Colunista Infomoney: Quando a Copa do Mundo é mais do que um grande evento

Copa do Mundo no Brasil em 2014 revela-se como oportunidade única de impulsionar turismo; arenas multiuso em foco

Ingo Plöger

Quando 3,2 bilhões de pessoas assistem a jogos por 6 semanas, a imagem do país sede fica definitivamente marcada. A chance de se confirmar estereótipos ou substituí-los é única. Um exemplo singular foi o da Copa de 2006, quando a Alemanha – hospedeira desse mega espetáculo – utilizou o lema “O Mundo entre Amigos”.

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O objetivo era imprimir uma nova imagem de alemães alegres e não sisudos, simpáticos e não robustos, organizados mas não fanáticos, motivando não só os visitantes, mas também o próprio povo alemão, unindo os alemães do leste e oeste, recém reunificados.

Na final dos jogos, alemães comemoravam com a Itália vencedora como se fossem eles os vencedores, com bandeiras, buzinassos e festas. Após 60 anos, os alemães voltavam a comemorar como outras nações.

O mega evento, para a Alemanha, teve um efeito mais interno do que externo. O estímulo provocado pela comunicação levou milhares de alemães a se apresentarem para trabalhar como voluntários nos serviços de orientação e assistência aos torcedores, garantindo uma festa bonita, positiva e bem organizada, mostrando assim a cara nova de um povo e de um país.

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Os investimentos para uma Copa compensam? Essa é a pergunta frequentemente feita. Embora tenha orçamentos de investimentos planejados, a democracia e seus grupos de pressão fazem com que investimentos em infraestrutura não sejam autorizados com rapidez, pelo seu envolvimento social, ambiental e jurídico. Como a Copa de 2006 tinha data marcada para começar e para terminar, foi imperativo tornar mais ágeis os investimentos. O planejamento da Fifa, irredutível como é, alavancou a rapidez nos procedimentos.

“Legado que a Copa
de 2014 deverá
deixar tem que
ser ambicioso”

E constatou-se que, anos após a passagem da Copa de 2006, o índice de utilização dos estádios aumentou significativamente, pois a segurança, a organização e o conforto nos espetáculos proporcionaram a possibilidade de integrar a família nos estádios.

A manutenção dos estádios, na Alemanha, se tornou um peso para as prefeituras ou os clubes que os administravam, com uma média de custo entre 15 a 25 milhões anuais. Várias iniciativas se desenvolveram a partir desta realidade para tornar os estádios menos onerosos e mais sustentáveis economicamente.

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Conseguir receita adicional e resultados que cobrissem esse déficit tiveram que ser desenvolvidos para as arenas. A concepção da arena multiuso foi a maneira encontrada. Assim, atividades que geravam tráfego e renda, adicionalidades operacionais ou concepções de comunicação foram ações que levaram alguns estádios a se tornarem autosuficientes.

Nenhum deles conseguiu pagar os investimentos realizados diretamente no estádio ou na infraestrutura de mobilidade. Porém, pagar os custos de manutenção proporcionando inserção social ao investimento justificou publicamente o que se planejara.

Esta experiência transformou os modelos de multiuso em cases a serem utilizados ou adaptados às futuras sedes da Copa do Mundo. Especialmente as questões voltadas à gestão destas arenas se tornaram um capítulo dos mais interessantes no aspecto de PPP (Parcerias Público-Privada).

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Modelos exigem, de um lado, o bem social, por outro , uma operacionalidade empresarial. Nesse sentido, como conciliar e realizar? O investimento de adicionalidade não tornaria o investimento primário realizado no estádio ainda mais caro e inviável?

Estas questões se abrem não só para a África do Sul, mas especialmente para o Brasil. Estando nesta fase de planejamento, a questão prioritária é atender ao calendário do master plan da Fifa, que já demonstra estarmos atrasados nas obras.

Adicionar sustentabilidade a estes conceitos irá encarecer as concepções já aprovadas pela Fifa. Então, o que nos resta a fazer senão enfrentar esta realidade e sair construindo o mais rápido possível? Até porque as prefeituras ou os estádios estão sob fortíssima pressão para que iniciem suas licitações e obras. Os financiadores querem ver os projetos, que deverão conter, no mínimo, o que é exigido pela Fifa.

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As nossas cidades e regiões são muito diferentes umas das outras. E a questão de introduzir a sustentabilidade econômica, social e ambiental neste conceito só emplacará se forem observadas as vocações de cada uma das cidades sede.

O legado que a Copa de 2014 deverá deixar não pode ser apenas a boa lembrança de uma grande festa bem sucedida e de construções maravilhosas que contemplem um uso restrito de 6 a 8 horas por semana. O legado pode e terá que ser muito mais ambicioso. 

Sobre isto, vale oportunizar a Copa de 2014 para integrar conceitos que reforcem esses valores junto às arenas, desenvolvendo-as para serem centros de entretenimento urbano, ou com atividades afins.

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Se pensarmos na cidade de Natal, ou de Cuiabá, elas certamente tem vocações muito distintas. Enquanto a primeira é bem mais voltada ao turismo, a segunda se direciona ao agronegócio. No caso de Natal, pode fazer muito sentido integrar a uma arena multiuso contextos turísticos, educativos, entre outros. Já para a cidade de Cuiabá, fará muito sentido integrar atividades instrutivas e expositivas relativas ao agronegócio.

A questão que se coloca é: quem se preocupará agora em introduzir esses elementos no planejamento, para poder superar a deficiência que a cidade herdará após a Copa? O BNDES, a Caixa Econômica ou o Ministério da Cidade – financiadores dos estádios -, darão ênfase a esta questão, ou seguirão o ritual público, de que os investimentos deverão ser realizados com o menor preço possível?

O barato de hoje poderá nos sair muito caro amanhã, quando as prefeituras ou os estados gestores desses estádios tiverem uma alta conta para pagar. Melhor será aprender com os que já fizeram e tiveram que retrabalhar para reduzir o gasto após a Copa.

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O legado se faz integrando a sociedade local definitivamente em um projeto urbanístico, fazendo-o socialmente justificável. Integrando atividades, tecnologias, opções de uso múltiplo, que poderão dar um sentido justo e perfeito para um investimento que economicamente não terá um retorno no seu objeto, mas pela integração de suas atividades a posteriori.

Muitos projetos se desenvolvem neste sentido (ressalto até mesmo o desenvolvimento de catering para os estádios e as fan fests com produtos sustentáveis e orgânicos, que poderão incrementar um mercado que hoje é de aproximadamente de 400 milhões para o dobro em 2014, aumentando a cadeia de pequenos agricultores).

Por exemplo, o turismo poderá levantar sua capacidade de atração e manutenção deste patamar pós-Copa, gerando bilhões em receita às comunidades e ao Brasil. A segurança nacional terá um projeto ambicionado por décadas e politicamente não realizado, em função da necessidade de assegurar a segurança a todos, integrando estados, municípios e federação conjuntamente, com a segurança internacional. Sem falar de aeroportos, trens de alta velocidade, mobilidade urbana, entre muitos outros temas.

Pelas nossas modelagens para alguns produtos relativos à COPA, calcula-se que o ano de 2014 terá um mês a mais de faturamento no consumo e em serviços, o que representa um acréscimo no PIB de 0,6 a 0,8%. Estimativa consoante às experiências na Alemanha.

A comunicação, um negócio cada vez mais relevante e integrado nas vendas de todo e qualquer produto, terá uma dimensão completamente diferente durante o evento. O investimento na comunicação, aliado ao evento, trará o reconhecimento de milhares e milhões de consumidores. Grandes contas já operam com este cenário.

Portanto, embora os investimentos nos estádios sejam a fundo perdido, em termos de nação, o Brasil recuperará estes investimentos em questão de meses, através das adicionalidades aqui comentadas.

O país está exposto. O Brasil está na luz de ribalta. É a grande chance de chamarmos para nós a atenção para um momento único e especial, de realizarmos mais rapidamente alguns sonhos e conduzirmos os mesmos a um legado para as nossas gerações vindouras.

Aliás, um legado àquelas que estarão no campo, defendendo as nossas cores. Devemos isto a eles, porque nos trazem grandes alegrias.

Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
ingo.ploger@infomoney.com.br