Como o discurso de Dilma no Senado fez o dólar cair mais de 1% nesta segunda-feira

Analistas destacam que o mercado precifica o impeachment, mas ainda há a expectativa da entrada de um fluxo com o término do processo, o que pode derrubar o dólar

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após o “furacão” de discursos das autoridades do Federal Reserve na última sexta-feira (26), que levou o dólar a disparar até R$ 3,27, a semana começou com a moeda norte-americana avançando mais uma vez contra o real. Porém, encerrado o discurso da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, o dólar comercial virou e passou a cair forte nesta segunda-feira (29).

A moeda fechou esta sessão com queda de 1,21%, cotada a R$ 3,2315 na compra e R$ 3,2323 na venda – mínima do dia -, em um movimento que teve relação com o processo de impeachment. Diante de um fraco volume de negócios, o dólar acaba tendo maior volatilidade, com os investidores começando a se animar com uma possível entrada de fluxo após a saída definitiva de Dilma da presidência.

Segundo Celson Placido, estrategista-chefe da XP Investimentos, a fala de Dilma não teve nenhuma novidade, acabou sendo mais uma vez um discurso defensivo, citando a palavra “golpe” e a ideia de que Michel Temer seria um “usurpador”. Analistas já destacam que o mercado precifica o impeachment, mas ainda há a expectativa da entrada de um fluxo com o término do processo, o que pode derrubar o dólar ante o real.

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José Faria Júnior, diretor de câmbio da Wagner Investimentos, diz que a aprovação do impeachment será um driver importante para derrubar o dólar. Ele lembra ainda o placar que os principais jornais estão fazendo (que contabiliza os votos declarados publicamente pelos senadores), indicando que falta apenas um voto para confirmar a saída definitiva de Dilma.

Para alguns analistas, o dólar não tem muito mais espaço para recuar após acumular perdas de 18% este ano até o momento. Porém, há quem acredite que caso Temer consiga aprovar medidas rapidamente e mostre uma grande força diante do Congresso, a moeda poderá cair para níveis abaixo de R$ 3,00 nos próximos meses, mesmo que não se sustente após o Fed elevar os juros.

Em entrevista à Bloomberg, Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Crédit Agricole Indosuez Brasil afirma que “a princípio, o impeachment já deveria estar precificado, mas não se deve descartar algum efeito nos mercados. Tem espaço para todos os ativos brasileiros”. Para ele, o placar do impeachment deve ter pouca importância para o mercado, mas que o importante vai ser “por um ponto final nesta novela”.

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Por outro lado, é importante destacar que o dólar ainda tem grande relação com o cenário externo, ou seja, novidades envolvendo a alta de juros nos Estados Unidos podem ter grande impacto e até segurar a queda da moeda. Apesar disso, analistas não acreditam que o Fed elevará as taxas antes de dezembro.

Vale destacar que a presidente do Fed, Janet Yellen, disse na última sexta-feira que vê uma melhora no cenário, o que poderia sustentar a alta de juros este ano. Por outro lado, ela manteve um discurso de que é necessário ficar atento aos dados da economia, o que dá ainda mais importância para a divulgação do relatório de emprego no dia 2 de setembro, o que pode trazer volatilidade para o mercado nos próximos dias.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.