Colunista InfoMoney: Em compasso diferente…

Brasil e Alemanha buscam um mesmo objetivo: a inovação; em contrapartida, enquanto um quer se desenvolver, o outro quer emergir da crise

Ingo Plöger

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O Brasil acelera seu crescimento, a Alemanha se recompõe da crise, enquanto a Europa se esforça para dela emergir. Em época não muito distante, este panorama se apresentava de modo oposto. São compassos diferentes. E é nesta circunstância que alemães e brasileiros se encontrarão na XXXVII Comissão Bilateral de Cooperação Econômica e XXVIII Encontro Econômico Brasil-Alemanha.

Uma das locomotivas da Europa, a Alemanha, enquanto se recupera da crise de 2008, é vista como a solução para uma Europa estruturada, sendo testada pela crua realidade dos fatos.

Tempos atrás, a Europa tinha dois compassos econômicos diferentes: países economicamente pujantes e outros nem tanto. Todavia, por consenso político, a Europa foi unificada e passou a ser regida por uma só batuta econômica.

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A crise não perdoa fragilidades, ao contrário, ela as expõe de modo inexorável; Grécia, Espanha, Portugal e outros Estados da União Européia mantiveram seus fundamentos econômicos além da conta europeia, além dos parâmetros de Maastricht, e agora necessitam de drásticos ajustes para que a Comunidade Europeia possa manter sua moeda forte.

Não são apenas esses países, mas a Comunidade como um todo que, tal como Gulliver, está amarrada por centenas de pequenas legislações locais que imobilizam o gigante. Inúmeras concessões feitas ao longo de muitos anos precisam ser revistas para que a economia receba o oxigênio de que precisa, assim como novos impulsos para se reerguer.

As antigas subvenções precisam ser eliminadas, como as da agricultura, que oneram os europeus diariamente em € 1 bilhão, porém beneficiam menos de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) da Europa. Estatais de transporte aéreo, terrestre e marítimo deixaram de ser competitivas e necessitam ser privatizadas. Não há mais espaço para o prestígio nacional em detrimento dos cofres públicos.

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“Brasil e Alemanha
buscam o mesmo
objetivo: inovação”

A Alemanha está sob os holofotes, pois terá que coordenar com a França, Inglaterra, Itália e Grécia os interesses dispersos, mantendo os demais países alinhados. E, durante as crises, a popularidade das lideranças decresce, o que torna o desafio ainda maior para a democracia.

Neste contexto, países como a China, a Índia e o Brasil aparecem como solução do que problema, mas cada um com sua versão peculiar. A China, que é um sorvedouro de produtos básicos, insumos e energia, além de uma alavanca na conjuntura, busca investimentos e oferece um enorme mercado em crescimento.

Já a Índia, que é mais introvertida, tem um mercado que cresce acima de 6% e vem oferecendo bons resultados. E o Brasil, que é o mais sustentável dos três países, tanto politicamente quanto nos âmbitos econômico, social e ambiental, vem crescendo na ordem de 5% a 6%.

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Para alemães e brasileiros, a China é uma solução e uma competição ao mesmo tempo. Não há uma empresa global que hoje não tenha a China em sua carteira de clientes ou em seu portfólio de investimentos.

A China conseguiu superar a Alemanha e em 2009 se tornou o maior exportador mundial, com vendas no valor de US$ 1,2 trilhão, de acordo com o relatório anual da OMC (Organização Mundial do Comércio). E, em certo sentido, as empresas alemãs ajudaram a China a chegar a este patamar. Além disso, a China é um grande competidor da Alemanha no mercado brasileiro: a China exporta para o Brasil máquinas, equipamentos, peças, eletrônicos, instrumentos de ótica e precisão e químicos orgânicos.

Já o Brasil tem a China como seu competidor no mercado alemão para determinados segmentos. Por outro lado, a China é também o maior cliente das exportações brasileiras, tendo importado do Brasil no ano passado US5 20,1 milhões (é o maior comprador do Brasil), tendo superado os Estados Unidos, que passou a ser o segundo maior comprador do Brasil, com um volume de US$ 15,7 milhões em 2009.

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O Encontro Econômico Brasil Alemanha deste ano acontece em Munique, entre os dias 30 de maio e 1º de junho. Marcante é a escolha dos agraciados pelo Prêmio Personalidade Brasil-Alemanha. Pelo lado alemão, o Vice-Ministro Bernd Pfaffenbach e pelo lado brasileiro o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge.

Duas personalidades que atuam em seus países na cooperação ativa com o Brasil e a Alemanha. O fato dos empresários ter escolhido dois ministros evidencia o alto grau de reconhecimento da importância das relações empresa e governo, sendo justo o mérito de ambos, dado o grande empenho nas excelentes relações entre os dois países.

 Em destaque, no encontro, o tema Inovação, Tecnologia e Desenvolvimento. Os eventos terão a presença de quatro ministros alemães: Guido Westerwelle, Ministro dos Negócios Estrangeiros; Rainer Brüderle, Ministro da Economia e Tecnologia; Kristina Schröder, Ministra dos Assuntos da Família, Idosos, Mulheres e Juventude; e Peter Ramsauer, Ministro dos Transportes, Obras e Desenvolvimento Urbano. Durante os dois dias do Encontro,a quadra participará de painéis, grupos de trabalho e conversas interministeriais com seus colegas brasileiros Miguel Jorge, Márcio Fortes, Orlando Silva e Pedro Brito.

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Pela primeira vez, tem-se ao mesmo tempo a realização da Comissão Mista Brasil-Alemanha em Economia e a Comissão Mista Brasil-Alemanha em Ciência, Tecnologia e Inovação. Juntam-se a academia, os institutos de pesquisa desenvolvimento, as empresas e os governos em torno de um tema de grande relevância: a inovação.

Em geral, os portadores de inovação são as pequenas e médias empresas, realizadoras junto às grandes corporações. Iniciativas, Grupos de Trabalho e Painéis versam sobre as cooperações e os interesses de ambos os países. Além da inovação, temas como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, eficácia energética, setor automotivo, portos e logística serão alvo de atenção na agenda do Encontro.

É pela inovação que o Brasil quer vencer as próximas etapas de seu desenvolvimento. É pela inovação que a Alemanha se torna um parceiro indispensável para o Brasil. As estratégias bilaterais, portanto, passam todas pela rota da inovação. Em compasso diferente, mas com objetivos iguais.

Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney.
ingo.ploger@infomoney.com.br