Colunista: Ser produtor de milho não é fácil

Como explicar o fato de que a demanda por etanol permanece em alta nos EUA, mas o mercado de milho está "bearish"?

Chau Kuo Hue

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Atualmente, há 187 unidades produtoras de etanol nos Estados Unidos. No início de 2008, estavam registradas 139 plantas. A crise econômica no país não paralisou os projetos voltados para a produção de etanol, tampouco a demanda se retraiu, como seria de se esperar. De acordo com a Associação de Energia Renovável dos Estados Unidos, a demanda pelo produto aumentou em cerca de 25%, se comparamos a procura acumulada entre janeiro e abril deste ano contra o mesmo período de 2009. Ou seja, não houve redução da utilização de milho.

Entre 2008 e 2010, o consumo mundial de milho cresceu. Se há dois anos toda a economia consumiu 1.079 milhões de toneladas, a estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos é de que, em 2010, o mundo demande 1.124 milhões de toneladas, seja para ração, consumo humano ou etanol. Apesar disso, o preço do milho no mercado internacional continua baixo, se comparado aos níveis atingidos durante o primeiro semestre de 2008. Como explicar o fato de que a demanda por etanol, uma das maiores causas de alta nos anos anteriores, permanece em alta nos EUA, mas o mercado de milho está “bearish”? Obviamente, não existe somente uma explicação, mas sim uma série de causas.

 “Muitos países
 gozam de oferta
 suficiente de milho para
 suprir sua demanda”

No mesmo período (2008 – 2010), a produção cresceu em vários países, mantendo os estoques mundiais em níveis elevados. Muitos países, cujos estoques estavam baixos, aproveitaram os preços deprimidos em 2009 e recompuseram seus silos com o grão. Nada mais comum, já que não se pode saber se o preço poderia subir novamente. Sendo assim, muitos países gozam de oferta suficiente de milho (por ora) para suprir sua demanda.

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Além disso, os fundos de investimentos estão com menos vontade hoje de colocar commodities em seu portfólio em relação há anos atrás. Isso é explicado pelo fato de que os fundamentos que justificavam uma pesada posição comprada não mais se aplicam nos dias atuais. O petróleo já não é tão mais caro a ponto de empresas e consumidores preferirem trocar o combustível à base de carbono por energia renovável.

A demanda mundial por carne também arrefeceu, diminuindo o ritmo de procura por milho para ração. Indústrias de carne investiram menos em alojamentos de frangos e suínos para corte, assim como foi reduzido o confinamento de bois.

A meu ver, os Estados Unidos continuarão a utilizar o milho como fonte de energia, misturando à gasolina, assim como ocorre no Brasil (mas à base de cana-de-açúcar). Porém, a formação de estoques nas principais regiões consumidoras ao longo dos últimos meses, assim como o menor ritmo de crescimento, seja para consumo humano seja para ração, serão mais fortes do que qualquer especulação que possa surgir nos próximos meses. Até agora, os indícios são de que há sobreoferta de petróleo no mundo, descartando qualquer possibilidade de repique do preço do petróleo, levantando rumores de que a procura por etanol se elevaria.

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Para a indústria que utiliza o milho como insumo, a perspectiva de preços baixos é um alento. Para os produtores, devem se preparar para um período de vacas magras.

Chau Kuo Hue é economista e escreve mensalmente na InfoMoney.
chau.hue@infomoney.com.br