Cemig: nem federalizada nem privatizada, CMIG4 pode ter importante gatilho em breve

Chance de federalização parece menor com nova proposta de renegociação de dívidas do governo federal, enquanto privatização também parece distante; já para o BBI, pagamento de proventos mais altos é provável

Lara Rizério

Cemig (Foto: Divulgação)

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Os últimos desdobramentos com a divulgação da proposta do governo federal de renegociação da dívida estadual diminuíram significativamente as chances de federalização das estatais estaduais mineiras, mais notoriamente Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3), apontam analistas.

Em sua nova proposta de renegociação da dívida pública, batizada de “Programa Juros por Educação”, a ideia é que o governo federal conceda uma redução nas taxas de juros aos estados que usarem 100% ou parte desses recursos em escolas técnicas de ensino médio ou pagarem parte da dívida (10 a 20%). Neste último caso, uma redução de 10% da dívida representaria uma diminuição permanente de 0,5% nas taxas de juro, enquanto uma diminuição de 20% levaria a uma diminuição de 1%.

Essa redução do endividamento poderia ser obtida por meio da transferência de ativos para o governo federal – incluindo participações em empresas estatais, destaca a XP. O ministro Fernando Haddad disse que levaria 60 dias para que essa proposta fosse negociada com os governadores.

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A proposta de federalização é bem diferente da anterior apresentada pelo senador Rodrigo Pacheco, ressalta a XP, uma vez que dava um prêmio de valorização de 50% para os ativos federalizados e não tinha limites.

No caso de Minas Gerais em particular, considerando as três estatais em discussão (Cemig, Copasa e Codemig) e o nível de endividamento estadual (em torno de R$ 160 bilhões), o elemento chave será o valor a ser atribuído à Codemig. Se a empresa for avaliada perto de R$ 20 bilhões, seria necessário incluir Cemig e Copasa ou encontrar uma combinação de ativos que completasse os R$ 32 bilhões, avaliam os analistas.

“Acreditamos que tal negócio pode não ser tão interessante para o Estado, tendo em vista que o valor na economia de juros seria semelhante ao pagamento de dividendos dessas empresas. Portanto, a proposta teria que avaliar a Codemig a patamares mais próximos do limite de 20% para fazer sentido para o Estado e tornaria menos provável a necessidade de venda da Cemig”, apontam os analistas da casa.

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Assim, a proposta parece reduzir a chance de a Cemig ou a Copasa serem federalizadas, uma vez que, além de todos os problemas já falados como direitos à tag along, histórico negativo de federalizações, longa discussão entre diversos agentes, o incentivo financeiro só faz sentido para o estado se a Codemig for avaliada mais perto do limite de 20% definido pela proposta.

Na mesma linha, o Itaú BBA ressalta que a Cemig poderia ficar de fora do acordo entre o governo federal e o de Minas Gerais para resolver a questão da dívida por conta dessa nova proposta. “Estamos monitorando esses eventos de perto e esperamos volatilidade à medida que mais detalhes são revelados”, destacam os analistas do banco.

Com a federalização improvável no curto prazo, mas também vendo uma privatização distante (ou seja, sem nenhuma das duas alternativas “extremas” à mesa), o Bradesco BBI traçou alguns cenários para a Cemig, destacando um possível gatilho positivo à mesa no curto prazo: o pagamento de proventos.

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“A Cemig é uma empresa estatal muito bem administrada e vemos riscos positivos para os dividendos do exercício fiscal de 2024. O rendimento de dividendos da Cemig no ano fiscal de 2024 poderia ser impulsionado por dois eventos extraordinários, fazendo-o saltar para até 11%-12% a partir de uma linha de base de consenso de 7,5%. Isso tornaria o rendimento de dividendos de 2024 da Cemig o mais alto em nossa cobertura, ao mesmo tempo que manteria a alavancagem contida (sem risco para os covenants de dívida)”, apontam os analistas do banco.

Em primeiro lugar, a Cemig poderá vender em breve sua participação de 45% no ativo de geração Aliança Energia para a Vale (VALE3), que detém os outros 55%.

Com base em uma estimativa de valor justo para a participação da Cemig na Aliança (R$ 2,1 bilhões), a Cemig registraria um ganho contábil de aproximadamente R$ 1,0 bilhão, implicando um rendimento extraordinário de 1,8% (assumindo o pagamento histórico da Cemig de 55%), projetam os analistas.

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Em segundo lugar, a Cemig poderá negociar com sucesso uma redução em sua provisão de plano de saúde de R$ 3,4 bilhões para acabar com o pagamento indevido de benefícios a funcionários aposentados. Essa negociação com o sindicato pode acontecer no segundo semestre de 2024 (2S24) e, por exemplo, uma redução de 30% na provisão geraria um ganho contábil de R$ 900 milhões, implicando um rendimento extraordinário de 1,8% (55% payout).

“Em suma, acreditamos que a Cemig pode ser uma boa ideia para investidores que buscam renda”, avaliam os analistas do BBI que, por enquanto, tem uma recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 13, ou potencial de valorização (upside) de 4% em relação ao fechamento de terça-feira (26).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.