Colunista InfoMoney: O momento da oportunidade

A máxima de se comprar na baixa está mais do que patente agora. Nesses termos, só podemos então desejar desde já um feliz 2011!

Gil Deschatre

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A Standard and Poor’s colocou o rating de crédito “A-” de Portugal em revisão para eventual rebaixamento, citando incertezas relacionadas ao possível pedido do país por financiamento da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Caso Portugal realmente precise de um programa de suporte externo e caso acreditemos que os credores privados serão subordinados aos credores públicos, ou se as perspectivas fiscais ou de crescimento para Portugal enfraquecerem ainda mais, poderemos rebaixar os ratings de longo e curto prazo”, afirmou a agência de classificação de risco em comunicado. Esse é o maior temor agora, se a crise quiser se estender. Mas a probabilidade ainda parece extremamente baixa, dado o contínuo monitoramento das economias adjacentes que não querem o euro bamba.

Por outro lado, a Espanha vai mal, mas já está providenciando cortes fiscais relevantes. A Itália, que agora está sofrendo a boataria de saúde debilitada, por um lado, é dona de uma imensa dívida (99% líquidos do PIB) e, se observarmos seus preços e salários, veremos que são quase tão sobrevalorizados quanto os praticados na Espanha. Por outro lado, o déficit italiano não é tão ruim e a economia do país não parece estar sofrendo tanto quanto o esperado depois da crise. Portanto, a Europa me parece tranquila depois do caso irlandês.

Então vamos paras as boas notícias. Uma acentuada recuperação nos mercados de metais vai incentivar uma série de novas aberturas de capital no próximo ano, enquanto bancos emprestam mais dinheiro para projetos de mineração, afirmou a consultoria Ernst & Young recentemente. “Estamos muito ocupados avaliando IPOs (sigla em inglês para Oferta Pública de Ações) no momento”, disse Lee Downham, sócio da divisão de mineração da consultoria. “Eu esperaria operações de algumas empresas bilionárias chegando ao mercado em algum momento do próximo ano”, afirmou o especialista durante evento do setor em Londres. É óbvio que isso representa um novo alento no ano que se inicia.

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“A máxima de se comprar na baixa está
mais do que patente agora. Só podemos
então desejar desde já um feliz 2011!”

Outra boa notícia. O estrategista Nicholas Smithie, do UBS, afirmou que os mercados emergentes terão um ano de forte performance em 2011, devido a seis motivos principais: crescimento, valuation, liquidez, poucos investimentos, retorno e força cíclica. “Os emergentes irão brilhar em 2011“, afirma o especialista, prevendo um upside de 53% para o conjunto. Deste modo, Smithie recomenda uma alternância dos pequenos aos grandes mercados, com destaque para Brasil, Rússia e China, os quais tiveram uma performance abaixo da média neste ano. Esses mercados, segundo o estrategista, oferecem um valor significativo, mas estão subvalorizados. Nestes mercados, os setores relacionados ao consumo apresentam uma alta taxa de crescimento e de criação de valor. Assim, os setores de bebidas e alimentos, cuidados pessoais domésticos, bancos e farmacêutico foram eleitas as top picks do UBS. “Permaneça com foco nos nomes domésticos, mas valorize e pague a mais por crescimento”, sugere Smithie.

Também nesses termos, as bolsas passam por uma fase normal de correção e a tendência para o longo prazo continua positiva, aponta Bob Doll, estrategista-chefe da BlackRock. Entre os fatores negativos estão o conflito entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, as preocupações acerca de um aperto monetário na China, a crise da dívida da Europa, incertezas quanto à implantação do alívio quantitativo nos EUA e dados fracos no setor imobiliário. “Ações e outros ativos de risco geraram um retorno sólido na base anual e um alto nível de incerteza sobre a duração dos assuntos aqui discutidos podem compensar o noticiário econômico positivo por enquanto, significando que o mercado pode continuar a se mover de lado ou para baixo nas próximas semanas”, destacou Bob Doll. No entanto, o economista não descarta um possível rali no final do ano, como geralmente acontece. “Nosso cenário básico permanece o de que as forças positivas de uma economia em melhora, ganhos crescentes e valuations decentes compensam as forças negativas de uma potencial elevação no risco de longo prazo”, afirmou. Por fim, Bob Doll indica que os investidores deverão estar atentos para uma boa oportunidade no próximo ano. “Nós acreditamos que a economia global deve ser forte o suficiente para suportar o provável aumento de medidas adicionais de aperto que virão em 2011, e nós vemos qualquer fragilidade nos preços de ações no curto prazo como uma oportunidade para aumentar a exposição, devido ao nosso cenário forte para o longo prazo”, alertou.

Para darmos mais impulso ao enunciado acima, vai também o comentário: a desvalorização recente da bolsa brasileira, que a distanciou de bater o recorde de 73.516 pontos, deve ser encarada com uma oportunidade de compra pelos investidores, analisa Will Landers, gestor para América Latina da BlackRock, maior administradora de recursos do mundo. O Ibovespa voltou a cair na esteira das preocupações com a crise fiscal dos países europeus e até a última terça-feira (13) acumulava uma baixa de 1,76% em trinta dias. “ Esses períodos de correção como os vistos nos últimos dias são uma oportunidade de compra. Não acho que a União Europeia vai se desintegrar”, disse Landers em entrevista a Exame.com. O gestor explica ainda que o anúncio de que o BC americano irá injetar US$ 600 bilhões na economia para reativá-la é positivo, mas que os efeitos nos emergentes ainda vão demorar. Landers explica que a bolsa continua como uma das mais atrativas do mundo. “Não temos mais algumas incertezas no mercado, como a operação da Petrobras e sobre quem ganharia as eleições. Olhamos para a bolsa abaixo de 10 vezes o P/L (Preço sobre Lucro) para 2011, com uma taxa de crescimento esperada para os resultados acima de 20% e perto de 25%. Podemos olhar para mais um ano de resultados positivos para a bolsa”, projeta.

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Como sempre, a máxima de se comprar na baixa está mais do que patente agora. Nesses termos, só podemos então desejar desde já um feliz 2011!!!

Gil Ari Deschatre é professor da FGV e do Ibmec e escreve mensalmente na InfoMoney.
gil.deschatre@infomoney.com.br