Governo Trump emite mais um sinal de que pode intervir no dólar – e levar a divisa (ainda mais) para baixo

Após fala de Trump e do indicado ao secretário do comércio, indicado à secretaria do Tesouro também reclamou do dólar forte

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No início de novembro, a tendência para o dólar era de alta por um motivo especial: a eleição de Donald Trump, que surpreendeu o mercado e acendeu as expectativas de políticas mais inflacionistas. Isso fez muitos economistas e analistas de mercado revisarem as suas projeções sobre alta de juros pelo Federal Reserve. Além disso, as políticas protecionistas do então presidente eleito americano aumentaram a aversão ao risco do mercado. E, como já vimos em momentos anteriores, juros mais altos e a aversão ao risco se traduziram na alta da divisa.

Contudo, as últimas indicações do governo Trump deram base justamente para o movimento contrário, sendo reforçadas na última segunda-feira. Ontem, o indicado para ser o secretário do Tesouro do governo Trump – Steven Mnuchin  – fez o dólar recuar fortemente ante as principais moedas, ao mostrar preocupação com um dólar valorizado, prevendo efeitos negativos sobre a economia. A fala de Mnuchin, por sinal, ofuscou na véspera a reação à decisão do governo Trump de retirar os EUA da TPP (Parceria Transpacífico), distanciando o país de seus aliados asiáticos. Desta forma, passou a ganhar ainda mais forças no mercado a expectativa de que o Tesouro poderia começar a intervir no mercado, algo que já passou a ser ventilado dias atrás. 

Vale destacar que, na semana passada, o futuro secretário de comércio exterior dos EUA Wilbur Ross também destacou ver com os melhores olhos um dólar mais fraco ao apontar o protecionismo da China e a possível manipulação de sua moeda. 

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Reforçando os sinais
A fala dos dois indicados do governo reforçaram uma visão já destacada pelo próprio Trump dias antes de assumir o cargo como presidente. Em entrevista ao Wall Street Journal do dia 16 de janeiro, Trump quebrou uma tradição dos presidentes do país ao comentar o patamar do dólar, dizendo estar “muito forte”, o que abalou o mercado de câmbio naquele início de semana. Após a entrevista de Trump, o Credit Suisse destacou que os ruídos políticos continuam como o principal catalisador para a volatilidade do câmbio globalmente.

“Os comentários de Trump foram um ponto importante e, apesar de estarem mais direcionados ao yuan, passam a impressão de que, pela primeira vez desde os anos 1980, poderíamos ver alguma intervenção do governo no câmbio, o que trouxe mais um elemento imprevisível para o mercado absorver”, apontaram os analistas do Credit na última semana. Trump apontou que o dólar está forte em parte por uma desvalorização proposital do yuan pela China. “Nossas companhias não podem competir com eles agora porque nossa moeda está muito forte. E está nos matando todos”, disse.

Trump também minimizou os esforços das autoridades para dar suporte à moeda, afirmando que elas acontecem apenas “porque eles não querem que fiquemos bravos com eles”.  Os economistas do Credit destacaram ainda que, quando somadas às afirmações do conselheiro econômico Anthony Scaramucci, que disse que “precisamos ser cuidadosos com a alta do dólar”, parece ser razoável esperar que o movimento contínuo de fortalecimento do dólar possa estar chegando ao final.

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No mesmo sentido, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos José Faria Júnior, destaca que o dólar está em uma tendência de baixa, testando os R$ 3,15. Além das falas de Trump, Mnuchin e Ross, a atuação do Banco Central nacional ajuda à tendência de baixa, com o rolamento da totalidade dos swaps cambiais (que equivale à venda de dólares no mercado futuro). 

“Na semana passada, sugerimos o início das vendas a partir de R$ 3,22 justamente por temer a queda da moeda após a posse de Trump. Contudo, ainda teremos agenda muito importante até a próxima sexta-feira, dia 3 de fevereiro. Assim, o retorno da moeda em direção a R$ 3,20 a R$ 3,22 indicaria venda novamente”, apontam Faria Júnior. 

Os próximos eventos a serem monitorados pelo mercado são: a discussão sobre a situação grega no Eurogrupo (26), o PIB do quarto trimestre dos EUA (27) e os dados de gastos do consumidor dos EUA (30). Já no primeiro dia de fevereiro, destaque para o ADP e diversos PMIs na Europa, China e Estados Unidos e, principalmente, para a reunião do Fomc. Dia 3, será divulgado os dados do payroll. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.