“Contra fluxo não há argumentos”: Vale (VALE3) está barata, mas especialistas preferem ações ligadas ao mercado interno

Especialistas apontam existência de outras oportunidades na Bolsa brasileira e incertezas quanto ao futuro das commodities no curto prazo

Vitor Azevedo

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A despeito do otimismo de analistas com as ações da Vale (VALE3), os papéis ordinários da mineradora acumulam uma queda de aproximadamente 20% em 2023, precificadas, no fechamento da última segunda-feira (12), a R$ 67,12 – não seguindo a alta do Ibovespa de cerca de 7% no ano, puxada, majoritariamente, por empresas ligadas ao mercado interno.

De acordo com a Refinitiv, atualmente as ações ordinárias da gigante brasileira têm 12 recomendações de compra, seis neutras e nenhuma de venda. O preço-alvo médio estipulado pelas casas de análise fica em R$ 93, com potencial de alta de 38,5% frente ao valor da véspera.

Recentemente, o Credit Suisse reforçou compra para as ações da Vale, vendo potencial de longo prazo intacto, o BTG Pactual manteve visão positiva com a expectativa de estímulos na China e a Genial avaliou que a empresa deverá sofrer reprecificação de múltiplos para cima, “apesar de avaliar que os investidores talvez tenham que ser pacientes no curtíssimo prazo até o jogo virar”.

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Por que, então, as ações não avançam?

Num primeiro momento, o que justifica para alguns especialistas o fato de a Vale estar andando de lado é que há melhores oportunidades na Bolsa brasileira.

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“A ação está barata, caiu bastante, mesmo considerando a queda do minério. Mas, na nossa cabeça, vemos outra oportunidade em outras empresas, ligadas ao cenário local e que vão se beneficiar da queda de juros, que parece iminente”, diz Fernando Siqueira, head de Research da Guide Investimentos.

As maiores altas do Ibovespa até então em 2023 são de empresas ligadas à taxa de juros, seja por estarem endividadas ou por terem seu faturamento amplamente dependente do consumo dos brasileiros. As ações da Azul (AZUL4) subiram mais de 70%, as da Yduqs (YDUQ3), mais de 65% e as da MRV (MRVE3), mais de 50%.

Do outro lado, entre as principais quedas, estão diversas empresas de commodities – para além do setor de mineração e siderurgia. Os papéis da Gerdau (GGBR4) caem cerca de 7%, os da CSN (CSNA3), 4,5%. 3R Petroleum (RRRP3) e PRIO (PRIO3) têm baixas de, respectivamente, 13% e 9%.

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“Na nossa visão, o momento não é bom para as empresas de commodities de forma geral. A Vale chama a atenção por estar barata, mas isso não é suficiente. Levando isso em consideração o Ibovespa, como um todo, estava barato há um bom tempo. Ser barata sem nenhum fato novo  que não mude a perspectiva do mercado, dado que a economia mundial está desacelerando, não muda muita coisa. Vemos risco e retorno melhor em outros nomes”, acrescenta Siqueira.

A perspectiva de que o preço do minério não tem muito potencial de alta, com a economia chinesa dando sinais de fraqueza, bem como outras economias importantes mundialmente, é um dos fatores que seguem segurando a Vale. Ao mesmo tempo, as projeções de que os juros no Brasil irão cair impulsiona as empresas ligadas ao mercado interno, minguando os possíveis aportes na mineradora. Estas, então, devem trazer retornos mais atraentes no curto e médio prazo.

“O que a gente tem visto é um movimento de melhora macro no Brasil, com inflação melhorando e redução de incertezas quanto ao fiscal. Há a precificação de queda dos juros, com a expectativa crescente de que a Selic será cortada no segundo semestre do ano. Isso tem beneficiado empresas do ciclo doméstico. São as empresas mais beneficiadas”, explica Jennie Li, estrategista de ações da XP.

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“Enquanto isso, empresas exportadoras têm dificuldades. O cenário macro está complexo. Há medo de recessão nos Estados Unidos. Na China, havia a expectativa de recuperação muito mais forte e há certo desapontamento com dados econômicos. Há, então, uma dualidade histórica”, acrescenta.

Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord, destaca que a Vale também tem uma dinâmica diferente quando o assunto é “avaliação de preço”. Apesar de estar atualmente a um EV/Ebitda (valor de mercado sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou lucro operacional), o múltiplo leva em consideração o que se viu no passado – podendo cair nos próximos resultados.

“Os múltiplos representam os preços atuais da ação versus os resultados dos últimos doze meses. Quando olhamos o minério de ferro, ele estava há doze meses a patamares bem elevados na comparação com hoje”, contextualiza. “É uma ótima empresa, mas depende da commodity para avançar. Minério vem caindo bastante, primeiro com a política de Covid Zero na China. Por lá, há também uma crise do setor imobiliário. Tudo isso pressiona, faz as ações andarem de lado”.

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A percepção, então, é que os papéis, apesar de estarem baratos, têm pouca margem para avançar.

“Preço do minério, apesar da queda substancial, está acima da media histórica. E não há muita razão para sair desse patamar. A China, apesar de estar morna, é favorável ao preço da Vale em relação ao lucro nos próximos anos. Dividendos devem continuar interessantes, com yield de 10%”, debate Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama. “A gente tem observado a tendência de venda da Vale puxada por investidores brasileiros e estrangeiros, com perspectiva de desaceleração da economia mundial e com a China. Nossa percepção, contudo, é que a Vale está com um preço atrativo”.