Colunista InfoMoney: O Real cada vez mais forte

Voltou à tona nas últimas semanas a questão do câmbio, mais precisamente as explicações para o movimento recente de apreciação

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Voltou à tona nas últimas semanas a questão do câmbio, mais precisamente as explicações para o movimento recente de apreciação. Digo que voltou à tona, pois até a recente desvalorização, impulsionada quando a crise foi deflagrada, essa era um dos principais temas do noticiário, desencadeando calorosos debates.

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Recentemente, foram divulgados novos estudos por entidades ligadas à indústria indicando que a taxa de câmbio está valorizada, principalmente, por conta da taxa de juros. Na outra ponta, saíram inúmeros economistas afirmando que não seria por este lado, e que a valorização está calcada nos preços das commodities. Na teoria, os dois lados estão certos a depender do prazo em que se avalie. Obviamente, há interesses subtendidos. Mas ao que tudo indica, o Real seguirá na trajetória de valorização.

A indústria, principalmente a parte ligada à exportação, é quem ressurgiu com o discurso sobre a taxa de câmbio. É obvio que quando a taxa de câmbio se desvaloriza, a rentabilidade dessas empresas tende a aumentar, uma vez que seus produtos se tornam mais competitivos (baratos) em dólar. Vale lembrar que essa era uma discussão pré-crise e que foi perdendo força, pois a demanda externa era tão forte que os preços dos produtos em moeda internacional aumentaram (impulsionando a rentabilidade), mesmo com a valorização da taxa que chegou abaixo de R$ 1,7. Posteriormente, as exportações despencaram com a crise, o câmbio se desvalorizou por um período, mas já voltou a apreciar conforme o mau humor da crise começou a se dissipar.

“O setor exportador deveria buscar outros meios de aumentar a competitividade”

Os defensores do câmbio desvalorizado afirmavam que a questão era referente à taxa de juros praticada internamente, a qual realmente era a mais alta do mundo. Mas ela já caiu bastante nos últimos meses. Contudo, a taxa de câmbio também caiu. Todavia é verdade que ela continua a ser uma das mais altas do mundo. E que boa parte do câmbio que entrou no país recentemente veio pelo lado financeiro, isto é na forma de investimento financeiro.

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Entretanto, vale lembrar, que o Brasil foi um dos principais países que menos sofreu com a crise mundial e já está em fase de recuperação. Além disso, em se tratando de oportunidades de investimento (financeiro ou direto) este país também apresenta boas opções, pois tem muito a se desenvolver ainda. Logo, como são poucas as opções de países para se investir no contexto atual (pois ainda estão sentido fortemente os efeitos da crise), este país aparece em destaque.

Pois bem, tem-se então o lado financeiro do câmbio explicando em parte pela taxa de juros e em parte pelas opções de investimento. Mas outra fonte do movimento vem do lado comercial. Por uma idéia bem grosseira, a taxa de câmbio seria a diferença entre os preços dos produtos que exportamos e os produtos que importamos. E a maior parte dos produtos que exportamos são básicos, isto é, são em maioria commodities. No longo prazo essa relação impera e dá o tom dos movimentos.

Dessa forma, como as commodities valorizaram muito antes da crise, nossas exportações também valorizaram muito, assim como o nosso câmbio – pois mais dólares entraram no país pelo lado comercial. Nos últimos meses, os indicadores econômicos começaram a apontar o fim da crise e a demanda pelos nossos produtos parou de cair – recuperando, em alguns casos, pequena parte das perdas. Essa ligeira recuperação dos preços das commodities contribui para o movimento de apreciação do real, não necessariamente no dia de hoje, mas também como expectativa. Pois, quando a economia mundial se recuperar, certamente o preço das commodities voltará a oscilar em patamares superiores aos atuais, o que trará nova apreciação do real. E imaginem quando a exploração do pré-sal estiver a toda…

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Por esses motivos é que se torna muito difícil, a não ser de modo artificial (com grandes perdas para a maior parte da sociedade) ou com uma nova crise, da taxa de câmbio sair dessa trajetória de longo prazo de apreciação. A questão é que o setor industrial e exportador deveria buscar outros meios de aumentar a competitividade de seus produtos, tentando reduzir, por exemplo, o custo Brasil – diminuição da carga fiscal, criação de ferrovias, melhoria na malha viária, diminuição da burocracia, entre outros. Essa realmente seria uma saída mais duradora. Porém, provavelmente com custos políticos e econômicos maiores.

Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
raphael.castro@infomoney.com.br