De falas de Xi Jinping a dados de gigantes do setor: os fatores que têm pressionado o minério de ferro nas últimas sessões

Perspectivas para a commodity já eram vistas como nebulosas, sendo que últimos acontecimentos levaram a uma queda das cotações do ativo

Equipe InfoMoney

(divulgação)

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Se o cenário para o minério de ferro já era visto como turbulento, alguns acontecimentos das últimas sessões têm pressionado os preços da commodity ainda mais para baixo.

Na última segunda-feira (17), os contratos futuros de minério de ferro e da maioria dos metais ferrosos tiveram queda um dia depois que o presidente Xi Jinping reiterou a eficácia de sua política de zero Covid na abertura do Congresso do Partido Comunista.

Xi confirmou o que o jornal oficial do partido enfatizou três vezes na semana passada –que a política estava correta– ao dizer que a China “obteve grandes resultados positivos na prevenção e controle geral da epidemia”.

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Apesar de não haver grandes expectativas para o minério de ferro a partir do discurso de Xi Jinping, alguns operadores de mercado tinham esperanças de um afrouxamento das regras da Covid-19. Com isso, na segunda, o minério de ferro mais negociado para janeiro na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com queda de 2%, a 686,50 iuanes por tonelada. O benchmark de minério de ferro de novembro na Bolsa de Cingapura também caiu 2%, para US$ 91,90 a tonelada.

Xi não sinalizou nenhuma mudança de direção para dois dos principais fatores de risco (regras restritivas da COVID-19 e políticas do mercado imobiliário), fornecendo poucas garantias sobre uma recuperação mais forte nas perspectivas de crescimento, avalia o Bradesco BBI.

Por outro lado, apontam os analistas do banco, uma importante conclusão positiva foi que o Partido continua comprometido com o desenvolvimento econômico, um sinal de que o governo continuará priorizando o crescimento do PIB.

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“Ao manter a posição do partido e reafirmar a meta de que o PIB per capita atinja o nível de um país moderadamente desenvolvido até 2035, Xi acalmou as preocupações sobre o afastamento da política do crescimento. O presidente repetiu as principais políticas econômicas do partido, incluindo ‘dupla circulação’, além de mencionar que a ‘resiliência e segurança’ das cadeias de suprimentos devem ser aprimoradas. Xi ofereceu uma visão otimista do crescimento de longo prazo da China, que ele disse que seria alimentado por uma força de trabalho mais qualificada, inovação tecnológica e reformas de mercado destinadas a aumentar a produtividade”, afirmam os analistas.

O banco suíço Julius Baer destacou que as falas de Xi no Congresso ficaram amplamente alinhadas com as expectativas, por isso não esperavam uma reação forte e imediata do mercado em resposta.

“Esperávamos mais elaborações sobre a política de prosperidade, mas houve apenas algumas discussões genéricas sobre isso, incluindo uma distribuição equilibrada de riqueza e melhor bem-estar social. De qualquer forma, acreditamos que haverá políticas mais concretas nessa frente nos próximos anos, que podem ter um impacto profundo no mercado de ações chinês. Por fim, não houve sinais de relaxamento da política de zero Covid-19 e nenhuma discussão específica sobre a atual crise imobiliária, de modo que os participantes do mercado que buscavam algum afrouxamento ou ajuste da atual configuração da política provavelmente se decepcionaram”, apontou a instituição financeira.

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Na sequência, nesta terça, fatores mais “micro” também impactaram o mercado. A Vale (VALE3) uma das maiores do mundo, divulgou na véspera um aumento de 1,1% na produção no terceiro trimestre de 2022, na comparação com abril a junho.

Enquanto isso, também na véspera, a Rio Tinto reportou uma queda marginal em seus embarques de minério de ferro no mesmo período, prejudicados pela fraca demanda global, incluindo da China, principal consumidora de metais.

A Rio vem lutando contra um aumento nos custos de produção, enquanto os preços do minério de ferro, material siderúrgico, continuam em queda devido à fraca demanda, à medida que aumentam os riscos de uma recessão global.

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“A economia da China tem sido desafiada pelos lockdowns contínuos contra a Covid, falta de energia no verão e fraqueza contínua no mercado imobiliário”, disse a empresa.

A maior produtora de minério de ferro do mundo embarcou 82,9 milhões de toneladas da commodity siderúrgica nos três meses encerrados em 30 de setembro, em comparação com 83,4 milhões um ano antes. A Rio, no entanto, disse que em uma base trimestral, os embarques aumentaram 4%, apesar de duas interrupções ferroviárias, incluindo uma na linha Guidai-Darri. A mineradora reafirmou sua previsão anual de embarques de minério de ferro de 320 milhões a 335 milhões de toneladas.

Com isso, o minério de ferro mais negociado em janeiro na Dalian Commodity Exchange da China encerrou as negociações diurnas nesta terça-feira com queda de 0,4%, a 687 iuanes (US$ 95,57) a tonelada, depois de atingir seu menor nível desde 7 de setembro, a 678 iuanes.

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O benchmark de minério de ferro de novembro na Bolsa de Cingapura chegou a cair 1,4%, para US$ 90,30 a tonelada. Nesta terça-feira, o preço spot do minério de ferro com teor de 62% ficou em US$ 94 a tonelada, mesmo patamar registrado no dia anterior e que corresponde a uma mínima de 11 meses, mostraram dados da consultoria SteelHome.

“A expectativa de que as siderúrgicas reduzam ativamente a produção continua aumentando”, disseram analistas da Huatai Futures em nota, ao citarem margens negativas do aço na China.

Cabe ressaltar que analistas do JPMorgan cortaram suas previsões de preço do minério de ferro no mês passado, para US$ 103 a tonelada no segundo semestre de 2022, ante US$ 133, e para o próximo ano, de US$ 105 para US$ 94 a tonelada.

“À medida que grandes produtoras crescem os volumes, a oferta doméstica chinesa precisará ser reduzida para abrir espaço”, disseram eles em um relatório no mês passado, projetando um fornecimento adicional de 50 milhões de toneladas em 2023 de grandes produtores, incluindo a brasileira Vale.

(com Reuters)