Contrariando Yellen e outros gurus, Bernanke diz que “as ações não estão caras”

Comentário do ex-presidente do Federal Reserve vem pouco depois de Janet Yellen, atual presidente do banco central dos EUA, afirmar que os preços das ações estão "muito altos"

Paula Barra

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SÃO PAULO – Contrariando as afirmações da atual presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, de que os preços das ações estão “muito altos”, o ex-presidente do banco central americano Ben Bernanke comentou, em seu último post em seu blog no Brookings Institutuion, que as ações estão em um “patamar normal” de preços.

A afirmação bate de frente também com opiniões de outros gurus do mercado, como o prêmio Nobel Robert Shiller e o economista Nouriel Roubini, ambos famosos por preverem a crise de 2008. No final de semana, eles alertaram para um possível formação de bolha – em uma posição completamente oposta a que dada por Bernanke agora.

Para chegar a essa conclusão, o ex-presidente do Fed analisou os números do S&P 500, um dos principais índices acionários das Bolsas americanas, e viu que ele subiu cerca de 1,2% em cada trimestre desde o fim da recessão em 2011 até o quarto trimestre de 2007, o pico do ciclo econômico anterior à crise. Se o índice continuar subindo a mesma taxa, a matemática do ex-presidente do Fed aponta que o S&P 500 teria alcançado 2.123 no primeiro trimestre deste ano. Isso é três pontos acima da máxima do primeiro trimestre, em 2.120, patamar alcançado em fevereiro, e 55 pontos a mais do ponto onde o índice encerrou os primeiros três meses do ano, a 2.068 pontos.

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Enquanto o ex-banco central dos EUA disse que, claro, há diversas maneiras de calcular o patamar normal de preços das ações, ele acredita que todos levarão a conclusão similar. “Os preços das ações subiram rapidamente nos últimos seis anos, mas eles foram severamente depreciados durante e após a crise financeira”, escreveu em seu blog. “Sem dúvida, as atuações do Fed não levaram a aumentos permanentes nos preços das ações, mas, ao invés disso, devolveram-as a sua tendência”, enfatizou.

Contra maré

A mensagem de Bernanke vai na linha oposta a dada recentemente por Yellen, de que os preços dos ativos estariam muito altos, apontando potenciais perigos ali. Uma corrente que encontra importantes adeptos, como os gurus Robert Shiller e Nouriel Roubini.

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Shiller, que previu a bolha da internet e a crise imobiliária de 2008, apontou que, talvez, o mercado de ações esteja de fato caro demais, embora não fale da formação de uma bolha clássica. Ele falou durante o final de semana em entrevista para Allison Nathan, do Goldman Sachs. 

Na mesma direção, o economista Nouriel Roubini, também famoso por prever a crise de 2008, publicou neste final de semana um texto no Project Syndicate sobre a “bomba relógio” da liquidez. Segundo ele, o mundo está vivendo um paradoxo. Por um lado, as taxas de juros baixas (ou negativas) e uma política monetária expansiva nos países desenvolvidos inundaram os mercados de recursos e inflaram bolhas em alguns ativos. Ao mesmo tempo, essa liquidez não está circulando normalmente no mercado a qualquer dado momento. 

O mesmo alerta já havia sido dado por Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, e Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano. Para Roubini, isso pode levar até a um novo crash.