Coronavírus domina debate entre Biden e Sanders

Amanhã, mais quatro estados importantes vão às urnas – Flórida, Ohio, Illinois e Arizona --, e a expectativa é que Joe Biden consolide sua liderança

Sérgio Teixeira Jr.

(Reprodução)

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NOVA YORK – Joe Biden e Bernie Sanders fizeram na noite de ontem o debate mais esperado da disputa pela candidatura presidencial do Partido Democrata.

Mas, em meio à crise do coronavírus e sem a presença da plateia – o debate aconteceu em um estúdio da CNN em Washington –, a sensação foi de uma corrida praticamente definida.

O autodeclarado socialista Sanders está atrás do ex-vice de Barack Obama na contagem de delegados para a convenção, e não houve nocautes nem surpresas que devam alterar o curso das primárias.

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Amanhã, mais quatro estados importantes vão às urnas – Flórida, Ohio, Illinois e Arizona –, e a expectativa é que Joe Biden consolide sua liderança.

O objetivo de Sanders, na opinião dos comentaristas, era aproveitar para expor suas ideias uma vez mais, desta vez diante de um grande público – aumentando a pressão para que Biden dê mais passos à esquerda.

A expectativa era de uma grande audiência na noite de ontem. Não havia a concorrência de eventos esportivos (todas as ligas cancelaram suas partidas nos Estados Unidos), e muitos americanos estão evitando sair de casa por causa da pandemia do coronavírus.

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A crise global de saúde pública dominou a primeira parte do debate, e tanto Biden quanto Sanders criticaram a atuação do governo Trump até aqui.

Em sua primeira participação, Sanders usou o tema para falar da questão que define sua campanha: cobertura de saúde universal para todos os americanos.

“Sejamos sinceros: o coronavírus expõe a fraqueza do nosso sistema”, afirmou Sanders, senador pelo estado de Vermont. “87 milhões de pessoas não têm seguro saúde ou têm cobertura inadequada.”

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Biden retrucou apontando que a Itália – que tem um sistema público nos moldes do que Sanders promete implementar – está sofrendo para atender todos os doentes. A questão, disse o vice-presidente, é outra: a sobrecarga dos hospitais.

Biden afirmou que o país “está em guerra” contra o vírus. Ele defendeu que, nesta emergência, todas as despesas médicas dos americanos sejam arcadas pelo governo federal.

O ex-vice também apontou para as pessoas que inevitavelmente perderão empregos por causa da crise e estão especialmente vulneráveis.

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Não existem leis que garantam licença médica remunerada para os trabalhadores americanos, e muitos empregados do setor de serviços não têm plano de saúde.

Durante o debate de ontem à noite, a prefeitura de Nova York anunciou o fechamento obrigatório de bares, cafés e restaurantes, que somente poderão vender comida para viagem ou para delivery.

E também ontem o principal órgão de saúde pública do país, os Centros de Prevenção e Controle de Doenças, recomendou que reuniões de 50 ou mais pessoas sejam evitadas pelos próximos dois meses.

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Embora ainda seja cedo demais para avaliar o impacto da pandemia – tanto em termos de saúde pública quanto em termos econômicos–, é certo que este será um dos principais assuntos na cabeça dos eleitores no dia 3 de novembro.

Cerca de duas horas antes do debate, Trump fez um pronunciamento comemorando o corte de juros por parte do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, e dizendo que o país tem “tremendo controle” sobre o vírus.

“Relaxem, estamos indo muito bem. Tudo vai passar”, disse o presidente. Minutos depois, no mesmo púlpito, Anthony Fauci, principal autoridade de seu governo em doenças infecciosas, disse que “o pior ainda está por vir”.

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Biden usou repetidas vezes a palavra “especialistas” e afirmou que, se fosse o presidente, estaria na sala de situações da Casa Branca tomando decisões baseadas na ciência.

Sanders, como sempre, tentou colocar a discussão em termos morais. “Temos de nos perguntar como viemos parar aqui. Quem detém o poder neste país? Quem são os donos da mídia? Quem define a agenda legislativa? Temos de enfrentar Wall Street” e as grandes corporações, afirmou o senador.

Toque de cotovelos

A saúde dos dois candidatos também foi um dos assuntos da noite. Biden, 77, e Sanders, 78, afirmaram que os eventos de campanha com grandes aglomerações estão suspensos e que não apertam mais mãos de eleitores.

No palco, eles se cumprimentaram com um toque de cotovelos. Seus pódios estavam separados por uma distância de dois metros.

Apesar das diferenças significativas entre ambos, Biden terá de conquistar o eleitor de Sanders para vencer a eleição geral. No sábado, ele anunciou que estava encampando duas propostas da ex-adversária Elizabeth Warren (também da ala esquerdista do partido).

Nas próximas semanas, caso se confirme seu favoritismo (ou caso Sanders abandone sua candidatura), Biden terá de continuar fazendo acenos a eleitor que quer mudanças radicais como as propostas por Sanders.

Mas, no debate de ontem, o ex-vice-presidente disse que o eleitor americano “quer resultados, não revolução”.

A segunda metade do debate contou com as discussões mais acaloradas – mas, ao mesmo tempo, foi a parte menos interessante da noite.

Sanders recitou diversos votos do adversário em temas sagrados para o eleitor democrata. Quando era senador, Biden votou contra o casamento de pessoas do mesmo sexo e a favor da guerra do Iraque.

O ex-vice respondeu apontando que Sanders votou contra controles mais rigorosos para quem quer comprar armas.

Ambas as acusações são antigas e foram exploradas à exaustão em debates anteriores, e os dois candidatos mudaram de ideia desde então.

Uma das surpresas do debate foi a confirmação de Biden de que, em caso de vitória, a vaga de vice de sua chapa será ocupada por uma mulher.

As três senadoras que disputaram as primárias contra Biden – Kamala Harris, Amy Klobuchar e Elizabeth Warren – são os nomes considerados favoritos.

Divididos hoje, unidos mais à frente?

Olhando para o futuro, os moderadores perguntaram se os candidatos fariam campanha para o adversário caso saíssem derrotados das primárias.

Ambos foram enfáticos ao confirmar que, sim, subirão no palanque um do outro e que o objetivo comum dos dois é tirar Donald Trump da Casa Branca.

“Discordamos nos detalhes, mas não no princípio”, afirmou Biden, em mais um gesto conciliador dirigido aos apoiadores de Sanders.

“O que está em jogo é muito mais importante de quem será o indicado do partido. Mais quatro anos de Trump vão mudar a essência do país.”

Sanders afirmou que “desde o primeiro dia disse que esse presidente é racista, sexista, homofóbico. Estamos dispostos a fazer de tudo para derrotar Trump”.

A questão é delicada para Sanders. Quatro anos atrás, a campanha de Hillary Clinton acusou o senador de não se esforçar o bastante depois de ser derrotado nas primárias.

No segmento que discutiu a mudança climática, Biden fez uma referência ao Brasil – a única de todos os debates até aqui.

Ele afirmou que lideraria uma coalizão internacional para remunerar o país em troca da proteção da Amazônia. Segundo Biden, as recentes queimadas jogaram mais carbono na atmosfera do que nos Estados Unidos num ano inteiro.

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Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York