Colunista InfoMoney: Janeiro, mas pode me chamar de Agosto

Parecia um daqueles meses de agosto em que a bruxa corre solta nos mercados

Emílio Garofalo Filho

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Foi um “janeiraço” esse mês de janeiro recém findo! Parecia um daqueles meses de agosto em que a bruxa corre solta nos mercados, levando pânico e euforia a investidores, governantes e especuladores de todo o mundo.
A complexidade do quadro pode ser medida pelas seguidas ações do Federal Reserve Bank – o banco central “de lá” – que promoveu duas rebaixas na taxa básica de juros e na taxa de redesconto daquele pais. Uma delas fora do programa de reuniões do chamado FOMC, o Federal Open Market Comitee, o COPOM de lá!

E QUE CRISE É ESSA?

Pelo menos por enquanto, essa tal “crise” não parece uma crise econômica clássica, isto é, uma crise visível nos fundamentos econômicos dos paises relevantes, apesar de ter nascido no coração da mais importante nação do mundo, em termos econômicos, a América, ferida no seu sistema financeiro!
Vale lembrar, instituições financeiras americanas (principalmente bancos) foram – no mínimo – pouco prudentes na concessão de créditos ao sistema habitacional dos EUA, levando a uma “bolha de demanda” de casas e de crédito, que ao explodir gerou uma onda mundial de insegurança. Para gáudio de quem gosta de volatilidade.
Essas instituições, em função do que se convencionou chamar de “risco sistêmico”ou “efeito dominó”, não foram simplesmente submetidas ao facão dos supervisores do sistema financeiro norte-americano, para sucumbir na cova rasa dos incompetentes. Não! Valeu o senso expresso na velha expressão inglesa “to big to fail”, ou, “grande demais pra quebrar”, numa tradução “muito livre”!
E ai foi posta em discussão a própria atuação dos responsáveis por normas e supervisão bancárias na América. Da mesma forma, se questionou se na era Greenspan (antecessor do atual presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke) a redução dos juros aos níveis mais baixos do pós-guerra não teria provocado essa ânsia de concessão de crédito, mesmo a custa de redução grave de “princípios prudenciais” básicos, para compensar a rentabilidade perdida.
Ironicamente, juros muito baixos – sem adequado monitoramento do sistema – teriam “incentivado” a concessão frouxa de crédito, que gerou a crise, cujo combate exigiu nova redução drástica de juros…
A crise é real ou não? Evidentemente tornou-se uma crise real, perceptível nos preços e cotações, revelada nos balanços. Uma daquelas malditas “profecias que se cumprem por si mesmas”, ou seja, tanta gente falou da crise, das quebras de bancos, empresas e países que, mesmo sem ocorrer, acabaram derrubando bolsas, bulindo com preços de commodities e balançando as cotações de moedas.
Em suma, a crise foi mais forte na direção do setor financeiro para o setor real, que o inverso. E é por isso que no mundo inteiro vozes se levantaram, mais uma vez, em defesa de um maior controle dos governos sobre os agentes financeiros.
Claro que ninguém sabe como fazê-lo, mas causa angustia a quem governa saber que operadores de pregão, administradores de fortunas, meninos recém formados e já sentados em mesas de operações, combinam-se a bancos que vez ou outra se esquecem de ser conservadores – como se espera de bancos comerciais e bancos centrais – para agir como fundos de alto risco.
O fato novo é que ninguém conseguiu ainda dimensionar essa crise. Ninguém nega a importância dos EUA no cenário internacional, mas certamente essa importância é diferente – e menor – do que 10 a 15 anos atrás.
O crescimento de outros agentes como os que compõem a união européia, a China, a Rússia, a Índia e os demais paises emergentes relevantes, que estão cheios de reservas, mudou o cenário de uma maneira que ninguém consegue medir. Mas continua inquestionável a liderança dos EUA na formação de opiniões e expectativas.
Os movimentos de Wall Street e do FED valem mais que toda sabedoria econômica acumulada em outras terras, até mesmo nas definições mais comezinhas de qualquer país que não os EUA. A verdade de cada dia (ou o sonho de cada sessão) só aparece quando Nova Iorque surge nas telas de cotações, quando Wall Street começa a trabalhar.

E AGORA?

A história vem sendo reescrita a cada dia, como bem sabe o Conselheiro Acácio. As indefinições dos tamanhos relativos de paises e mercados criaram essa insegurança medida na volatilidade dos mercados, que tende a continuar muito alta, apesar da ação forte do FED, porque a cada dia o mercado descobre “novidades” que ele não sabe avaliar se são ou não importantes.
Pior, como menino, exagera a importância de cada informação, cada boato, cada conclusão propagada nos terminais de informações. E por isso ninguém descansa.
Mas é inegável que o dólar aqui no Brasil continua pressionado para baixo e ninguém mais estranha a hipótese de ser cotado abaixo de 1,70 em curto prazo. Mesmo com a ação diuturna do BC.

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Da mesma forma, ainda que não se possa entender os desígnios dos deuses do mercado acionário, na lógica econômica, o Brasil e a BOVESPA têm tudo para ser beneficiários dessa crise (ou “crise”) nos EUA, por sermos opções óbvias a quem está cansado de investir em terras do Tio Sam.

Ex-diretor do Banco Central, comentarista diário no portal da Intra Corretora e consultor de empresas da EBS-Consult, Emílio Garofalo Filho escreve mensalmente na InfoMoney, às terças-feiras.
emilio.garofalo@infomoney.com.br