Do Kwon, criador das criptomoedas Terra e Luna, é acusado de fraude nos EUA

O sul-coreano foi preso em Montenegro na quinta-feira (23) portando documentos falsos

Bloomberg

(Woohae Cho/Bloomberg)

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O cofundador da Terraform Labs, Do Kwon, foi acusado por promotores dos Estados Unidos de orquestrar uma fraude com criptomoedas ao longo de um ano que eliminou pelo menos US$ 40 bilhões em valor de mercado do setor.

Ele foi formalmente indiciado na noite de quinta-feira (23) pelo pela procuradoria de Manhattan, nos EUA, pouco depois que surgiu a notícia de que ele havia sido preso em Montenegro. Não está claro se a prisão foi a pedido das autoridades americanas, mas os promotores federais disseram que buscariam sua extradição para Nova York.

Mark Califano, advogado americano de Kwon, foi procurado, mas não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

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Se ele for enviado para Nova York, Kwon, de 31 anos, enfrentará um processo pela mesma autoridade responsável por uma ação criminal contra outra figura importante no mundo cripto, o cofundador da FTX, Sam Bankman-Fried, que foi extraditado das Bahamas. O procurador-geral de Manhattan, Damian Williams, afirmou que os esforços das empresas de criptomoedas para evitar a regulamentação, baseando-se no exterior, não deteriam sua equipe.

“A Web3 não é uma zona sem lei”, disse Williams em julho passado, acrescentando que “fraude é fraude, quer ocorra na blockchain ou em Wall Street”.

O colapso da stablecoin TerraUSD (UST) da Terraform Labs, empresa de Kwon com sede em Cingapura, abalou o mundo das criptomoedas no início do ano passado. Destinada a manter um valor constante de US$ 1 por meio de uma combinação complexa de algoritmos e incentivos a traders envolvendo sua cripto irmã LUNA, a Terra USD foi projetada como um refúgio da volatilidade de outras criptomoedas. Mas, tanto a Luna quanto a Terra USD derreteram quando a confiança no projeto evaporou em questão de dias no início de maio.

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A implosão do token se espalhou pelo setor cripto e desempenhou um papel nas falências de empresas como Three Arrows Capital (3AC), Voyager Digital e na FTX e sua empresa-irmã Alameda Research.

De acordo com a acusação dos EUA, Kwon supostamente enganou os investidores sobre os aspectos da blockchain Terra, incluindo sua tecnologia e até que ponto ela havia sido adotada pelos usuários.

A acusação cita declarações falsas e enganosas que Kwon fez em uma entrevista na televisão e nas redes sociais sobre o suposto esquema. Os promotores também acusam Kwon de enganar compradores de criptomoedas emitidas pela Terraform, incluindo a Luna e a UST.

Kwon também é acusado de se envolver em manipulação de mercado com uma empresa de trading americana não identificada para alterar o preço de mercado da TerraUSD. Em maio de 2021, alegam os promotores, Kwon concordou em modificar um empréstimo existente entre a Terraform e a empresa para compensar uma negociação feita para alterar o preço de mercado da stablecoin.

Manipulação de mercado

A Bloomberg  informou no início deste mês que os promotores federais de Manhattan estavam investigando conversas em grupos de bate-papo entre empresas de trading sobre um possível resgate da TerraUSD para potencial manipulação de mercado. Essas empresas incluíam o Jump Trading Group, o Jane Street Group e a agora falida Alameda. O resgate nunca ocorreu.

Kwon foi preso em Podgorica, em Montenegro, na manhã de quinta-feira, junto com Han Chang Joon, diretor financeiro da Terraform Labs, por tentar voar para Dubai usando documentos de viagem falsificados da Costa Rica, disse o Ministério do Interior de Montenegro em comunicado.

O paradeiro de Kwon era um mistério desde setembro, quando as autoridades sul-coreanas emitiram um mandado de prisão contra ele por acusações que incluíam violações de leis do mercado de capitais. Posteriormente, seu passaporte foi retirado e ele colocado sob alerta vermelho da Interpol, mas ainda não se sabe se essa foi a causa de sua prisão.

A força policial da Coreia do Sul disse nesta sexta-feira (24) que pediu a Montenegro para extraditar Kwon para o país asiático. Ambos os países se enquadram na Convenção Europeia de Extradição, disse o Ministério da Justiça da Coreia do Sul.

Documentos Falsos

Kwon e Han também foram encontrados com documentos de viagem belgas e sul-coreanos. Os papéis belgas foram falsificados, de acordo com a Interpol. A polícia levou três laptops e cinco celulares da dupla.

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Horas depois, um júri em Manhattan acusou Kwon de oito acusações, incluindo fraude em valores mobiliários, fraude em commodities e conspiração.

As acusações criminais nos EUA ocorrem um mês depois que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (a SEC) processou Kwon, acusando ele e a Terraform Labs de oferecer e vender títulos não registrados.

Michael Zweiback, um advogado de Los Angeles especializado em casos de extradição, disse que o país que primeiro apresenta as acusações geralmente tem prioridade nos processos quando os fugitivos são presos.

Possível acordo?

Zweiback disse suspeitar que as autoridades americanas só agiram depois de chegarem a um acordo com seus colegas sul-coreanos para que Kwon fosse processado primeiro em Nova York.

De acordo com Zweiback, os EUA têm uma capacidade mais forte de confiscar ativos e propriedades em casos criminais e podem compartilhar as apreensões com a Coreia do Sul. O advogado disse que acordos do tipo entre países são bastante comuns.

Batalhas judiciais por extradição costumam se arrastar por anos, e inicialmente havia o temor de que Bankman-Fried resistisse a retornar aos Estados Unidos para enfrentar as acusações. Mas, ele decidiu aceitar a transferência e atualmente está respondendo ao processo em liberdade após uma promessa de pagamento de fiança de US$ 250 milhões.

Kwon pode tentar evitar sua extradição, mas não tem laços aparentes com Montenegro. Segundo Zweiback, o país poderia revogar seu status atual e expulsá-lo. “E o primeiro que o pegar vence”, disse sobre os processos de extradição.

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