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Neste processo, o investimento assume o papel central não apenas da ampliação da capacidade produtiva, mas também como determinante principal do crescimento dos lucros.
Sob o ponto de vista estritamente produtivo, após certo período de tempo, a acumulação de capital tende a ultrapassar a capacidade de utilização do setor de bens de produção, responsável direto pelo crescimento da economia, fazendo com que os capitalistas passem a acreditar que a taxa esperada de lucro não será suficiente para cobrir novos investimentos.
“Resta-nos esperar que o Estado possa tomar as medidas necessárias para que a fase crítica passe logo” |
Como resultado, observa-se a paralisação dos investimentos que, por sua vez, reduz a taxa de rentabilidade esperada, produzindo capacidade ociosa não planejada que, no limite, gera um processo depressivo e, posteriormente, a crise.
Esta seria a trajetória do sistema se não considerássemos a importância do dinheiro no processo de valorização. Contudo, como sabemos, o investimento vai em busca de novas e sofisticadas formas de financiamentos para dar prosseguimento ao seu circuito de valorização, levando as empresas (e as famílias) a assumirem uma série de dívidas, via ativos financeiros.
O dinheiro torna-se, assim, medida de si mesmo, fazendo com que o conjunto dos ativos financeiros supere o valor dos ativos produtivos, crescendo mais que a produção, o consumo e o investimento, gerando o que poderíamos denominar, segundo Marx, de valorização fictícia do capital.
Neste processo, o crédito e os bancos passam a ter papel destacado no prosseguimento da acumulação capitalista, pois a acumulação financeira passa a ter vida própria, já que parte dela não está ligada à acumulação produtiva, mas ao circuito autonomizado do dinheiro como capital.
O descompasso entre a dimensão produtiva e a financeira cria dúvidas sobre como se sustentarão o pagamento dos ativos financeiros uma vez que estes deixam de ter lastro no setor produtivo.
Deste modo, criam-se as precondições para a deflagração da crise, que se inicia com o declínio do crédito e na posterior liquidação de posições ativas e passivas que se formaram no momento de especulação.
Longe de termos superado a crise, como um ciclo econômico típico apresenta um período de expansão, seguido de uma recessão, de um período de depressão e um movimento de recuperação, resta-nos esperar que o Estado – único agente capaz de atuar na economia, nestas situações – possa tomar as medidas necessárias para que a fase crítica passe logo e possamos ter, de novo, a fase da bonança, com crescimento e desenvolvimento das economias nacionais.
Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, Cid Olival Feitosa escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
cid.olival@infomoney.com.br