou que a volatilidade da moeda aumentou e que olha para a questão, mas reforçou que o câmbio é flutuante e que as atuações recentes do BC foram bem sucedidas.

Neste cenário, o real tem sido a mais volátil entre as principais moedas nas últimas duas semanas, comportando-se como um ativo de beta alto em meio às oscilações globais. Nesta sexta, o BC voltou a atuar no câmbio, vendendo US$ 502,5 milhões em leilão à vista, enquanto mais cedo foi aceito US$ 1,5 bilhão em leilões de linha.

Em entrevista para a Bloomberg, Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora, afirma que até o dólar chegar a R$ 5,20, o BC estava deixando o mercado “andar”. Mas, conforme a moeda se aproxima de R$ 5,50, se a autoridade não intervir, corre o risco da divisa caminhar para R$ 6. “Na última vez, demorou muito e quando viu já ia bater R$ 6. Vendo o passado, BC percebeu que tem que entrar antes”, disse ele.

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Em relatório nesta sexta, José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, deixa o alerta da importância do patamar dos R$ 5,45, que pode desencadear altas maiores. Segundo ele, o dólar está em tendência de queda no médio prazo e alta no longo prazo, mas isso pode mudar com a quebra de alguns níveis.

“Nossa moeda está muito volátil, subiu R$ 0,30 de terça-feira à tarde para hoje de manhã. Momento de muita atenção, pois acima de R$ 5,45 pode engatar nova alta”, conclui o analista.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.