Desconfiança fiscal deve continuar, com impacto em juros e câmbio, avalia economista

Tiago Sbardelotto disse que o mercado “não gostou” das mudanças de meta do PLDO 2025 e o ruído e stress deve seguir

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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O governo apresentou nesta segunda (15) o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, tendo como uma das principais mudanças em relação a 2024 a meta fiscal para o ano que vem, que passou de 0,5% para zero.

Tiago Sbardelotto, economista da XP, disse durante o Morning Call da XP, nesta terça (16), que “é uma mudança significativa”. Outro ponto destacado por ele sobre o novo PLDO foi a trajetória da dívida pública.

“Antes, quando tinha apresentado o arcabouço fiscal, a projeção do governo é que essa dívida não chegaria além de 76,5% (do PIB). E agora, pela primeira vez, o governo está mostrando uma trajetória que cresce até 2028, vai além do mandato do presidente (Lula), e chega muito próxima de 80% em 2027, antes de começar uma estabilização”, disse.

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O PLDO também mudou a meta fiscal de 2026 – antes superávit de 1%, e agora de 0,25%. Para 2027, o superávit é de 0,5%, e 2028, de 1%, pelo novo PLDO.

Segundo Sbardelotto, isso “deve continuar produzindo ruído e estresses”, impactando nos juros e no câmbio. Para ele, o mercado “não gostou” da redução da meta apresentada no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Projeção de déficit para 2024 continua

“A nossa visão permanece de que o governo vai continuar tendo déficit de 0,7% (em 2024) e não vai cumprir a meta (desse ano de zero). E projetamos para o ano que vem também déficit de 0,7%. Nós vemos o déficit (fiscal) seguindo até 2029, pelo menos, e a dívida crescendo até 2032”, disse o economista.

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Tiago Sbardelotto viu o programa de revisão de gastos, incluído pela primeira vez no PLDO, como “decepcionante”. “Tem uma economia estimada de R$ 37 bilhões em quatro anos – é menos 0,1% do PIB. Ou seja, é algo muito pequeno, dentro do que a gente tem de orçamento”, comentou.

“A mudança de meta reflete choque de realidade. Governo vinha buscando um ajuste do lado da receita. Essa estratégia do governo tem um exaurimento, uma limitação. Primeiro porque você não consegue aumentar a receita indefinidamente. Você tem restrições políticas, mas também restrições econômicas”, complementou.


Propensão de não fazer ajuste

Para ele, a redução da meta apresentada no PLDO mostra uma propensão maior do governo de não fazer um ajuste do lado da despesa. “Manter uma política fiscal expansionista de fazer o menor esforço possível para fazer essa contenção de gastos”, afirma.

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“Mercado não gostou. Ver o governo fazendo um esforço menor de fazer o ajuste fiscal e a dívida crescendo mais a longo prazo. A projeção do governo (para dívida) é a até otimista”, disse. “Esse cenário do PLDO é muito otimista para o que mercado vê”, finaliza.


Varejo deve ter trimestre fraco


Laryssa Summer, analista de varejo no research da XP, também participou do Morning Call nesta terça e comentou sobre a 4ª edição do relatório da XP sobre posicionamento de investidores institucionais de investimentos no setor de varejo.

Segundo ela, a expectativa é de um trimestre fraco, já que o último período do ano passado foi marcado por vendas fortes devido as festas de final de ano e o Black Friday. “Mas já está precificado nas ações”, ressalta.

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“Eles (investidores) enxergam também um ponto de inflexão (no setor do varejo) e que daqui para frente os resultados devem começar a melhorar”, complementa.