Com a operação nos fundos de pensão, o fantasma da corrupção volta a assombrar o mundo político

Este é mais um fio desencapado das tensões políticas que o presidente Temer terá de administrar, juntamente com os desarranjos entre PMDB de um lado e o PSDB e o DEM de outro. O risco é o Congresso ficar paralisado e atrasar as reformas.

José Marcio Mendonça

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O fantasma da Operação Lava-Jato e outras investigações paralelas voltou a assombrar o mundo político ontem, com a volta para a prisão do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, cuja delação premiada em parte foi anulada há dias pelo STF, e com A condução coercitiva para depor e mandados e busca e apreensão em empresas ligadas à JBS Friboi e à WTorre e aos quatro maiores fundos de pensão das estatais: Previ, Petros, Postalis e Funcef (a Operação Greenfield). É a lembrança que o imponderável (ou, como diria Nélson Rodrigues, o Sobrenatural de Almeida) pode ainda causar estragos e perturbar a operação política do governo com os partidos e o Congresso Nacional. Segundo os bem informados das nuances dos processos, os danos maiores poderão vir para o PT e o PMDB.

O caso dos fundos de pensão, envolvendo, de acordo com os primeiros dados, corrupção que pode chegar a R$ 50 bilhões e que já gerou o bloqueio de bens de R$ 8 bilhões, é uma nova vertente de investigação cujo desdobrar terá o condão de arrastar alguns partidos e políticos mais para dentro do turbilhão. Há muito esses fundos de pensão têm sido usados pelo governo para realizar suas políticas públicas e de escolha dos chamados “campões nacionais”, beneficiar empresas de amigos do poder. Nessa corrente, passou muito corrupção pessoal e para financiar campanhas e partidos.

Esquema parecido com o do petrolão e os que começaram a ser desvendados também na Eletrobras, Nuclebras e sabem-se lá em quais estatais mais. O custo em parte já está sendo bancado pelas empresas patrocinadoras – os Correios socorrem já o Postalis, a Petrobras o Petros – e pelos empregados dessas companhias, que estão tendo benefícios de aposentadorias cortados e estão tendo de entrar com contribuições extras para a equilibrar financeiramente esses fundos. Tecnicamente, por exemplo, o Postalis é tido como falido. Esses quatro fundos têm 68% do déficit de todo o setor.

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A ocupação dos fundos pelos partidos políticos, pelos sindicatos de trabalhadores e pelo próprio governo foi uma norma nos últimos anos – eles agiam de acordo com os interesses da política do governo e por critérios pessoais, sem rigor técnico. Isto foi denunciado há muito tempo, porém nunca as denúncias tiveram consequências. Apenas recentemente começaram as reações dos funcionários, os mais diretamente prejudicados por tudo isso. Na Previ, por exemplo, candidatos “oficiais” foram derrotados no início do ano na renovação de membros do conselho diretor.

MEIRELLES: 100 MIL PESSOAS

NAS RUAS É SUBSTANCIAL

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Este é mais um ingrediente da tensão política que o presidente Michel Temer terá de administrar ao desembarcar hoje da viagem à China e ao começar a governar de fato como presidente efetivo da República. Mas a tensão maior ainda está nas relações na base aliada, envolvendo de um lado o PSDB, o DEM e o PPS, antigos oposicionistas, e de outro o PMDB, governista com Dilma e naturalmente governista com Temer.

A crise entre eles tem um novo eixo. Na origem estão as vacilações do PMDB em relação a alguns aspectos do ajuste fiscal, principalmente quando se trata de aumentos dos servidores públicos, agora muito especificamente o reajuste para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Cresceu com a posição dúbia do PMDB em relação à manutenção dos direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff. E ontem entrou quase em ebulição depois que o PMDB aconselhou Temer a não enviar para o Congresso a proposta de reforma da Previdência antes do segundo turno das eleições. O Palácio do Planalto anunciou que poderia mandar o projeto em setembro, para demonstrar seus compromissos com a reforma independentemente das conveniências político-eleitorais. Seria mais um sinal para os agentes econômicos, empresários e o mercado. Porém, a tendência no momento é voltar atrás, o que aumentou a irritação desses parceiros de Temer, que ameaçaram novamente romper a aliança. O próprio Henrique Meirelles disse ao “Valor Econômico” que a reforma será enviada em pressa.

O governo parece ter acordado também para a força, ainda incipiente, contudo crescente e barulhenta, da oposição nas ruas com o “Fora Temer” e a nova campanha por “diretas já”. Segundo a “Folha de S. Paulo”, avaliações no Planalto do Planalto admitem que Temer errou ao subestimar esses atos, principalmente o de domingo. Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, 100 mil pessoas na rua não é pouca coisa. (A esse respeito ver a entrevista da professora da USP Lourdes Sola ao “Na Real na TV”).

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 Outros destaques dos

jornais do dia

– “Por reajuste, bancários para m em todo o país a partir de hoje” (Folha/Estado)

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– “No ano, pedidos de recuperação judicial aumentam 61%” (Valor)

– “Plano de recuperação judicial da Oi prevê venda de telefonia móvel e foco na banda larga fixa” (Estado)

– “Bradesco quer manter Trabuco por mais dois anos na presidência” (Globo/Folha)

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– “Novas manobras para tentar salvar o mandato de Eduardo Cunha” (Globo)

– “Até mortos aparecem como doadores de campanha” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

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1. Editorial – “Governo Temer precisa ter cuidado com o FGTS” (diz que revelação de que Planalto estuda impedir saques no Fundo por demitidos sem justa causa é trágica para os desempregados e prejudica o próprio presidente) – Globo

2. José Casado – “Janot na reta final” (diz que procurador corre contra o tempo – partidos reagem com projetos para minar investigações e restringir delações) – Globo

3. Editorial – “Balanço de uma época” (diz que anos de petismo tiveram avanços sociais inegáveis, porém agravaram problemas estruturais da política e da economia brasileiras) – Folha

4. Raymundo Costa – “O entulho do impeachment” (diz que o governo Temer tem clareza de que está perdendo a guerra da versão do golpe e aposta na única obra que pode assegurar seu reconhecimento na história – a reconstrução da economia) – Valor