Criador dos BRICs está no ápice da sua preocupação com a China e prevê fim do bull market nos EUA

"Tenho que dizer que, no ano passado e pela primeira vez em 30 anos, fiquei um pouco mais preocupado com alguns aspectos do caminho da China do que eu estava antes", disse Jim O'Neill

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Conhecido por ter criado, em 2001, o termo BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) para se referir aos países que teriam cada vez mais influência sobre a economia global, Jim O’Neill tem mostrado pessimismo com relação à maior economia do grupo.  

Em entrevista ao portal americano CNBC, o economista afirmou que está ficando preocupado com alguns segmentos da economia chinesa após anos de um crescimento extraordinário. E há muito risco nisso: o país asiático agora tem uma forte influência sobre a economia global e qualquer recessão teria o potencial de arrastar outras grandes economias para baixo.

“Tenho que dizer que, no ano passado e pela primeira vez em 30 anos, fiquei mais preocupado com alguns aspectos do caminho seguido pela China”, disse o ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management.

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A economia do gigante asiático teve alta de 6,6% em 2018 – no menor ritmo desde 1990 – e há diversos dados apontando para a desaceleração chinesa. Contudo, alguns analistas destacam que o setor de serviços segue resiliente e apontam para os efeitos da implantação de medidas de estímulos. 

Mas, para O’Neill, essas ações serão cuidadosamente observadas e as preocupações só aumentarão caso as medidas falhem em seus objetivos.

“Espero que as iniciativas políticas que as autoridades chinesas vêm fazendo desde a virada do ano, que são muito voltadas para o consumo, ajudem. De outro modo, isso seria preocupante ”, disse ele, destacando que o consumidor chinês tem importado cada vez mais para a economia mundial. 

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Fim do bull market?

O tom de pessimismo se estende também quando O’Neill fala sobre o movimento das bolsas americanas. De acordo com ele, há sinais de que o bull market de dez anos em Wall Street está chegando ao fim. 

Segundo o economista, o mercado americano definitivamente “não está barato” e está bastante sensível a notícias negativas. 

O’Neill ressalta que os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos caíram para seu nível mais baixo desde 1969 e são um sinal de que é inteiramente possível que o Federal Reserve possa rapidamente reverter uma perspectiva “dovish” (branda, de continuidade da política monetária mais acomodatícia) que está em vigor desde o início de 2019.

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O’Neill disse que qualquer indicação de que o Fed vá apertar a política monetária iria perturbar os mercados de ações e títulos dos EUA.

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“A ideia de que talvez os mercados estivessem certos o tempo todo e que o Fed vai apertar a política monetária até o fim do ano não é maluca na minha opinião”, disse ele, antes de acrescentar: “podemos estar entrando no fim do bull market. O tipo de volatilidade que temos visto nos últimos seis meses é muito diferente dos últimos 10 anos”.

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No início desta semana, a diretora administrativa do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disse que a economia global está em “um momento delicado” e observou o claro risco com as tensões comerciais da China com os EUA.

O’Neill disse que 85% de tudo o que afetou positivamente a economia mundial desde 2010 veio dos dois países e, portanto, qualquer acordo de cúpula entre eles precisa ser considerado como um “grande negócio”. Os mercados estão aguardando ansiosamente pelo desfecho da disputa entre os dois países. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.