Credit eleva sua exposição a Brasil em sua carteira global e vê possível “ciclo virtuoso” com valorização do real

Os analistas do banco apontam que, historicamente, em 80% das vezes em que o real se valorizou, o Brasil teve uma performance acima da média

Lara Rizério

(Getty Images)

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Na esteira de diversas casas de análise mais otimistas com as ações brasileiras, a equipe de estratégia global do Credit Suisse elevou a exposição de sua carteira ao Brasil para “small overweight” (ou uma exposição levemente acima da média dentro de seu portfólio).

A equipe de analistas, liderada por Andrew Garthwaite, avalia que o real está muito barato, quando considera a participação do Brasil na pauta de exportação e a balança de pagamentos do país.

“A balança de pagamentos está melhorando novamente, enquanto juros reais permanecem favoráveis. Nosso time de economistas estima um IED (Investimento Estrangeiro Direto) de cerca de U$ 70 bilhões, contra um déficit em conta corrente de cerca de US$ 40 bilhões em 2023 (um superávit da balança de pagamentos de cerca de 1,7% do PIB).

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Os analistas do banco apontam ainda que, historicamente, em 80% das vezes em que o real se valorizou, o Brasil teve uma performance acima da média, com o país entrando em um “círculo virtuoso”: 10% de apreciação da moeda retira 2% da inflação e 64% dos pagamentos da previdência social são indexados à inflação.

O prazo médio da divida de 4 anos significa que os rendimentos mais baixos dos títulos ajudam rapidamente a melhorar a posição fiscal, lembrando ainda que há o correspondente a 17% do PIB  de dívida denominada em dólares. Portanto, uma moeda mais forte permite que a inflação caia e também ajuda na redução da dívida, o que, por sua vez, ajuda a sustentar a moeda.

O valuation também parece atrativo se excluídas as commodities (e também para o mercado como um todo), apontam os analistas.

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O banco avalia que a preocupação recente tem sido política. Porém, avalia, parece improvável que a independência do Banco Central seja alterada e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), parece disposto a vetar reformas para
mudar regras trabalhistas ou proteger empresas estatais (especialmente de saneamento) de privatização.

Neste contexto, a equipe destaca que o maior problema é a efetividade das novas regras fiscais, para as quais os economistas do banco suíço ainda preveem um déficit primário de 1% do PIB no próximo ano versus a meta de 0% (um superávit de cerca de 2,5% do PIB é necessário para estabilizar a dívida do governo em relação ao PIB, que já está em cerca de 73%).

“Para que as novas regras sejam viáveis, é necessária uma ampla reforma fiscal, e grande parte da melhoria da situação fiscal depende de novas medidas de arrecadação. A outra preocupação importante é a exposição a commodities, com 68% das exportações sendo relacionadas a elas”, apontam os analistas.

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Contudo, os analistas apontam que, ao usar os números de consenso da Bloomberg, a Petrobras (PETR4) parece “anormalmente barata”, citando que a estimativa de dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) para 2024
é de cerca de 20%.

Outras posições

Entre outras alocações globais, no mesmo documento, o banco elevou o Japão de underweight (exposição abaixo da média do mercado) para overweight, destacando alguns pontos como sinais de mudanças corporativas (por exemplo, recompras de ações acima dos EUA em 3,6% do valor de mercado) e melhoras nos dados de PMIs.

Os analistas também reduziram a sua exposição overweight no Reino Unido, de modo a refletir a projeção de recessão, necessária para controlar o crescimento salarial. Para a Europa Ocidental, a redução foi para um “overweight” marginal, devido a preocupações com inflação mais persistente.

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Para os emergentes em geral, cortou a exposição para “small overweight”, enquanto colocou a China como em linha com a média, uma recomendação equivalente à neutra.

Com relação aos emergentes, os analistas apontam que muitos suportes de longo prazo permanecem em vigor, como a visão de uma moeda claramente barata (retirando o renminbi) e o valuation de ações mostrando melhora relativa frente os desenvolvidos. Contudo, apontam, entre outros motivos, que há uma revisão forte nos lucros para baixo e é difícil ver taticamente um dólar fraco.

O valuation da China parece atrativo, mas há decepção com o impulso econômico. Por outro lado, enquanto elevou exposição em Brasil e Taiwan, reduziu ao México e adicionou Tailândia em seu portfolio.

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Por fim, reduziram sua exposição underweight em Estados Unidos, pois estão otimistas com techs e apontam que os EUA são um mercado defensivo.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.