Camil (CAML3) tem resultado considerado positivo por analistas, mas por que ações fecharam em queda de 12,88%?

Analistas do Itaú BBA e da XP destacaram o resultado como sólido, mas pressão de alta de juros sobre lucro e realização de lucros impactaram desempenho

Equipe InfoMoney

Getty Images

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A Camil Alimentos (CAML3) reportou na última quinta-feira lucro líquido de R$ 96,8 milhões referente ao primeiro trimestre de 2022 do ano fiscal (março-maio de 2022) , queda de 10,5% no comparativo anual, pressionada pelo aumento nas taxas de juros que afetou o endividamento da empresa após aquisições.

Mesmo com a queda do lucro, os resultados foram vistos como positivos pelos analistas, com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) totalizando R$ 244,6 milhões no trimestre, alta de 33% ante os três primeiros meses de 2021, superando as projeções.

Contudo, a sessão foi de forte queda para os ativos, com o papel CAML3 fechando em baixa de 12,88%, a R$ 9,67. Leonardo Alencar, analista da XP, destaca que o movimento de queda teve mais influência do fluxo, com os investidores aproveitando os resultados para embolsar os ganhos, do que propriamente uma avaliação negativa sobre o balanço, que foi sólido. Segundo ele, a queda dos ativos foi exagerada.

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Para o analista, a pressão sobre o endividamento em meio à alta de juros não deve preocupar. “Os M&As [fusões e aquisições] são positivos, mesmo alavancando um pouco a empresa. No médio/longo-prazo isso será importante para sustentar o crescimento e melhorar as margens, apenas no curto que afeta as perspectivas de lucro líquido e, portanto, de dividendos”, avalia.

O resultado financeiro líquido trouxe despesas de R$ 84,9 milhões, 239,4% acima frente março e maio do ano passado. De acordo com a Camil, esse aumento decorreu, principalmente, dos “efeitos decorrentes do crescimento das despesas com juros sobre empréstimos, devido ao aumento da taxa de juros, e pela variação cambial e monetária no período”.

A receita líquida foi a R$ 2,397 bilhões, 6,2% mais que no primeiro trimestre do exercício passado. A alta da receita foi puxada pela divisão Alimentício Brasil (R$ 1,867 bilhão, alta de 6,4%), com influência positiva do aumento das vendas de grãos e açúcar e a inclusão de massas e café ao portfólio.

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A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) foi de 10,2%, o que representa alta de 2,1 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre de 2021.

Quando comparado ao trimestre imediatamente anterior, o último de 2021, os volumes registrados pela Camil tiveram alta de 7,8%, de acordo com os dados.

Lá fora, a Camil atua no Uruguai, Peru, Chile e Equador, e contou com um incremento em sua divisão internacional, com alta de 43,7% em volume no primeiro trimestre ante igual período de 2021, puxado pelo Uruguai.

O Capex da empresa foi de R$ 28,6 milhões entre março e maio, 37% menos que um ano antes, “principalmente devido à investimentos de manutenção e postergação de projetos de expansão programados no período, decorrente do cenário em patamares elevados da taxa de juro”.

Para a XP, a Camil teve um primeiro trimestre sólido, com receita líquida recorde e 2,4% acima da projeção da XP devido aos maiores preços para o feijão, açúcar e pescado, além de novas fontes de receita como massas e café, e um desempenho surpreendente no Uruguai.

O Ebitda também foi recorde e 6,8% acima da estimativa da XP, com margens na operação brasileira acima da projeção dos analistas, mas abaixo no Internacional.

“Além de um esperado ramp up (forte crescimento inicial) nas duas novas categorias (massas e café), e apesar da persistente escassez de pescado (sardinha), vemos como altamente positivo manter um portfólio de produtos defensivos em um ambiente inflacionário, sobretudo com marcas fortes para defender preços mais altos e sustentar margens mais saudáveis”, avaliaram os analistas da casa.

Eles ponderam que a alavancagem da empresa, aliada a taxas de juros mais altas, pode diminuir suas oportunidades de M&A [fusões e aquisições], já afetando a última linha [lucro].

A XP reitera recomendação de compra em CAML3 com preço-alvo de R$ 14 por ação, ou potencial de valorização de 26% frente o fechamento da véspera.

O Itaú BBA também destaca os resultados como positivos, com o Ebitda ajustado 10% acima da sua estimativa. “O desempenho positivo da margem no comparativo anual e trimestral pode ser atribuído principalmente à melhoria da dinâmica de rentabilidade de grãos, bem como aos resultados iniciais dos novos negócios. Reiteramos nossa visão construtiva sobre o nome”, apontam os analistas do banco.

A recomendação do BBA para a ação é outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 13 (upside de 17%).

Já a Levante Ideias de Investimentos destaca que a Camil apresentou números mistos. Por um lado, teve um crescimento anual de receita tímido, aquém da inflação. Ao levar em consideração a entrada dos segmentos de café e massa junto
com as aquisições internacionais – não existentes na base comparativa –, pode-se ver que esse aumento de receita foi de fato pouco expressivo, na avaliação dos analistas.

No entanto, a expansão da margem bruta, em parte atribuída aos novos segmentos, em especial massas secas, e por uma boa gestão de custos, foi uma boa notícia aos investidores, que puderam ver um crescimento considerável no lucro operacional da empresa.

“Ao levarmos em consideração o cenário desafiador de alta inflacionária, esperamos que parte dos clientes consumidores de marcas premium, caso de diversas submarcas da Camil, acabe migrando para marcas alternativas procurando menores preços. Esse foi um dos principais desafios da Camil pós-IPO, algo que levou a empresa a perder muito em volume entre 2018-2019, resultando em menores margens na época devido aos elevados níveis de custos fixos”, apontam.

Dessa forma, o resultado apresentado pela companhia traz certo conforto aos analistas da casa, uma vez que esta optou por sacrificar parte do seu volume vendido, mas conseguiu apresentar paralelamente uma expansão de suas margens operacionais, voltando a patamares de margem Ebitda na casa dos 10%.

Mas apontou que a piora do resultado financeiro foi um ponto a ser monitorado. “Como pontos de atenção para a companhia, destacamos a piora do resultado financeiro decorrente da elevação da taxa de juros. Como ela precisou se financiar recentemente para efetivar as aquisições que foram consolidadas no seu portfólio, já era esperado vermos uma piora do resultado financeiro nesse cenário. No entanto, ainda vemos a relação Dívida Líquida/Ebitda em 2,4 vezes como um patamar saudável para a empresa neste momento pós-aquisições”, concluem.

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