Cogna, Yduqs, Ânima, Afya e mais: é a hora da recuperação do setor de educação na Bolsa? Confira as expectativas dos analistas

Itaú BBA destaca em relatório preferência por Ânima e Afya, enquanto possuem recomendação neutra para Ser, Yduqs e Cogna, vendo recuperação mais lenta

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os resultados das empresas de educação do primeiro trimestre mostraram que muitas das estratégias para recuperação em meio à pandemia do coronavírus estão se mostrando acertadas, como o foco no digital e cursos considerados premium (com tíquete médio mais alto). Porém, muitas das companhias ainda têm um longo caminho a percorrer até apresentarem números que realmente empolguem os investidores.

Desta forma, apesar da valorização recente de muitas ações, principalmente com as perspectivas mais positivas para a economia com a aceleração da vacinação – como foi o caso da Cogna (COGN3), com alta de cerca de 10% e Yduqs (YDUQ3) com ganhos de 5% no acumulado de junho -, muitos analistas seguem seletivos sobre quais são os papéis promissores do setor. Apesar da alta recente, COGN3 tem ganhos modestos em 2021, de 0,65%, após cair 59,5% em 2020, enquanto YDUQ3 avança 5,22%.

Os analistas do Itaú BBA reiniciaram a cobertura para as ações do setor de educação com estimativa para oito empresas, em que destacam as oportunidades de consolidação no espaço de graduação médica, o impacto da pandemia nas taxas de admissão de empresas de ensino superior e uma visão geral do ensino fundamental e médio.

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Eles avaliam que os melhores players no setor, atualmente, são Ânima (ANIM3) e Afya (negociada na Nasdaq), mas também temos uma visão construtiva sobre Vitru, Arco e Vasta, esta última subsidiária da Cogna voltada para o fornecimento de conteúdo digital a escolas. Por outro lado, “preferem ficar à margem”, ou ter recomendação neutra, para Yduqs, Ser (SEER3) e Cogna.

Gustavo Miele, Emerson Vieira e Lucca Marquezini, analistas do BBA, ainda veem espaço para consolidação no espaço da graduação médica, apesar dos crescentes múltiplos de fusões e aquisições.

Os analistas apontam que os cursos de graduação em medicina atraíram muitos players nos últimos anos, que encontraram uma importante alavanca de crescimento neste segmento. “Notamos que várias aquisições ocorreram no setor, permitindo que empresas de ensino superior aumentassem sua exposição a este segmento. No entanto, dada a oferta limitada devido a especificações regulatórias, a alta demanda levou a uma elevação de múltiplos de avaliação”, destacam.

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Porém, mesmo assim, eles acreditam que ainda há espaço para novas consolidações, amparadas por consideráveis
oportunidades disponíveis no mercado que poderiam ser alvos potenciais para consolidadores no mercado como a Afya.

No geral, contudo, os analistas esperam que as empresas de ensino superior enfrentem um momento desafiador de ganhos no restante do ano.  “Desde o início da pandemia, vimos empresas de ensino superior lutando com um ingresso menor de alunos”, apontam.

Contudo, essa volatilidade na base de alunos das empresas vem acontecendo desde que as regras do FIES começaram a mudar – desde o início de 2016, Yduqs, Ser e Cogna perderam 26%, 8% e 49% de suas respectivas bases (considerando alunos de graduação e pós-graduação apenas no campus), enquanto a base da Ânima aumentou 37% (mais qualidade levando mais resiliência em meio ao cenário macroeconômico mais complexo).

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Os analistas acreditam que o setor pode continuar lutando com uma menor entrada de novos alunos enquanto as restrições à pandemia continuarem afetando o Brasil, potencialmente afetando o lucro até o final do ano.

Ao fazerem uma análise estimando os passos para a recuperação da taxa de matrícula, os analistas veem que, do ponto de vista relativo, a Cogna terá um caminho mais difícil para se recuperar e voltar aos níveis pré-pandêmicos, de 2019, enquanto
a Ânima deverá ter uma dificuldade menor para tanto.

Mudando de segmento, Miele, Vieira e Marquezini possuem uma visão construtiva sobre o ensino voltado à educação infantil até o ensino médio, destacando que é uma alternativa atrativa no espaço da educação, especialmente diante dos desafios do setor de educação além dos cursos de medicina.

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Eles veem as empresas neste segmento desfrutando de i) fluxos de caixa mais previsíveis em contratos de baixa rotatividade e de longo prazo; ii) um ambiente mais benigno para aumento de ingressos; iii) dinâmica de mercado atrativa devido à ainda baixa penetração dos sistemas de aprendizagem; e iv) mais espaço para crescimento no mercado total endereçável das empresas.

Esses pontos, combinados com as baixas participações de mercado da Arco e da Vasta, de 6,6% e 4,9%, respectivamente, em 2020, são um bom presságio para um crescimento robusto adiante, seja de forma orgânica ou inorgânica. Esta é uma das razões pelas quais os analistas possuem recomendação outperform (desempenho acima da média) para ambas as companhias.

As preferidas do Itaú BBA do setor são Ânima, com preço-alvo de R$ 19 por ação para 2022 (potencial de alta de 54%) e Afya, negociada na Nasdaq e com preço-alvo de US$ 38 (upside de 46,7%). “Acreditamos que a melhor execução da Ânima em seu segmento e o aumento dos lucros esperados proveniente da integração da Laureate podem fornecer alguma resiliência versus outros cases de ensino superior”, destacam. A Afya, por sua vez, apontam os analistas, possui uma posição ímpar no setor, com uma larga avenida pela frente de consolidação no espaço médico-educacional.

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Eles também possuem recomendação outperform para as ações da Vitru, com preço-alvo de US$ 24 por ação (alta de 45,5%), para a Arco, com preço-alvo de US$ 47 (alta de 45,4%) e para a Vasta, com preço-alvo de US$ 16 (ou potencial de alta de 85,2%).

A Vitru, apontam os analistas, possui um modelo acadêmico de educação digital diferenciado, ressaltando que ela é líder no segmento de ensino digital, que está no centro das atenções principalmente com aceleração da tendência no pós-pandemia, sendo que ela deve persistir no próximos anos. “A Vitru combina uma marca sólida e respeitada com um modelo híbrido altamente escalável”, apontam.

A equipe de análise ressalta ainda que a Arco desenvolveu um produto focado em tecnologia que pode entregar educação de alta qualidade em escala, aproveitando uma vasta experiência em metodologias de sucesso para escolas particulares associado a um sólido histórico de  excelência acadêmica. “O desenvolvimento de um conteúdo dinâmico da Arco é um diferencial fundamental em um setor altamente competitivo”, ressaltam.

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Já a Vasta, além de oferecer um grande e reconhecido portfólio de marcas de ensino fundamental e médio privado, possui soluções que incluem tradicionais sistemas de aprendizagem, atendendo também as preferências de escolas parceiras. Além disso, conta com uma equipe de vendas integrada e estratégia diferenciada ao visar buscar clientes por meio de vários canais.

Por outro lado, os analistas do BBA estão mais cautelosos com três ações: i) Yduqs, possuindo preço-alvo de R$ 45 (ou upside de 29,4%) para os ativos, ii) Ser, com preço-alvo de R$ 22 (alta de 20,9%) e iii) Cogna, com preço-alvo de R$ 6 (com projeção de alta de 29,3%).

A recomendação neutra para Yduqs leva em conta a exposição significativa da empresa no segmento presencial, que pode se traduzir em um cenário desafiador para os resultados para o restante do ano. Já para a Ser, além da alta exposição ao segmento presencial, os analistas também destacam que a ação não está mais tão barata aos atuais níveis.

Para a Cogna, os analistas ainda apontam o alto grau de alavancagem da companhia, destacando que a transição para a educação digital é crucial. Eles lembram que, em 2020, a Kroton (braço de ensino superior da Cogna) anunciou uma reviravolta completa que incluiu a otimização do portfolio de cursos e da infraestrutura imobiliária, bem como da estrutura de custos. Além disso, a empresa fechou 45 unidades. “Como uma resposta ao ambiente desafiador para os cursos de graduação presenciais nos últimos anos, o turnaround provavelmente será importante para a Kroton recuperar a lucratividade. A empresa espera que os resultados sejam refletidos já a partir deste ano”, destacam.

Cabe destacar que, enquanto os analistas no geral ainda mostram mais ceticismo com a Cogna, as recomendações divergem para os outros papéis do setor.

Em relatório do final de maio, o Morgan Stanley apontou que, levando em conta os resultados do primeiro trimestre do setor, estão atentos aos preços e às taxas de retenção das empresas de educação. Os analistas afirmam seguirem preferência por papéis expostos a fusões e aquisições, medicina e com exposição ao ensino digital.

Desta forma, os analistas destacam preferência por Afya e Vitru, com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado), mas também possuem essa recomendação para a Yduqs, considerando as companhias os “melhores veículos para navegar pelo ainda complexo ano de 2021”.

Na esteira do anúncio da compra da QConcursos pela Yduqs, os analistas do Bradesco BBI também reiteraram a recomendação outperform para YDUQ3, com preço-alvo de R$ 45. A Qconcursos é uma sociedade 100% digital da área de educação continuada que oferta cursos preparatórios, guias de estudos, simulados e provas para concursos. “Com essa aquisição, a Yduqs ultrapassa a marca de 1 milhão de alunos e amplia seus serviços e sua presença no ecossistema de educação digital”, afirmou a empresa de educação em fato relevante.

Já para a Cogna, os analistas seguem com recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 5,20 (ou alta de 11,6%), avaliando que, no geral, acreditam que os impactos positivos da reestruturação devam acontecer no longo prazo, enquanto os resultados da Vasta e os números de captação da Kroton devam começar a se recuperar com a redução das restrições à mobilidade.

Atualmente, os analistas do Morgan também possuem recomendação neutra para Cogna, com preço-alvo de R$ 6, ou alta de 29%: eles destacam que a reestruturação da Cogna é uma estratégia correta, mas cria ventos contrários de crescimento de curto prazo adicionais, além de verem uma fraca dinâmica de lucros no curto prazo. O valuation ainda é visto como acima dos múltiplos da média histórica e acima dos pares locais. Além disso, preferem operar diretamente com a subsidiária Vasta.

Confira abaixo as recomendações para as ações das empresas do setor de educação de acordo com compilação feita pela Refinitiv com casas de análises que cobrem os ativos:

Empresa Recomendações de compra Recomendações neutra Recomendações de venda  Preço-alvo médio Upside**
Ânima 7 1 1 R$ 15,54 25,32%
Afya* 6 1 0 US$ 26,73 2,14%
Vitru* 6 1 0 US$ 19,34 17,21%
Arco* 7 2 0 US$ 40,17 24,37%
Vasta* 5 2 0 US$ 16,36 91,35%
Yduqs 8 5 0 R$ 41,90 20,96%
Ser 6 5 1 R$ 19,44 5,94%
Cogna 0 12 0 R$ 5,45 16,95%
**empresas cujos ativos são negociados na Nasdaq
*em relação ao fechamento de 17 de junho de 2021

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.