Da Previdência à política com Bolsonaro: 4 economistas traçam cenários para o Brasil em 2019

Ambiente externo desaquecido e com menor liquidez exigirá do Brasil uma "lição de casa" mais completa, sobretudo no que diz respeito à equalização do déficit fiscal

Marcos Mortari

(Valter Campanato/Agência Brasil)

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SÃO PAULO – Num ano em que o cenário internacional não deverá ser dos mais favoráveis – com as incertezas sobre a desaceleração da economia americana e a guerra comercial entre China e Estados Unidos –, o Brasil precisa fazer a “lição de casa” se quiser atrair investimentos e crescer.
A tarefa mais importante, na opinião de especialistas consultados pelo InfoMoney, é indicar uma solução para a crise fiscal – com o primeiro passo sendo a aprovação da reforma da Previdência.
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“Esperávamos que 2018 já fosse um ano de uma recuperação um pouco mais vigorosa, mas não foi. Para 2019, criamos a expectativa de que seja um ano com recuperação econômica firme, mas o cenário externo pode vir a atrapalhar bastante. O Brasil hoje depende muito dele. Isso pode ser a água no chope, pode ser um fator de preocupação bem fundamentada”, pontua Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.

“O Brasil não é uma economia lá muito aberta, mas nosso ciclo econômico é muito influenciado pelo exterior. Se o mundo vai mal, vai entrar menos investimentos aqui. O que não quer dizer que sejam inócuas questões domésticas. Toda vez que fazemos a lição de casa, conseguimos descolar um pouquinho do cenário internacional. E, quando não fizemos, afundamos”, observa Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

“O governo precisa entregar resultados rapidamente. Isso é bom, no sentido de forçar o governo a usar seu capital político de partida para aprovar o que precisa”, avalia a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Em seu cenário base, a economia brasileira deve crescer 2% em 2019. Mas o maior desafio está na política.

Sinais contraditórios ainda têm sido dados por membros do governo sobre a reforma que poderia ser feita e a estratégia para sua aprovação no Congresso Nacional.

Bolsonaro promete uma nova forma de articulação política, diminuindo peso dos partidos e lideranças e priorizando frentes parlamentares e negociações diretas c om congressistas, o que gera dúvidas dada a realidade fragmentada do Legislativo.

Na Câmara dos Deputados, o resultado das urnas trouxe 30 partidos com representação. No Senado, são 21 siglas. O PSL saiu das eleições com 52 deputados e 4 senadores, o que corresponde a 10,13% e 4,94% das respectivas casas. Para alterar a Constituição, é necessário apoio de 3/5 dos parlamentares.

Uma largada que não inspire confiança provocaria reflexos ruins imediatos na economia e no mercado financeiro. “Jogaria o câmbio e a inflação para cima, apesar da ociosidade e das expectativas ancoradas. Isso pode forçar o Banco Central a antecipar uma alta de juros. Seria uma pancada que poderia pôr a perder a recuperação”, alerta Alessandra. Em seu cenário pessimista, o PIB cresceria 0,8% em 2019.

Bolsonaro tem como trunfo um elevado nível de aprovação. Segundo levantamento XP/Ipespe de dezembro, 59% dos brasileiros esperam um governo ótimo ou bom. A lua de mel deve ser aproveitada para o avanço da reforma previdenciária, mas isso dependerá do envolvimento do presidente.

“Existe uma ansiedade grande de que alguma coisa tem que tramitar e passar. Aprovar alguma reforma, seja a do Temer ou uma um pouco menos ambiciosa, mas que traga mudanças como a instituição de uma idade mínima. Já é melhor do que nada”, afirma Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos.

No entanto, não é qualquer reforma que pode dar o sinal que investidores e empresários esperam para colocar dinheiro de fato no país.

“Do ponto de vista econômico, essa foi a eleição mais importante da nossa história. Se for um governo com poucas ambições, vai ser também um país com crescimento modesto. Agora, se já começa com uma boa reforma da Previdência, isso vai abrindo a agenda política para outros temas e acho que o Brasil poderia surpreender positivamente. Sempre que apertamos os botões certos, o país reage”, observa Zeina.

Tudo vai depender do capital político do governo e de como ele será usado. Isso vale para a reforma previdenciária e outras medidas fundamentais para a economia, como a reforma tributária, possíveis ajustes pelo lado da receita e medidas microeconômicas.

O equilíbrio fiscal – e quando ele será atingido – depende de como essa lição de casa será feita. Portanto, as sinalizações contam muito neste momento.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.