E se o BC não intervir no câmbio? Veja até onde o dólar pode cair e os efeitos na economia

A chegada de Ilan Goldfajn para comandar o Banco Central tem feito o mercado testar o dólar para baixo, mas isso não é tão bom para a economia neste momento

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Ilan Goldfajn acabou de ser empossado oficialmente como presidente do Banco Central, mas o mercado já está mudando completamente suas projeções no câmbio por conta das declarações feitas pelo ex-economista-chefe do Itaú Unibanco em sua sabatina no Senado. Agora, a expectativa é que a autoridade monetária pare de intervir e que isso leve também a uma queda da taxa básica de juros. Mas será que isto realmente irá acontecer? Ou melhor, isto é positivo para o mercado?

Em discurso na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, onde foi sabatinado pelos parlamentares, Ilan disse que haverá “respeito ao regime de câmbio flutuante” e também defendeu a reconstituição do tripé macroeconômico, formado por responsabilidade fiscal, controle da inflação e regime de câmbio flutuante, “o que permitiu ao Brasil ascender econômica e socialmente em passado não muito distante”, diz o economista.

Com isso, o mercado entendeu que o novo chefe do BC não deverá intervir no mercado cambial, algo que ocorreu com frequência nos últimos anos com o comando de Alexandre Tombini. Talvez por isso os investidores resolveram “testar” o Banco Central antes mesmo de Ilan assumir: o resultado foi o dólar mergulhar de R$ 3,60 para R$ abaixo de R$ 3,40 do final de maio até o começo de junho. Mas como fica a perspectiva para a moeda com esse novo cenário de atuação do Banco Central?

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R$ 3,30? R$ 3,00?
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, no curto prazo devemos continuar vendo uma forte pressão, o que pode levar a moeda a se aproximar de R$ 3,30 ou mesmo abaixo disso. Mas o mercado em geral agora deve entrar em um “compasso de espera”, ou seja, a ideia é ver não só como será a atuação do BaCen, mas como andará a economia daqui para frente. “O mercado continuará testando a autoridade, mas se a economia começar a dar sinais de melhora, o ajuste virá dos próprios investidores, e não do BC”, afirma.

Enquanto isso, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, afirma que há espaço para uma queda a níveis abaixo de R$ 3,30, mas que isto seria apenas provisório. “A partir de 01 de setembro os swaps irão vencer, na faixa de US$ 9 bilhões por mês. Há também a expectativa por um corte da Selic e a alta dos juros pelo Fed”, lembra ele, ressaltando que se a moeda for até R$ 3,20, isto não irá se sustentar, levando o dólar a fechar o ano entre R$ 3,50 e R$ 3,60.

Já a equipe de produtos estruturados da XP Investimentos vai além e enxerga o dólar testando os R$ 3,00 caso o processo de repatriação de recursos no exterior comece a andar. Isso porque a dificuldade de projetar qual será o impacto de fluxo para o Brasil ainda é muito difícil de prever, por isso mesmo este evento ainda não está fazendo preço no mercado, explicam os analistas da XP.

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Fim das intervenções: pontos positivos…
Apesar de não ser possível prever até onde a moeda irá cair, é unanimidade que, sem o BC, o mercado deverá manter o dólar mais próximo dos R$ 3,00. Segundo Galhardo, o primeiro efeito seria um alívio na pressão inflacionária, que poderia começar a caminhar para a meta. Isso ocorreria porque a queda do dólar reduz o preço de diversos produtos que são importados ou que tem parte de seu custo atrelado a importação de produtos, o que reflete diretamente na inflação final.

Com a inflação menor, o Copom (Comitê de Política Monetária) teria espaço para iniciar a tão esperada redução da taxa básica de juros, a Selic. Com isso, lembram os analistas da XP, o mercado começaria a ver uma entrada de fluxo já que a economia estaria dando os primeiros sinais de uma recuperação real.

Há ainda um terceiro fator positivo, mas neste caso é mais restrito. A equipe da XP lembra que o impacto na Petrobras (PETR3; PETR4) de um dólar mais baixo seria extremamente positivo, já que a companhia tem hoje uma grande dívida em dólar. Segundo a própria companhia, 72,3% de sua dívida total foi contraída em dólar, o equivalente a R$ 325,436 bilhões. Com isso, a companhia poderia ter seu caixa aliviado o que, por ser uma estatal, também traz um impacto positivo no humor do mercado com o governo.

… e pontos negativos
O grande impacto de um dólar mais baixo é na balança comercial brasileira, pressionada pela perda de competitividade das empresas nacionais contra concorrentes estrangeiras. Para Galhardo, esse risco deve deixar o governo atento, podendo até mesmo voltar com as intervenções para evitar que a moeda recue mais do que devia. “É preciso lembrar que a economia doméstica não mudou nada, e a única coisa boa até agora é o superávit da balança comercial”, lembra.

Até o final de maio, o Brasil apresenta um superávit comercial de US$ 19,7 bilhões.

O diretor da Treviso explica ainda que a única “salvação” para o governo seria se a economia realmente começasse a dar sinais de uma recuperação mais consistente. “Se o governo anunciar outras medidas e isto refletir na economia, ajudando nos negócios, então a queda do dólar não seria tão negativo para as empresas, e o BC poderia continuar sem intervir”, explica.

Em geral, os analistas acreditam que o governo teria outras formas de “contornar” este problema com novas medidas, mas isso demandaria muito tempo e que o Congresso colaborasse na aprovação destes ajustes. “Apenas com o que temos hoje, se o dólar realmente cair mais, os efeitos na balança comercial já serão sentidos nos próximos meses, será inevitável”, conclui Galhardo.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.