China segue comprando celulose e impulsiona Suzano (SUZB3), mas movimento é sustentável?

Analistas do Goldman Sachs apontam que o nome é o melhor do setor com os preços em alta; relatório aponta, contudo, que preços devem cair no médio prazo

Camille Bocanegra

Setor de papel e celulose (Shutterstock)

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Como esperavam analistas do setor, as compras de celulose da China continuam elevadas e a oferta global segue limitada, mantendo os preços elevados. No entanto, é possível que o aperto diminua no futuro e que isso signifique uma queda nos preços da celulose no médio prazo, conforme aponta relatório sobre o tema elaborado pelo Goldman Sachs.

“Por enquanto, o pulso da China está forte e as compras de celulose apoiam novos aumentos e preço de ações”, analisa o banco, que considera a Suzano (SUZB3) como preferida no cenário. O Goldman Sachs considera que, devido à alavancagem operacional e financeira elevada, o nome é o mais indicado para exposição em um cenário de preços em alta.

No ano, as ações da Suzano acumulam alta de cerca de 12%, ante avanço de 4% do Ibovespa.

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Ainda assim, o nome foi rebaixado por Morgan Stanley há 3 semanas, considerando que o preço BEKP (preço médio da celulose de eucalipto) praticado pela companhia é similar ao de concorrentes. Além disso, a alta recente dos papéis tornou a empresa com avaliação “menos atraente”, de acordo com o banco, com menor potencial de valorização.

Reabastecimento na China

A visão do Itaú BBA é a mesma que apresentada pelo Goldman Sachs, sobre o desempenho das compras de celulose pela China e a melhora do momentum para a commodity.

“O desempenho mais forte foi mais uma vez atribuível principalmente à China, com remessas para o país subindo 42% ano a ano em agosto, mais do que compensando a forte queda de 18% ano a ano nos volumes entregues à Europa Ocidental. O momentum da celulose de mercado melhorou no início do 3T23, com uma recuperação na demanda chinesa apoiando os preços na região”, destaca o BBA.

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O relatório do Goldman Sachs considera que esse aumento de compras da commodity foi motivado por reabastecimento e calcula o potencial de reabastecimento 1 milhão de toneladas só em agosto.

“O reabastecimento que vem acontecendo desde maio foi inicialmente desencadeado pelos preços historicamente baixos da celulose e continuou a ser apoiado pela melhora do sentimento na China e pelos ganhos de participação de mercado da celulose importada”, explica o relatório.

O volume de compras se manteve elevado no final de setembro, apoiado pelo “momentum sazonalmente melhor”, de acordo com o banco. O movimento provavelmente apoiará o aumento do preço para madeira dura e macia, em embarques de outubro, segundo sugere o relatório.

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“Portanto, esperamos que o equilíbrio oferta/demanda mude da atual rigidez para a superoferta. Na ausência de uma melhoria mais significativa nos mercados fora da China, sustentar os preços será um desafio”, ressaltam os analistas.

O BBA, contudo, tem expectativa de que os volumes de celulose para China se mantenham nos atuais patamares no quarto trimestre de 2023, “apoiados pelas fabricantes de papel integradas locais (embora em um ritmo mais lento do que nos meses anteriores), melhor sazonalidade e exportações de papel resilientes”, destaca o banco.

Demanda fraca fora da China

O Goldman reforça que a demanda fora da China continua fraca e que os sinais de uma potencial melhora da demanda na Europa não são encorajadores. Desde o início do ano, os embarques globais de celulose seguem negativos, com -19% na Europa e -9% na América do Norte.

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“Os embarques globais de celulose são mais baixos em 2023 em relação às nossas expectativas de 5 milhões de toneladas por ano de volume incremental, que aumentaria entre o segundo trimestre de 2023 e o primeiro semestre de 2024”, destaca o relatório. O banco comenta que os volumes incrementais mencionados ainda não foram absorvidos pelo mercado.

A visão do BBA é similar, considerando que os volumes de celulose permanecerão menos animadores para os próximos meses, pela indústria de papel mais fraca na região.

“O lado positivo na Europa pode vir de uma sazonalidade mais favorável à frente e da recente queda no estoque de celulose nos portos, embora ainda alto em relação aos números históricos”, pondera o banco. Ainda assim, o Itaú considera que há expectativa de um “melhor momentum” para o mercado de celulose, com melhores preços médios no quatro trimestre que os praticados no terceiro trimestre de 2023.

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” Apesar da demanda ainda fraca na Europa (dado o cenário macro desafiador), os produtores de celulose de madeira dura também anunciaram aumentos de preços para a região. Observe que, de acordo com nossas estimativas, os preços na Europa estão atualmente com um desconto de aproximadamente US$ 55-65/tonelada em relação à China”, diz o BBA, em relação aos preços praticados para o BHKP (celulose de fibra curta, produzida no Brasil por eucalipso, equivalente ao BEKP).

Aliado a esses fatores, está o fato de que não há garantia de que as compras da China continuarão no mesmo patamar e a análise do Goldman Sachs reforça que considera “difícil assumir” que haverá manutenção do volume.