Dólar deve cair no mundo todo, mas no Brasil mudança ainda depende de um fator

Enquanto o Dollar Index deve passar por uma correção no médio prazo, a tendência da moeda ante o real segue de alta, podendo se aproximar ainda mais dos R$ 4,00

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A crise econômica e política que afeta o Brasil está fazendo com que o real se descole da tendência de outros mercados e siga em alta, mesmo após disparar quase 9% nas últimas semanas. Enquanto o Dollar Index – um índice que compara o dólar com uma cesta de divisas – mudou sua tendência para queda, no caso do real ainda há uma dependência por boas notícias antes da moeda seguir esta tendência.

Segundo o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ressalta a agenda mais fraca nos próximos dias, começando a ganhar força apenas na sexta-feira e atingindo o ápice na reunião do Federal Reserve na próxima quinta-feira, 17. “O mercado acredita que é mais provável que o Fed não suba os juros agora. A data mais provável é dezembro. Há 30% de chance de alta em setembro e 59% em dezembro”, afirma.

Ontem, o economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, disse ao Financial Times que o Fed deve evitar elevar os juros até que a economia global esteja mais forte, afirmando que uma alta na próxima semana traria o risco de criar “pânico e turbulência” nos mercados emergentes, levando a fuga de capitais e fortes oscilações de moedas.

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Basu ainda afirmou que a projeção de crescimento global de 2,8% para este ano (feita em junho) está sob ameaça devido às incertezas com a China e o Brasil e também com o crescimento anêmico na maioria dos países desenvolvidos. Ele cita também o temor com todos os países emergentes devido às dúvidas crescentes com a China.

Em meio a todo este cenário no exterior, o mercado nacional segue em grande tensão e mantém a tendência de alta de dólar sobre o real. “Está cada dia mais difícil de encontrar ponto razoável de compra. A linha de curto prazo trabalha agora em R$ 3,80″, destaca Júnior em relatório. “A tendência está cada dia mais consolidada e boas notícias podem fazer a moeda recuar a região de R$ 3,60. No patamar atual ficamos muito desconfortáveis em sugerir compras”, completa o diretor da Wagner.

Segundo ele, a última boa oportunidade ocorreu há 50 dias e desde então foram poucos momentos bons para compra, em torno dos R$ 3,45. “Ainda tememos movimentos de curto prazo, mas as proteções de médio e longo prazo neste momento são mais arriscadas. Sabemos que o quadro político é muito ruim e sabemos do risco do rebaixamento nos próximos meses”, afirma Júnior.

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“Temos sugestão de venda na região entre R$ 3,80 e R$ 4,00. Ou seja, de hoje para o final de 2016 temos dólar futuro a R$ 4,50 e, salvo se der tudo errado, esta cotação não deverá ser realidade”, completa Júnior. Por fim, ele completa que o risco no câmbio está na situação interna atualmente muito confusa: “não podemos ultrapassar a marca de R$ 4,00 porque são mares nunca antes navegados”, destaca.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.