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Ibovespa chega a subir de olho em fala de Powell, mas perde fôlego e fecha praticamente no zero

Sessão foi marcada por volatilidade, com tensão geopolítica no radar e investidores repercutindo sinais do Federal Reserve

Camille Bocanegra

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O Ibovespa fechou com queda de 0,05% nesta quarta-feira (18), aos 114.004,30 pontos. O índice chegou a subir até os 115.062 pontos (+0,88%) nas máximas durante a tarde repercutindo as falas de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, mas não teve fôlego para manter o movimento.

“No dia, ganharam destaque também desdobramentos do conflito no Oriente Médio, com negociações para abertura de espaço para ações humanitárias por parte de organismos multilaterais e países terceiros na região da Faixa de Gaza – e a manutenção do sentimento de cautela e aversão ao risco entre investidores”, considera Rachel de Sá, economista da Rico.

Durante toda a manhã desta quinta-feira (19), o mercado brasileiro estava “vacilante”, à espera do discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, marcado para às 13h (horário de Brasília).

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A expectativa era alta pela declaração do chair do Fed, em meio ao recente cenário turbulento e com ele e seus colegas do banco central em aparente acordo para manter os juros básicos dos EUA em sua próxima reunião, daqui a duas semanas, mas com uma incerteza ainda grande sobre o que acontecerá depois disso.

Neste sentido, o mercado analisou com lupa o teor do discurso de Powell, que trouxe algumas manchetes a princípio consideradas mais “hawkish” (de preocupação com a inflação, indicando aperto monetário prolongado), mas que, num contexto geral, trouxe sinalizações mais dovish (a princípio de manutenção de taxa de juros). Assim, o benchmark da Bolsa brasileira chegou a superar os 115 mil pontos e o dólar a cair até R$ 5,02, mas o movimento do câmbio também atenuou, com a moeda americana fechando apenas em leve baixa de 0,03%, a R$ 5,052 na compra e R$ 5,053 na venda.

A moeda norte-americana também ficou em queda na comparação com as principais moedas do mundo, com o DXY com menos 0,43%.

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“Powell manteve seu discurso de que novos aumentos na taxa de juros são possíveis, tendo em vista o forte crescimento da economia e seu impacto sobre a inflação. No entanto, seu discurso foi marcado por falas dovish. Ele observou que havia evidências de um arrefecimento no mercado de trabalho dos EUA e que os eventos geopolíticos em Israel haviam criado novas ‘incertezas e riscos'”, destacou Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.

“Powell também ecoou a retórica de outros membros do Fomc, dizendo que os rendimentos mais altos do Tesouro restringiram as condições financeiras, ou seja, diminuíram a pressão sobre o Fed para continuar aumentando as taxas”, avalia Moutinho.

Por outro lado, o analista Edward Moya, da Oanda, destaca que a desaceleração do mercado durante o dia ocorreu uma vez que se “está começando a cair a ficha de Wall Street de que, apesar de os mercados resistirem a aceitar isso, o Fed provavelmente terá de voltar a elevar juros”.

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Já para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o discurso do presidente do Fed não ajudou muito a iluminar mais o que pode vir em termos de decisão.

O especialista destaca que mais uma vez foi enfatizado o cenário de desaceleração gradual da atividade econômica e da inflação. Reconheceu também um maior aperto nas condições financeiras do país. Novamente foi mencionado a determinação de trazer a inflação para a meta e o cuidado de observar um conjunto amplo de dados para orientar as decisões.

“Diferente da última reunião, está mais difícil cravar antecipadamente se vai ou não haver novo aumento de juros em novembro. Arriscaria dizer que, se a reunião fosse hoje, a probabilidade de manutenção seria maior. Mas tem muita coisa para acontecer até o final do mês, particularmente com relação aos desdobramentos da guerra no Oriente Médio. Se ficar claro que a oferta de petróleo vai sofrer de forma expressiva pode haver maior pressão para mais uma elevação”, aponta.

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No mercado de commodities, por sinal, o petróleo chegou a cair com a retirada parcial de sanções contra a Venezuela pelos EUA, mas o fator geopolítico com as tensões entre Israel e Hamas voltou a predominar. O WTI para dezembro fechou em alta de 1,2%, a US$ 89,37 o barril na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês avançou 1%, a US$ 92,38 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Já no mercado de Treasuries, o título de dez anos subiu 8,8 pontos-base (pb), a 4,99%, enquanto o título com vencimento de 2 anos teve queda de 5,7 pb em seus rendimentos, a 5,161% e com vencimento de 5 anos subiu 2,9 pb em seus retornos, 4,954%.

“Powell comentou que a trajetória dos títulos parece não estar atrelada ao movimento inflacionário e ressaltou que a preocupação ocorre com a trajetória fiscal do país. Essa fala sustentou o movimento dos yields no dia de hoje”, considera Gabriel Costa, da Toro Investimentos.

Por aqui, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,15%, ante 12,16% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,20%, ante 11,012% do ajuste anterior e a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,21%, ante 11,01% do ajuste anterior.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,39%, ante 11,22%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,62%, ante 11,45%.

Entre os destaques de ações, os ativos (MGLU3) tiveram baixa de 6,94%. “Uma queda de destaque é de Magalu, que eu vejo muito mais como uma correção do que qualquer outra coisa. Ontem o papel estava entre as maiores altas do índice. A gente pode tem também no momento uma troca de posição de investidores migrando de Magalu para outras varejistas. A alta dos juros futuros no Brasil tem prejudicado bem as empresas do setor varejista nas últimas semanas também”, destaca Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.

Entre as maiores altas do dia, estão Cielo ([ativo=CIEL3)], com avanço de 6,53%, cotada a R$ 3,75 e Grupo Mateus (GMAT3) que subiu 4,05%, a R$ 6,16.

(com Reuters)